PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – Mulheres representam 29% do total de empregados de empresas que exportam para a China e 34,4% das companhias que importam para o países, segundo estudo do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) em parceria com o Ministério do Desenvolvimento lançado nesta quarta-feira (10) com dados de 2022.
Apenas 16,5% das exportadoras e 27,3% das importadoras tinham maioria feminina entre os empregados naquele ano. Elas representavam cerca de 2,5 milhões de funcionários nessas áreas, e eram mais expressivas nas empresas que compram da China (1,9 milhão) do que naquelas que vendem para o país (608 mil).
Desde o início da série histórica, em 2008, o ano de 2022 foi quando as empresas que vendem para o país asiático tiveram o pico de funcionárias, com avanço de 5,1 p.p. (pontos percentuais). Já no caso daquelas que compram da China, o pico ocorreu em 2015. Ao longo dos 14 anos, a participação delas cresceu 4,5 p.p.
O contraste com as importações, que respondiam por cerca de 68% das mulheres empregadas em firmas que comercializam com a China, se dá pela variedade das empresas que atuam na área, ativando uma uma cadeia que atinge o comércio, varejo, distribuição e logística, de acordo com o documento.
Para Camila Amigo, uma das autoras do estudo e analista internacional no CEBC, o cenário não é exclusivo das trocas comerciais com a China, e se repete em outros parceiros. “As exportações brasileiras para a China são concentradas em commodities agropecuárias e minerais de setores altamente mecanizados, de baixo encadeamento produtivo e tradicionalmente masculinos”, diz.
Além de ser minoria nas companhias, elas também enfrentaram desigualdade salarial, recebendo cerca de 30% a menos que os homens. Caso trabalhassem na exportação, sua remuneração média era de R$ 3.854,31, valor superior aos R$ 3.522,74 recebidos por aquelas que atuavam nas importações com o gigante asiático em 2022.
O dado revela um cenário de maior desigualdade do que a média brasileira, em que mulheres ganham em média 20,9% a menos do que homens, segundo o Relatório de Transparência Salarial do Ministério do Trabalho e Emprego com dados de 2024. A estimativa do governo é que caso houvesse equidade salarial haveria uma injeção 95 bilhões na economia brasileira.
“As exportações, baseadas em setores mais intensivos em capital e qualificação, apresentam salários médios mais elevados para trabalhadoras, sustentados por políticas estruturadas de remuneração de grandes empresas. Já as importações oriundas da China oferecem uma média salarial mais baixa, uma vez que as mulheres atuam em funções com menor exigência de qualificação”, afirma o documento produzido pelo CEBC.
As exportadoras tiveram o menor crescimento em equiparação salarial de homens e mulheres se comparadas aos outros principais parceiros comerciais. O aumento foi de 8,8 p.p., enquanto o EUA lidera com 12,4 p.p., e a UE aparece em segundo lugar, com 11,7 pontos. Nas vendas para o Mercosul e outros países da América do Sul, os aumentos foram de 11 e 10 p.p., respectivamente.
A representação delas na estrutura sociedade das empresas também é baixa. Neste caso, dados de 2024 mostram que mulheres respondiam a 15,4% dos sócios das exportadoras e 21,2% entre as exportadoras.
“O principal gargalo é a baixa presença de mulheres em posições de decisão”, diz Amigo. “Além da sub-representação nos cargos de empregados, a falta de influência na tomada de decisões estratégicas torna os avanços mais lentos e limitados.”
Segundo os autores, o cenário apresentado no estudo representa uma combinação de desigualdades estruturais, a sub-representação feminina em cargos de liderança e a menor valorização de funções tipicamente exercidas por mulheres.
“Os dados revelam que, embora haja avanços pontuais, a presença feminina em empresas inseridas no comércio sino-brasileiro ainda é limitada. O cenário reforça a necessidade de políticas empresariais e públicas voltadas à promoção da equidade de gênero em setores ligados ao comércio exterior”, afirmam os autores.
Amigo acrescenta ainda que embora seja notável o crescimento de políticas de equidade, os setores que lideram a pauta bilateral, como agronegócio, mineração e petróleo, ainda apresentam baixa participação feminina. “Essa barreira estrutural faz com que os avanços sejam mais lentos, porque base de inclusão é reduzida, mesmo com esforços institucionais em andamento.”
A China é o principal parceiro comercial do Brasil. Em 2024, foi o destino de 28% das exportações e 24% das importações. A participação do país asiático nas vendas para o exterior cresceu 26 p.p. e nas aquisições aumentou 22 p.p. entre 2000 e 2024. Nos dois casos, houve queda na participação dos Estados Unidos, da União Europeia e do Mercosul.
“O protagonismo da China como origem das compras das empresas importadoras nacionais resulta da diversificação e da segmentação das importações vindas do país, que permitiram a inclusão de empresas de todos os portes”, segundo o relatório.