SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A mineradora australiana St. George, que tem projetos de terras raras e nióbio em Minas Gerais, anunciou nesta quarta-feira (10) uma aliança com uma das principais fornecedoras de materiais magnéticos para a indústria de defesa dos Estados Unidos. O anúncio acontece em meio ao interesse do governo americano em diminuir a concentração deste mercado na China.

Segundo a St. George, a americana REalloys vai avaliar os minerais de terras raras do projeto da mineradora em Araxá (MG), incluindo amostras de oxalato de terras raras -um produto da concentração do minério que contém os elementos.

Hoje, a única mineradora de terras raras em operação no Brasil, a Serra Verde, também faz a concentração do minério, ainda que o processo adotado para isso seja distinto.

Caso a avaliação ateste a qualidade do minério extraído pela St. George, a REalloys pode assinar contratos antecipados de compra com a mineradora que englobam até 40% da futura produção. Esses contratos são fundamentais para o andamento dos projetos de pequenas mineradoras, uma vez que permitem a formação de caixa antes da entrada em operação. Também ajuda essas mineradoras na obtenção de crédito, outro desafio encontrado por executivos com atuação no Brasil na cadeia de minerais críticos.

O memorando de entendimento divulgado nesta quarta, no entanto, não prevê obrigação formal para que a empresa americana assine contratos antecipados com a mineradora, mesmo se os elementos analisados passarem no teste. A expectativa das partes é que o processo de análise e de uma eventual assinatura de contrato dure 120 dias.

Ainda assim, a St. George pontua que a aliança também é importante, porque a REalloys ajudará a mineradora a otimizar o fluxograma do processamento do mineral, com o objetivo de produzir um produto mais adequado para a fabricação de ímãs. Essa parceria pode envolver a avaliação de novas tecnologias, inclusive aquelas patenteadas pela empresa americana.

A REalloys é uma produtora integrada de materiais de ímãs de terras raras para mercados estratégicos dos EUA. Alguns de seus principais clientes são o Estoque Nacional de Defesa dos EUA, a Base Industrial de Defesa dos EUA e a Base Industrial Nuclear dos EUA -todos ligados ao governo americano. Suas operações estão localizadas em Ohio.

Já a St. George é uma mineradora ainda pré-operacional listada nas Bolsas de Sydney. Seu principal interesse é extrair nióbio em Araxá, um outro mineral crítico, mas o projeto também conta com a extração de minerais com elementos de terras raras. Após o anúncio desta quarta, as ações da empresa valorizaram 11% na Bolsa de Sydney.

Na semana passada, a mineradora divulgou resultados que apontam “grande possibilidade de aumento do potencial” de produção de nióbio e terras raras em suas reservas. A companhia também afirmou ter confirmado uma nova área com terras raras de alto teor há cerca de um quilômetro a leste do recurso atual, com indícios de volume significativo de mineralização rasa -o que tende a baratear os custos de extração.

Antes das novas sondagens, dados indicavam que os recursos do projeto somavam 40,6 milhões de toneladas de minério (entre medidos, indicados e inferidos) com 4,13% de terras raras e 41,2 milhões de toneladas de minério com 0,68% de nióbio. Os novos valores ainda não foram divulgados.

Com a aliança firmada, a St. George coloca um pé nos EUA e outro na China. De acordo com dados de março, os chineses são donos de 10% da empresa, atrás apenas da americana Itafos, que detinha o projeto antes dos australianos. Além disso, os chineses já têm contratos de compra antecipada de nióbio com a mineradora australiana -a China é o principal consumidor de nióbio no mundo.