SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar registra queda nesta quarta-feira (10) com os investidores atentos ao quarto dia de julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF (Supremo Tribunal Federal) por tentativa de golpe de estado.
Às 10h52, a moeda norte-americana caía 0,44%, cotada a R$ 5,411. No mesmo horário, a Bolsa tinha alta de 0,69%, a 142.608 pontos.
O desempenho do Ibovespa acompanha a alta de bancos brasileiros, como Banco do Brasil, e da Vale impulsionada pela valorização internacional do minério de ferro.
O mercado do dia permanece atento ao julgamento de Bolsonaro no STF. A Primeira Turma do STF retomou a análise do processo com o voto do ministro Luiz Fux, que votou três vezes para anulá-lo.
Os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino votaram nesta terça-feira (9) para condenar os oito réus em julgamento por todos os crimes pelos quais são acusados: abolição do Estado democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, associação criminosa, dano qualificado contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.
Dino apontou que pode aplicar penas mais leves aos ex-ministros Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira e ao ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Alexandre Ramagem, por entender que houve menor participação dos três.
O julgamento deve terminar na sexta, quando está prevista a leitura da sentença. Fora o ministro Fux, faltam os votos de Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.
O julgamento de Bolsonaro promete impactar a relação comercial entre Brasil e EUA. Quando Trump anunciou a tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros em julho, ele vinculou a decisão, entre outros pontos, a uma suposta “caça às bruxas” que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) seria vítima.
Ministros do STF dizem esperar uma escalada de ataques de Donald Trump contra eles por causa do julgamento.
Nesta terça, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que o presidente americano aplicou tarifas e sanções contra o Brasil para proteger a “liberdade de expressão” e que o país não terá medo de usar o “poder econômico e militar” para defendê-la.
Para Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, a conclusão do processo do ex-presidente Bolsonaro deve dificultar uma reaproximação entre os países. “Pode gerar novas sanções e tarifas, o que aumenta a percepção de riscos de ativos brasileiros e tende a prejudicar o real”, afirma.
O mercado também avalia o resultado da inflação divulgado na manhã desta quarta, que apresentou deflação (queda) de 0,11% em agosto, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O resultado refletiu a baixa dos preços da energia elétrica com o desconto temporário do bônus de Itaipu.
É a primeira redução mensal do índice oficial de preços do país em um ano. A queda anterior, de apenas 0,02%, ocorreu em agosto de 2024.
A deflação de 0,11% é a maior em quase três anos, desde setembro de 2022, quando o recuo havia sido de 0,29%. À época, o resultado refletiu redução tributária do governo Jair Bolsonaro (PL) às vésperas das eleições presidenciais.
Dados da economia americana também continuam no radar, com investidores intensificando as expectativas por um corte de juros dos EUA pelo Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos) no próximo dia 17.
O índice de preços ao produtor (PPI) dos Estados Unidos caiu 0,1% em agosto na comparação com o mês anterior, após a alta revisada de 0,7% em julho, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (10) pelo Departamento do Trabalho americano.
O resultado veio bem abaixo da previsão entre economistas, que era de uma alta de 0,3% . No acumulado de 12 meses, o PPI teve alta de 2,6% em agosto, mostram os dados.
Segundo a ferramenta CME FedWatch, operadores precificam 88% de chance do banco central reduzir a taxa de juros americanas em 0,25 ponto percentual 12%,de uma redução de 0,50.
No mês passado, o chair do Fed, Jerome Powell, sinalizou um possível corte na taxa de juros nas reuniões do banco central dos EUA em 16 e 17 de setembro, mas evitou se comprometer.
Analistas projetam novos recordes para a Bolsa brasileiras nos próximos dias, com a economia dos EUA no radar.
“O cenário atual permanece favorável à continuidade da tendência de alta, com o próximo alvo apontando para os 145.800 pontos”, afirmou a equipe de grafistas da Ágora Investimentos, em relatório a clientes.
A equipe do Itaú BBA também reforçou o otimismo. “O Ibovespa está em tendência de alta no curto e médio prazo, e segue em direção aos 150.000 e 165.000 pontos numa visão de médio prazo”, disse.
De acordo com João Duarte, especialista em câmbio da One Investimentos, a combinação entre juros altos no Brasil e expectativa de flexibilização monetária nos EUA mantém o real relativamente bem posicionado, ainda que sujeito à volatilidade.