RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Responsável por uma das operações que levou à prisão do ex-deputado Tiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, na última quarta-feira (3), o secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi, afirmou que apesar de manter uma relação institucional com o ex-parlamentar, tentava evitá-lo.
TH é acusado de compra e venda de armas, drogas e equipamentos de tecnologia para o Comando Vermelho. Também é acusado de usar policiais para captar informações e ajudar a facção.
Nesta segunda (8), o TRF-2 (Tribunal Regional Federal da Segunda Região) manteve a prisão de TH e dos outros acusados.
A defesa de TH, representada pelo advogado Rafael Faria, divulgou nota em que considera as acusações “absurdas”. O advogado diz ainda que “existe um claro movimento de perseguição política”.
“Como secretário, sempre mantive distância. O cargo de secretário é técnico, você tem contato com políticos, mas eu o evitava. Era até constrangedor vê-lo em eventos de segurança. Isso me deixava muito mal, mas não tinha como impedir, é uma relação institucional”, afirma Curi à Folha de S.Paulo.
“Nunca me enganou, para mim é surpresa zero.”
TH foi preso após investigação conjunta das polícias Civil e Federal, da Promotoria do Rio e da Procuradoria. Duas operações deflagradas no mesmo dia miravam envolvimento de agentes públicos com o Comando Vermelho. Além de TH, outras 14 pessoas foram presas.
Curi foi delegado da DCOD (Delegacia de Combate às Drogas, hoje Delegacia de Repressão a Entorpecentes) e liderou a primeira investigação que levou TH Joias à prisão, em 2017. À época, TH foi acusado de captar informações com policiais sobre o planejamento de operações e repassá-las a traficantes. Ele ficou nove meses preso e respondia em liberdade.
TH foi candidato a deputado estadual pelo MDB em 2022, recebeu pouco mais de 15 mil votos e terminou como segundo suplente. Após a morte de Otoni de Paulo e a manutenção de Rafael Picciani em uma secretaria estadual, TH Joias assumiu cadeira de deputado estadual em 2024.
Presidiu a comissão de Defesa Civil na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). Durante pouco mais de um ano de mandato, participou de agendas públicas com a Polícia Militar, como a entrega de viaturas blindadas, ao lado governador Cláudio Castro (PL), e enviou ofícios à PM pedindo reforço policial em bairros da zona norte.
Nas redes sociais, TH tem fotos com o coronel Marcelo Menezes, secretário da PM. Procurada, a corporação não comentou.
No dia 30 de setembro de 2024, TH Joias participou de uma audiência pública que debateu o uso de drones por criminosos. A audiência teve participação de representantes do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) e do secretário de Segurança Pública, Victor dos Santos.
“Já tivemos drones abatidos em operações da Polícia Civil. Em alguns locais temos dificuldade em operar com drone. Há equipamentos de radiofrequência que impedem que o drone sobrevoa determinados locais, interrompendo o contato do operador com o drone. Então é muito grave essa participação dele nesse fornecimento de equipamento, inclusive estando em audiências”, afirma Curi.
As investigações das polícias Civil e Federal levaram a duas operações simultâneas.
A operação Bandeirantes, com a Civil e o Ministério Público estadual, atacou a suposta rede de apoio financeiro e logístico do CV e cumpriu mandatos de prisão contra TH e outras três pessoas: seu ex-assessor parlamentar, Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, acusado de intermediar equipamentos antidrone para o CV, o Índio do Lixão, acusado de fazer a lavagem de dinheiro do CV, e Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, um dos líderes da facção no estado e procurado há mais de uma década. Somente Pezão não foi preso.
A defesa de Gabriel Dias disse que não ia se manifestar porque não teve acesso aos autos. O advogado pediu para não ser identificado. As defesas de Pezão e Luiz Eduardo não foram encontradas.
A operação Zargum, da Polícia Federal, com apoio da Procuradoria e mandados expedidos na Justiça Federal, focou na participação de agentes públicos, entre eles o policial federal Gustavo Stteel, o ex-secretário de Esportes do estado, Alessandro Carracena, e outros policiais militares, acusados de promover vazamento de operações, segundo relatório do Ministério Público Federal.
No núcleo de policiais militares e penais, chamados de “núcleo operacional”, são investigados Rodrigo da Costa Oliveira, Wallace Tobias, Alexandre Marques dos Santos, Wesley Ferreira da Silva, Leandro Alan dos Santos e Kleber Ferreira da Silva.
A defesa de Wallace Tobias afirma que vai pedir nova revogação da prisão, após decisão do TRF-2. “Apesar da percepção inicial de distanciamento de Tobias com os demais investigados, os desembargadores entenderam que ainda é prematura a revogação da prisão”, afirmou o advogado Carlos Salles.
A reportagem não localizou a defesa dos demais investigados.