SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A pesquisadora brasileira Tatiana Coelho de Sampaio, professora doutora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que fez a descoberta da polilaminina, medicamento que se mostrou capaz de reverter lesões medulares em humanos, trabalhou 25 anos em silêncio junto com uma equipe de biólogos para o feito.
Agora, ela diz que não tem mais o direito de ser conservadora e vai divulgar os resultados de seus estudos e a comprovação da eficácia do fármaco.
“Esperar é relativamente fácil para mim, mas, a gente precisa agora avançar, ir para frente. Foi isso que me deu a coragem de fazer essa divulgação. Sou muito conservadora, com a ideia de dizer ‘temos aqui um medicamento novo que serve para isso’. É difícil, é uma responsabilidade muito grande”, afirma Tatiana.
Ela segue dizendo que o acúmulo de dados, informações e comprovações da pesquisa a fizeram vir a público. “Não tenho mais o direito de ser conservadora. Então, nesse momento, tenho que me arriscar. Agora a ideia é juntar forças para a gente ir para frente, conseguir dar um passo a mais”.
Pós-doutora pela Universidade de Illinois, nos EUA, Tatiana, que é formada em ciências biológicas pela UFRJ com mestrado em biofísica pela mesma instituição, defende que a ciência não pode se restringir ao método e que precisa dialogar com o mundo real.
“Não tem como impedir, como eliminar todas as possibilidades de risco. Em algum momento, tem uma decisão que tem que ser tomada com base na pergunta se vale a pena. Nesse momento, a gente extrapola os limites que a ciência pode alcançar e precisa realmente de um posicionamento mais completo, uma avaliação mais humana da realidade.”
O laboratório Cristalia, que já investiu R$ 28 milhões no desenvolvimento da polilaminina, tenta a liberação de um teste clínico mais amplo, a ser realizado em dois hospitais públicos de São Paulo, o Hospital das Clínicas e a Santa Casa. As tratativas estão em negociação com a Anvisa desde 2022.
Em pesquisas realizadas no âmbito de estudos, autorizadas por órgãos éticos de acompanhamento, a aplicação do medicamento, feito diretamente na medula de pacientes que sofreram traumas como acidentes, quedas, violência e que tiveram lesão medular, os resultados foram tidos como “extraordinários”.
Oito voluntários que receberam o antídoto tiveram seus quadros de paraplegia e tetraplegia revertidos parcialmente ou totalmente. O medicamento já passou por validação fora de seu laboratório de origem e também foi amplamente testado em animais, sempre com resultados muito positivos, segundo os pesquisadores.
A ideia inicial é que a polilaminina seja aplicada em pacientes com lesões agudas, que aconteceram há no máximo três meses.
“A prioridade hoje é fazer um estudo clínico regulatório [em negociação com a Anvisa] com essa droga que é produzida pela empresa Cristalia e comprovar a segurança em humanos. A partir daí, a injeção intramedular. Não há nenhuma razão para fazer mal, mas a gente precisa verificar. Essa é a prioridade.”
Embora no período de testes científicos pessoas com lesões medulares antigas tenham passado pela aplicação da polilaminina e ganhado novos movimentos, esse grupo ficará para um segundo momento no processo de averiguação do medicamento, que pode demorar ainda cerca de três anos para chegar ao mercado.
“Nós precisamos comprovar a segurança em humanos, o que vai ser feito nos casos agudos, que é onde a gente tem a expectativa de ter os melhores resultados. Um outro braço é o estudo clínico veterinário para tentar identificar qual seria a melhor abordagem para os casos crônicos [com lesões mais antigas]. Dependendo do caso, podemos imaginar estratégias melhores.”