SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar registra alta nesta terça-feira (9), com os investidores atentos à retomada do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF (Supremo Tribunal Federal) por tentativa de golpe de Estado.

Às 10h32, a moeda norte-americana subia 0,24%, cotada a R$ 5,429, em linha com o exterior. No mesmo horário, o índice DXY, que compara a força do dólar com outras seis divisas do mundo, subia 0,53%, a 97.491 pontos.

No mesmo horário, a Bolsa também tinha alta, de 0,19%, a 142.084 pontos. A alta no preço do minério de ferro no mercado internacional reflete no pregão, fazendo os papéis da Vale subirem.

O pregão do dia promete ser marcado pelo julgamento de Bolsonaro. A Primeira Turma do STF retoma os trabalhos nesta terça com o voto do ministro Alexandre de Moraes, relator do processo que acusa o ex-presidente e outros réus de tentativa de golpe de Estado.

Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin, respectivamente, completam a ordem de votação nesta segunda semana de julgamento. Com três votos, há maioria para condenação ou absolvição.

O julgamento de Bolsonaro promete impactar a relação comercial entre Brasil e EUA. Quando Trump anunciou a tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros em julho, ele vinculou a decisão, entre outros pontos, a uma suposta “caça às bruxas” que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) seria vítima.

Ministros do STF dizem esperar uma escalada de ataques de Donald Trump contra eles por causa do julgamento.

“A conclusão do processo do ex-presidente Bolsonaro dificulta uma reaproximação entre Brasil e EUA e pode gerar novas sanções e tarifas, o que aumenta a percepção de riscos de ativos brasileiros e tende a prejudicar o real”, afirma Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

Dados da economia americana também continuam no radar, com investidores intensificando as apostas para a decisão do Federal Reserve no próximo dia 17, que deve cortar juros.

Dados divulgados na última sexta mostraram que a economia dos EUA criou 22 mil postos de trabalho em agosto, abaixo dos 75 mil postos da mediana de pesquisa da Reuters com economistas. A taxa de desemprego, por sua vez, ficou em 4,3%, em linha com o projetado.

Para Mattos, da StoneX, os dados consolidaram a expectativa de diminuição da taxa de juros nos EUA e indicam um ritmo de corte mais acelerado nos próximos meses.

“O banco central americano deve dar mais peso ao risco de uma desaceleração da atividade econômica e começar um ciclo de corte de juros. O ‘payroll’ reforça a perspectiva do Fed cortar juros na decisão desse mês e diminuir nos próximos 6 a 12 meses mais rapidamente”.

De acordo com João Duarte, especialista em câmbio da One Investimentos, a combinação de diferencial de juros atrativo e expectativa de flexibilização monetária nos EUA mantém o real relativamente bem posicionado, ainda que sujeito à volatilidade.

No mês passado, o chair do Fed, Jerome Powell, sinalizou um possível corte na taxa de juros na reunião do banco central dos EUA em 16 e 17 de setembro, mas evitou se comprometer.

Na segunda-feira (8), o dólar encerrou a sessão quase estável, com variação positiva de 0,04%, a R$ 5,417, em sessão de agenda econômica relativamente esvaziada. Já a Bolsa caiu 0,59%, a 141.791 pontos, após fechar em 142 mil pontos pela primeira vez na sexta-feira (5).

Na avaliação de Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, há uma série de fatores que influenciaram o desempenho ruim dos ativos brasileiros nesta segunda.

“Você tem um reflexo das manifestações de políticos criticando o Poder Judiciário no 7 de Setembro, a carta que o Brasil mandou para os Brics pedindo união contra o protecionismo americano e a informação de que os EUA estariam se preparando para enviar mais cartas aos bancos exigindo explicações financeiras sobre a aplicação da Lei Magnitsky”, afirma.

Apesar do desempenho ruim da Bolsa nesta segunda, a expectativa é que o otimismo visto na última sexta se mantenha nos próximos dias.

“O cenário atual permanece favorável à continuidade da tendência de alta, com o próximo alvo apontando para os 145.800 pontos”, afirmou a equipe de grafistas da Ágora Investimentos, em relatório a clientes.

“Esse movimento [de alta recorde no Ibovespa na última sexta] se ancora principalmente nas expectativas de corte de juros nos Estados Unidos, após dados de empregos mais fracos do que esperado na semana passada terem repercutido nos mercados de títulos do tesouro americano”, explica Lilian Linhares, sócia e head da Rio Negro Family Office.