PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – O atual ministro dos Exércitos (equivalente ao ministro da Defesa) da França, Sébastien Lecornu, 39, foi nomeado pelo presidente Emmanuel Macron como o novo primeiro-ministro do país, apenas um dia após a queda do premiê anterior, François Bayrou.

Derrotado em uma moção de confiança no Parlamento na véspera, Bayrou entregou o cargo a Macron no nesta terça-feira (9), no Palácio do Eliseu. Cumprida essa formalidade, o presidente francês havia dito que anunciaria rapidamente um novo nome.

O imediatismo, que contrasta com a demora de Macron para indicar os dois premiês anteriores (uma semana para Bayrou, e dois meses para Michel Barnier), tem a ver com o agravamento da crise política e da insatisfação popular. Uma paralisação nacional foi convocada nas redes sociais para esta quarta-feira (10).

Um dos cotados, o político de direita Xavier Bertrand, havia descartado aspirar ao cargo, mas revelou no início da tarde que Lecornu havia sido encarregado de montar um ministério. A assessoria do ministro da Defesa do governo Bayrou chegou a desmentir a informação.

A escolha de Macron foi duramente criticada pela oposição. Para Marine Le Pen, a líder da Reunião Nacional (RN), de ultradireita, Lecornu “é o último cartucho do macronismo”. Jean-Luc Mélenchon, chefe da França Insubmissa (LFI), de ultraesquerda, qualificou de “triste comédia” a troca constante de primeiros-ministros. Ambos defendem a renúncia do presidente.

Considerado bom negociador, Lecornu só deve anunciar seu ministério depois de conversar com os partidos. Ele assume com a difícil tarefa de formar uma maioria em um Parlamento polarizado e aprovar um orçamento austero para 2026, missão em que Bayrou fracassou.

Nas horas que antecederam a indicação de Lecornu, a imprensa francesa enfatizou uma qualidade supostamente decisiva do novo premiê, aos olhos de Macron: não ter ambições presidenciais para a eleição de 2027. Mesmo impedido pela Constituição de concorrer a um terceiro mandato, Macron não queria um primeiro-ministro que usasse o cargo como trampolim político.

Em 2005, aos 19 anos, Lecornu foi o assistente parlamentar mais jovem da Assembleia Nacional. Em 2014, foi eleito prefeito de Vernon, pequena cidade de 25 mil habitantes na Normandia, no norte da França, pela UMP (União por um Movimento Popular), na época o principal partido de direita.

Na eleição presidencial de 2017, abandonou o candidato da direita, François Fillon, para aderir à campanha centrista de Macron. Tornou-se um dos aliados mais fiéis do atual presidente. Em 2019, ganhou pontos junto a Macron quando propôs um “grande debate nacional”, ajudando a debelar a crise dos “coletes amarelos”, movimento de protesto contra um aumento dos combustíveis que paralisou a França durante meses.

Lecornu também é próximo da primeira-dama francesa. Alguns jornais o chamam de “chouchou” (xodó) de Brigitte Macron.

Em meio à troca do chefe de governo, a França se prepara para o movimento Bloquons Tout (“Vamos bloquear tudo”), a paralisação nacional que deve atingir parcialmente serviços como transportes, escolas e alguns serviços públicos. O receio de tumultos levou à mobilização excepcional de 80 mil policiais em todo o país.

O Bloquons Tout surgiu de forma descentralizada nas redes sociais e foi encampado pela ultraesquerda. Curiosamente, nasceu como reação à política de austeridade orçamentária proposta por Bayrou, e agora vai acontecer com o novo primeiro-ministro nomeado.

Um incidente de intolerância religiosa contribuiu para aumentar a tensão social na véspera da paralisação nacional. Pelo menos nove cabeças de porco foram encontradas na manhã desta terça em frente a mesquitas de Paris e arredores. Em cinco delas o nome “Macron” estava escrito com tinta azul.

Embora o presidente e o ministro demissionário do Interior, Bruno Retailleau, tenham condenado o aparente ato islamofóbico, Mélenchon, da ultraesquerda, acusou Retailleau de estimular atos contra a comunidade muçulmana.

O gabinete de Bayrou durou apenas nove meses. Seu antecessor, Barnier, um político de direita, governou por apenas três meses. Nos últimos dois anos, a França teve quatro primeiros-ministros.

Bayrou havia pedido à Assembleia Nacional que aprovasse uma moção de confiança a seu governo. Foi derrotado por 364 votos a 194. Ultraesquerda e ultradireita somaram seus votos para derrubar o premiê, cujo governo minoritário contou apenas com o apoio dos deputados de centro e da direita moderada.