SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um grupo com 17 associações e entidades de bairros tenta convencer o Metrô a retomar o plano original da futura linha 20-rosa, com cinco estações na avenida Faria Lima, que hoje já conta com uma parada que leva o nome da via no Largo da Batata, em Pinheiros.

Pelo projeto atual, a linha terá duas estações na via que é considerada um dos principais corredores econômicos de São Paulo e de bares e restaurantes: Tabapuã e Jesuíno Cardoso.

Segundo essas associações, nos primeiros planos para a linha, ela margeava a Faria Lima, assim como faz a linha 2-verde na avenida Paulista. O Metrô não confirma. No traçado atual, ele se aproxima do miolo dos bairros.

As associações reclamam da retirada de estações no entorno da Faria Lima —na rua Pedroso de Morais e na avenida Rebouças— e da inserção uma nova parada na rua Teodoro Sampaio.

Já uma integração com a estação Faria Lima, segundo o Metrô, é inviável por restrições geológicas e limitações de geometria do traçado.

De acordo com a estatal, estudos técnicos indicaram recentemente uma nova localização para a futura estação Teodoro Sampaio, que será entre as ruas Dr. Virgilio de Carvalho Pinto e Cardeal Arcoverde, já avançando pelo miolo de Pinheiros. Lá está programada conexão direta com a futura linha 22-marrom.

Essa alternativa, diz o Metrô, permitirá a conexão com a linha 4-amarela na estação Fradique Coutinho, já próximo aos Jardins.

“A luta é para prevalecer o bom senso. Desviar a linha rosa de um dos principais eixos de movimentação da cidade é um erro grave”, afirma Fernando Sampaio, presidente da associação Ame Jardins.

Com 33 km de extensão, a linha 20-rosa atualmente está em fase de elaboração de projeto básico. Quando pronta, vai conectar os municípios de Santo André e São Bernardo do Campo, no ABC, à zona oeste de São Paulo, passando pelas regiões de Lapa, Pinheiros, Vila Olímpia, Itaim Bibi e Moema.

A expectativa é que mais de 1,3 milhão de passageiros passem pela linha diariamente, segundo o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos). A previsão é que a obra comece em 2027.

“A nova proposta desconecta a linha de áreas de alto fluxo e comprometendo seu potencial de captação de usuários”, diz a Ame Jardins, que engloba os bairros jardins América, Europa, Paulista e Paulistano.

As associações encomendaram estudo de viabilidade técnica para a defender a manutenção de cinco estações na Faria Lima. Ele contempla aspectos operacionais, econômicos, socioambientais, urbanísticos e de acessibilidade.

“A alternativa [com cinco estações] se destaca claramente pela forte concentração de empregos e atividades comerciais nas proximidades das estações Pedroso de Morais e Rebouças, potencializando deslocamentos pendulares [casa-trabalho] e impulsionando o desenvolvimento econômico”, diz o estudo.

O consultor em mobilidade urbana Sérgio Avelleda, ex-presidente do Metrô em 2011 e 2012 e um dos responsáveis pelo trabalho encomendado pelas associações de bairro, afirma que a estação Faria Lima foi construída sem percalços no início dos anos 2000 e que seria possível contornar eventuais problemas com solo.

“Mostramos que esse traçado vai captar mais demanda”, afirma Avelleda. Segundo ele, o Metrô já teve acesso ao estudo.

O trabalho aponta ainda que a estação Fradique Coutinho, da linha 4-amarela, não possui condições mínimas para integração com a linha 20, como previsto, e defende que isso seja feito na atual estação Faria Lima.

Sem mencionar o estudo, o Metrô diz que na etapa atual de revisão técnica do anteprojeto, são avaliados ajustes como reposicionamento de estações, com base em critérios técnicos de engenharia e geotecnia. “Essas análises podem levar à revisão das áreas inicialmente previstas para desapropriação.”

POLÊMICA NA VILA MADALENA

Um grupo de moradores da Vila Madalena, contrários à construção da estação Girassol, prevista para a rua Purpurina, se reúne para debater supostos problemas urbanísticos que uma parada da linha 20-rosa poderá provocar no bairro da zona oeste.

“Não somos contra o metrô, inclusive sou usuária dele. Mas [a estação] vai trazer uma especulação imobiliária enorme ao bairro”, afirma a empresária Beatriz Torres, moradora na Vila Madalena e uma das líderes do movimento.

Ela cita o Plano Diretor aprovado no ano passado, que permite a construção de prédios altos em um raio de 700 metros de estações de metrô e trem. “Hoje, o bairro é um mix de casas e prédios. Com essa estação, a vila vai ficar sem essas características”, diz.

A proposta divide opiniões e provoca polêmica nas redes sociais, com moradores e comerciantes favoráveis à mais uma estação de metrô no bairro, que já conta com uma parada da linha 2-verde, cerca de 2 km distante da rua Purpurina.

Em nota, o Metrô diz que a futura estação Girassol foi definida no início da elaboração do anteprojeto de engenharia, etapa que antecede o projeto básico e que já tem licenças aprovadas.

Para a companhia, a justificativa para implantação é fundamentada em amplos estudos técnicos, que apontam a necessidade de atendimento em uma área com alta densidade de moradores e empregos, onde o transporte por ônibus pode ser mostrar mais insuficiente diante dos congestionamentos crescentes.