SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ser descoberta pela autora de novelas Rosane Svartman foi o motor de uma grande mudança na vida da paulistana Haonê Thinar, 33. Foi a autora quem lhe deu o primeiro papel numa novela —no caso, “Dona de Mim” (Globo), onde a atriz vive Pam, uma mulher divertida, centrada e batalhadora.

Na sinopse até consta o fato de a personagem, assim como a própria atriz, ter perdido uma das pernas na infância, mas a trama da personagem não gira em torno disso. “Sempre falei para a minha mãe que eu só faria um trabalho de atuação quando minha amputação não fosse uma questão, e esse papel foi tudo o que sempre quis por não reforçar deficiência”, diz ela à reportagem.

A Pam é tudo o que sonhei e joguei para o universo. Afinal, apesar de não ter uma perna, é uma pessoa comum, que trabalha, se relaciona, tem amizades, se frustra, se diverte”, afirma a atriz, que desde muito nova já fazia teatro.

Haonê conta que a exposição, além de deixá-la mais famosa, também fez com que ela se tornasse inspiração. “Tenho recebido mensagens. Uma delas de uma moça cuja filha teve um tumor e estava no processo de amputação. E, quando a menina me viu na TV, ficou maravilhada e se sentiu representada”, emociona-se.

A amputação de Haonê aconteceu quando ela tinha apenas 9 anos, época em que descobriu um câncer. Era um tumor maligno. Segundo ela, havia a possibilidade de continuar com a perna, mas o membro pararia de crescer. Foi então que precisou fazer uma escolha.

“Tudo o que acontecia, a minha mãe me falava: que eu passaria mal, que teria picos de humor, que meu cabelo iria cair. Decidi que precisava amputar e que isso não impediria que eu me tornasse artista. Foi a melhor decisão”, relembra.

Após a cirurgia, ela conta que ficou em choque, mas que o susto durou pouco tempo. Mesmo assim, a amputação lhe rendeu muito bullying na escola, o que a fez parar com os estudos momentaneamente. Ela diz acreditar que todo esse turbilhão de emoções a fez amadurecer rápido.

“Não tenho um bom relacionamento com meu pai, mas um dia ele falou algo que levo: que, se eu não me aceitasse, eu não seria aceita por ninguém. Então, coloquei na cabeça que eu seria assim e pronto. Comecei a me aceitar de dentro para fora”, diz. “Hoje, não uso prótese porque ela me mascara. Se tivesse duas pernas, não sei se minha personalidade seria como é.”

Desde que tinha 15 anos, ela começou a se virar. Já foi modelo, trabalhou com recursos humanos e até se caracterizava como zumbi para noites de terror em parques de diversão e em festas de Halloween. Foi passista e jogou capoeira.

Foi durante uma viagem ao Rio de Janeiro para apresentar a peça “Meu Corpo Está Aqui” que ela conheceu Rosane Svartman. Desde então, além de entrar para o elenco da Globo, gravou o filme “90 Decibéis”, cuja estreia está programada para este mês.

“Cheguei ao Rio com uma bebê [Lavínia] de 15 dias, e eu tinha tirado os pontos da cesária havia 10 dias. O ritmo começou frenético. É meu marido quem fica em casa e me dá todo o suporte”, diz ela, que também tem Felipe Gabriel, de 6 anos. “Quando tenho um tempinho corro para eles, mas agora não quero mais parar de atuar.”

Enquanto aguarda mais oportunidades na TV, Haonê já projeta seu próximo passo: quer fazer um monólogo sobre sua vida. “Estou estudando essa possibilidade com diretores e amigos para ver se consigo patrocínio. Tenho muito mais coisas para contar”, afirma.