SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quatro de cada dez foragidos presos com auxílio do Smart Sampa, o programa de câmeras da Prefeitura de São Paulo, estavam na lista nacional de procurados por serem devedores de pensão alimentícia. Isso é o que indicam dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação sobre as detenções nos primeiros seis meses de operação oficial.
Com uso de reconhecimento facial e câmeras até em motocicletas da GCM (Guarda Civil Metropolitana), o programa é uma das principais bandeiras de segurança da gestão Ricardo Nunes (MDB). Os devedores de pensão alimentícia são os foragidos presos mais frequentes, com 512 casos, ou 44,4% dos 1.153 detidos de 21 de novembro de 2024 a 21 de maio de 2025.
Em seguida estão os presos por roubo (153, sendo 13,3% do total), tráfico de drogas (137, e 11,9%), furto (82, com 7,1%), homicídio (47, com 4,1%), lesão corporal e estupro de vulnerável (ambas com 31 detidos e representando 2,7% das detenções).
A gestão municipal afirma que, somados, os crimes graves constituem a maior dos casos e que o Smart Sampa leva sensação de segurança à população.
Os dados da operação foram divulgados pela primeira vez em 18 de junho. Na apresentação pública, porém, ao listar os crimes cometidos pelos presos, a prefeitura colocou uma categoria chamada de “outros”, que era a a mais numerosa. Não havia uma discriminação de quais seriam esses crimes ou infrações.
A reportagem pediu o detalhamento por Lei de Acesso. Os dados mostram que quase a totalidade dos casos enquadrados na categoria “outros” se referia a pagamento de pensão.
O programa tem embalado os discursos da prefeitura no campo da segurança, com uma abordagem linha-dura. “Que os bandidos cada vez tenham mais medo e que saiam da nossa cidade”, afirmou Nunes em um vídeo publicado em seu perfil no Instagram. No Congresso de Prefeitos, ele levou uma pequena central do programa para mostrar o funcionamento a seus pares.
Atualmente com 32 mil câmeras, entre próprias e de entes privados, o Smart Sampa leva a prisões que podem durar minutos entre a leitura de uma imagem de um foragido e uma abordagem da GCM, por exemplo. Parte disso se deve à geolocalização de todas as viaturas da corporação municipal, que são acionadas de acordo com a proximidade dos locais onde houve reconhecimento.
Recentemente, também foram instaladas câmeras do programa em motocicletas da Guarda Civil, assim como nas da Polícia Militar, para agilizar a checagem de placas. Até a manhã desta segunda-feira (8), o programa contava 1.819 foragidos capturados e 3.168 presos em flagrante, além de 86 desaparecidos localizados.
Procurada, a gestão Nunes disse que o Smart Sampa aumenta a sensação de segurança da população e retira criminosos das ruas. “[A prefeitura] repudia qualquer tentativa de descredibilizar um sistema que já contribuiu para a prisão de 1.153 pessoas procuradas pela Justiça. Mais da metade dessas detenções (55,6%) está relacionada a crimes graves, como roubo (13,2%), tráfico de drogas (11,9%), furto (7,1%), homicídio (4,1%), estupro e estupro de vulnerável (3,3%), além de lesão corporal, estelionato, receptação e outros delitos. Qualquer análise que desconsidere esses números de prisões é, portanto, irresponsável.”
A cidade tem vivido quedas nos roubos e altas em furtos, além de um crescimento no número de vítimas de homicídio. No período do relatório, de novembro de 2024 a maio de 2025, os roubos representaram queda de 13,9% na comparação com o mesmo período dos anos anteriores (novembro de 2023 a maio de 2024). Já os furtos tiveram alta de 2,5%. Os homicídios, por sua vez, oscilaram, com alta de 1,3% (303 vítimas no último período, ante 299 no anterior). Os dados são do governo estadual.
Fora os devedores de pensão, os presos por diversos crimes se dividem em pequenas frações em 18 categorias, que incluem crimes como porte ilegal de arma de fogo, sonegação fiscal, adulteração de chassi e condução sem CNH, entre outros. Na resposta ao pedido de LAI, não foi identificado o número absoluto para cada tipo.