SÃO PAULO, SP E BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – A Aegea, maior empresa privada de saneamento do Brasil, diz sonhar com a possibilidade de assumir o comando da Copasa numa eventual -e cada vez mais provável- privatização da estatal mineira de água e esgoto.
Com interesse declarado no ativo, o grupo antecipa que deve estudar o projeto com o mesmo afinco que dedicou à desestatização da Sabesp, processo que acompanhou de perto até a reta final, mas optou por não apresentar proposta no leilão.
“Vamos para outra universidade. Outra dedicação grande”, afirma Radamés Casseb, CEO da Aegea, em entrevista à Folha de S.Paulo.
Segundo ele, um dos motivos que faz a Copasa atrair tanto o interesse da companhia é o tamanho do mercado de saneamento em Minas Gerais: o maior em número de municípios atendidos. Além disso, Radamés diz que a Copasa é uma referência no setor, lembrando que a estatal mineira foi uma das poucas a “romper a barreira” da abertura de capital.
“Poder competir por isso e poder sonhar em usufruir da competência que está implantada lá, junto com a nossa, e atender os mineiros é um sonho”, afirma o CEO. “Mas a jornada é longa ainda. Vamos estudar, vamos esperar, ver as decisões, preparar para o estudo”, acrescenta.
A discussão sobre a venda da companhia avançou na Assembleia Legislativa de Minas Gerais nos últimos dias.
O governo de Romeu Zema (Novo) aposta em duas propostas: uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que dispensa a necessidade de referendo popular para desestatização da Copasa e um projeto de lei que trata da privatização da estatal de saneamento.
Promessa antiga da gestão estadual, o tema andou no Legislativo nas últimas semanas, com a necessidade de o estado repassar recursos ao governo federal em troca da redução nos juros da dívida no âmbito do Propag (Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados).
A oposição diz que o estado possui outros recursos para repassar à União e defende que seja mantida a obrigatoriedade de que os mineiros sejam ouvidos para o aval à privatização das estatais -o que inviabilizaria a desestatização da Copasa neste ano, segundo o presidente da Assembleia Legislativa de Minas, Tadeu Leite (MDB).
A gestão mineira prevê arrecadar mais de R$ 4 bilhões com a venda de sua posição na estatal de saneamento.
Para facilitar a tramitação, incluiu na PEC do fim do referendo apenas a Copasa, e não outras estatais, como Cemig e Gasmig, e atrelou os recursos da privatização ao Propag. A expectativa da base do governo é aprovar a PEC do fim do referendo ainda neste mês e o projeto de privatização na sequência.
Em evento no final de agosto, o presidente da companhia mineira de saneamento, Fernando Passalio, disse esperar que o governo de Minas Gerais conseguisse avançar essa etapa política da privatização da companhia até outubro, o que permitiria que o processo fosse concluído em 2026.
Questionado sobre as expectativas da Aegea para um “sinal verde” do parlamento mineiro, Radamés diz que a companhia tem participado das interações públicas sobre discussão de modelo, mas que não tem uma proximidade quanto às conversas políticas. “O time está muito focado na fase dos estudos técnicos.”
Em outra frente das conversas sobre a Copasa, uma equipe de representantes do BTG Pactual, de André Esteves, foi a Belo Horizonte em meados de agosto para se reunir com deputados mineiros sobre o projeto. Dias antes, o próprio Esteves já havia se encontrado com Zema em São Paulo.
No último dia 29, a gestora Perfin, que tem o BTG como um dos controladores, comprou ações da Copasa. Na ocasião, a companhia informou ter adquirido mais 230 mil ações ordinárias da empresa (0,06% do capital social) via dois fundos, aumentando sua participação para 5,01%. Na mesma data, também foram adquiridos instrumentos derivativos que permitem à Perfin comprar mais 5,12% da estatal mineira por um preço já fixado.
Contatado, o BTG disse não ter interesse na compra da Copasa. O banco, contudo, atua diretamente em processos de privatização. No caso da Sabesp, por exemplo, foi uma das instituições que estruturaram a transação a pedido do Governo de São Paulo.
Já a Perfin afirmou que “avalia todas oportunidades de infraestrutura e considera a Copasa uma boa empresa em um setor que necessita de muito capital e investimentos para atingir a universalização”. Segundo a gestora, há a possibilidade de investimento atual na empresa culminar na participação no processo de privatização.
Desde a compra dos derivativos, o preço das ações da Copasa já subiram 6%, impulsionado pelo avanço da pauta na assembleia mineira.
Também chamou atenção de quem acompanha a possível privatização da Copasa o fato de o fundo Perfin ser sócio da Aegea na Corsan, antiga estatal de saneamento do Rio Grande do Sul -a empresa foi privatizada em 2023. Até por isso, alguns deputados especulam que o BTG, ou o próprio fundo controlado pelo banco, possa vir a formar um consórcio com a Aegea, como fez há dois anos.
A PROPOSTA DO GOVERNO DE MINAS DE REPASSE DE ATIVOS À UNIÃO
**Cálculos apresentados em maio pelo vice-governador, Mateus Simões**
– Codemig (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais), estatal com direitos de nióbio: US$ 4 bilhões (R$ 23 bilhões) a US$ 6 bilhões (R$ 34,4 bilhões)
– Posição acionária na Cemig privatizada: R$ 7 bilhões
– Recursos da privatização da Copasa: R$ 4 bilhões
– Recursos com securitização da dívida ativa: R$ 3 bilhões
– Imóveis a serem repassados à União: R$ 2 bilhões
– Créditos da lei Khandir e compensação: R$ 2 bilhões