SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quase metade (48%) dos alunos de 8º e 9º ano do ensino fundamental da rede pública de ensino brasileira dizem não encontrar um ambiente seguro na escola.

A conclusão é de uma pesquisa inédita feita pelo Ministério da Educação, que ouviu mais de 2,3 milhões de estudantes dos anos finais do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano). Os resultados foram divulgados nesta terça-feira (9) no Relatório Nacional da Escuta das Adolescências nas Escolas.

A pesquisa ouviu 24% dos quase 10 milhões de adolescentes matriculados em turmas do 6º ao 9º ano de escolas públicas das redes municipais e estaduais do país, entre os dias 13 e 31 de maio doe 2024.

Uma das principais conclusões do documento é de que o significado da escola é diferente para os estudantes em diversos momentos da adolescência.

Em geral, entre os alunos do 6º e 7º anos há uma maior proporção dos que reconhecem o ambiente escolar como um espaço de aprendizado, acolhimento, socialização e participação. Para os alunos mais velhos, de 8º e 9º anos, essa percepção cai.

Entre os alunos das duas primeiras séries, 36% disseram não enxergar a escola como um ambiente seguro. Nos dois próximos anos, esse índice sobe para 48%.

Além disso, 75% dos alunos de 6º e 7º disseram ter pelo menos um adulto em quem confiam e 58% afirmaram se sentir acolhidos pelos adultos dentro da escola. Esse índice cai para 66% e 45%, respectivamente, nas duas séries seguintes.

Pela regra nacional, os alunos devem entrar no 6º ano aos 11 anos de idade e concluir essa etapa com 14 anos. No entanto, o documento ressalta que é preciso considerar que uma parcela significativa dos alunos ouvidos pode não estar cursando o ano correspondente à idade adequada.

Dados do Censo Escolar de 2023 apontam que 19% dos alunos da rede pública dos anos finais do ensino fundamental estavam com atraso escolar de dois anos ou mais.

Nos dois grupos, cerca de 80% dos estudantes disseram ter amigos com quem gostam de estar por perto.

Entre os adolescentes de 6º e 7º anos, 71% consideram que os profissionais da escola respeitam e valorizam os alunos, mas apenas 39% afirmam que os estudantes valorizam os professores.

Já entre os alunos de 8º e 9º anos, esses números caem para 56% e 26%, respectivamente.

O relatório aponta que esse reconhecimento dos adolescentes, de que há problemas nas relação com os docentes, revela um desafio preocupante. “Mas também pode ser um estímulo para que sejam estabelecidos novos diálogos e vínculos mais colaborativos na escola”, diz o documento.

Sobre as diferenças de percepção dos jovens conforme a idade, o relatório destaca que diversas pesquisas apontam que as pessoas vão ficando mais críticas com o passar dos ano, ou seja, que os adolescentes podem adotar uma postura mais questionadora conforme crescem e avançam na trajetória escolar.