BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – As baterias Patriot que detectaram drones russos no espaço aéreo polonês, na mais nova crise relacionada à guerra da Ucrânia, foram fabricadas nos EUA. Quem bancou o equipamento, de US$ 1 bilhão (R$ 5,4 bilhões) a unidade, no entanto, foi a Alemanha. O país já é o maior doador de armamentos a Kiev, desbancando justamente os americanos.

A informação foi fornecida pelo ministro da Defesa, Boris Pistorius, durante audiência no Bundestag, o Parlamento alemão, horas depois do episódio na Polônia. A Alemanha é “agora a maior apoiadora, com os valores que incluímos no Orçamento, que alcançam aproximadamente € 9 bilhões (R$ 56,3 bilhões)”, declarou o ministro, nesta quarta-feira (10), em Berlim.

Um novo mecanismo da Otan distribui armamentos que, apesar de fornecidos pelos EUA, são financiados pelos países da aliança militar ocidental. A nova realidade é resultado das decisões de Donald Trump. Mesmo antes de reassumir a Casa Branca, em janeiro, o presidente americano ameaçava o grupo com uma desidratação financeira caso os outros integrantes não elevassem seus gastos com defesa à marca de 5% do PIB.

Ainda que percebida como mais uma medida de caráter ambíguo do presidente americano, que flutua entre bravatas e elogios a Vladimir Putin, a maior parte dos países europeus se viu instado a fazê-lo pelo que classificam de questões existenciais. A invasão russa à Ucrânia, que caminha para o quarto ano, é vista como uma “ambição imperialista” do líder russo, como declarou a chefe da União Europeia, também nesta quarta, em discurso no Parlamento Europeu.

Ursula von der Leyen anunciou € 6 bilhões de investimento na indústria de drones da Ucrânia, “que já comprovou sua engenhosidade” no setor. Foi um dos poucos momentos de seu discurso anual, o Estado da União, em que a política conservadora alemã, em choque com partidos europeus à esquerda e à direita, foi apenas aplaudida.

Alegando que “a Europa está em uma luta” e precisa assumir a responsabilidade por sua própria defesa, Von der Leyen declarou que o financiamento para a indústria bélica europeia pode chegar a € 800 bilhões nos próximos anos. “A primeira fase, de € 150 bilhões (R$ 936,6 bilhões), teve adesão plena de 19 países-membros. Estamos estudando como dar um bônus a quem comprar equipamento da Ucrânia.”

Fazendo referência à visita que fez há dez dias à “linha de frente” da guerra, os países que estão próximos às fronteiras de Rússia e Belarus, Von der Leyen defendeu uma ideia dos países bálticos de formar uma “parede de drones” no leste europeu capaz de responder “em tempo real” a qualquer tipo de agressão ordenada por Moscou. “Isso não é uma ambição abstrata, mas sim alicerce de uma defesa com credibilidade… que responda em tempo real, que não permita ambiguidades sobre intenções territoriais.”

Agora maior financiador da Ucrânia, o governo do primeiro-ministro alemão, Friedrich Merz, descreveu a presença de drones russos no espaço aéreo polonês como uma “ação imprudente”. “Faz parte de uma série longa de provocações na região do Mar Báltico e na ala oriental da Otan. O governo alemão condena veementemente esta ação agressiva da Rússia.”

Merz, que durante a campanha eleitoral, no começo do ano, chegou a defender o fornecimento de mísseis intercontinentais a Kiev, é um dos líderes europeus mais intransigentes em relação à guerra. Seu primeiro ato de governo foi liberar € 500 milhões (R$ 3,1 bilhões) em ajuda militar à Ucrânia, que estavam retidos pelo gabinete do antecessor, Olaf Scholz.

Ao Parlamento, Pistorius, o ministro da Defesa, mostrou afinação com os planos de Bruxelas. Disse que o objetivo agora é fortalecer a indústria bélica e a defesa aérea ucranianas “e manter todos a bordo nesse apoio”.