SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nesta edição, a promessa de Javier Milei de uma nova era para a Argentina começa a dar sinais de ser um filme já visto no país.

Também aqui: demissões no Itaú e outros destaques do mercado nesta terça-feira (9).

**FILME REPETIDO**

Dólar em alta, bolsa em queda e títulos despencando. O cenário está próximo do que já vimos da Argentina, mas é um pouco diferente daquilo que o presidente ultraliberal Javier Milei prometeu na sua campanha.

As reformas para reduzir drasticamente os gastos públicos e aumentar o estímulo para investimentos não resolveram os problemas econômicos do país em um passe de mágica. E agora?

LADEIRA ABAIXO

A popularidade de Milei caiu.

O aumento da desigualdade e da pobreza no país deixou uma parte da população insatisfeita com o governo —mas, até aí, muitos preferiram esperar para ver como o presidente desenrolaria seu plano.

No mês passado, a divulgação de uma suposta participação da irmã de Javier, Karina Milei, em um esquema de cobrança de propina na compra de medicamentos para o sistema público foi fatal para o apoio de uma parte da população ao presidente.

O QUE MUDOU?

É difícil recuperar a confiança quebrada, já dizia sua sábia mãe. Ainda que não haja nenhum processo que declare Karina culpada, algo se quebrou na visão de quem achava o ultraliberal “diferente” do restante do mundo político.

No domingo, 7 de setembro, o partido de Milei perdeu as eleições legislativas da província de Buenos Aires, o que aumentou as dúvidas que o mercado tinha sobre o futuro do programa econômico do presidente.

O partido de Milei obteve apenas 33,8% dos votos, enquanto a coalizão peronista Força Pátria, liderada pelo governador Axel Kicillof, conquistou 47,2%.

O chefe da Casa Rosada vai com menos apoio para as eleições legislativas nacionais, marcadas para 26 de outubro —essas, sim, muito decisivas para o governo. Sem apoio no parlamento, ele pode ter muita dificuldade em implementar seu programa liberal que pretende virar o jogo na economia do país.

NO VERMELHO

Nesta segunda-feira (8), os títulos em dólar da Argentina e o peso registraram um forte recuo.

13,2% foi a queda no índice S&P Merval, que mede o desempenho das principais ações do país;

3,5% foi a desvalorização do peso argentino, que fechou o dia cotado oficialmente a 1.435 para cada US$ 1;

O risco de investimentos na Argentina subiu nos últimos dias, chegando a atingir 1.000 pontos-base e fechando em 901 pontos —maior patamar desde que o país selou um novo acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), há cinco meses.

Em resumo… temos um país dividido entre:

– Quem acredita na capacidade de Javier Milei de implementar um programa ultraliberal, que mudaria o cenário deficitário do país;

– Aqueles que confiaram nesse projeto em algum momento, mas soltaram a mão do presidente;

– E, por fim, os que se opuseram a ele e apontam os prejuízos sociais das reformas encabeçadas pelo líder.

**ELES ESTÃO DE OLHO**

Você se sente observado? Por quem? Pelo sistema de segurança da sua cidade? Pelas big techs? Pelo governo de um país longínquo? Quem teria interesse em saber o que você anda fazendo?

A resposta óbvia: pelo seu chefe. O Itaú deixou claro que está de olho nas atividades de seus funcionários.

O QUE ACONTECEU?

Cerca de mil colaboradores do Itaú Unibanco foram demitidos nesta segunda-feira, de acordo com estimativa do Sindicato dos Bancários.

Foram dispensados trabalhadores de diversos setores sob a justificativa de incompatibilidades entre a marcação de ponto e a atividade registrada nas plataformas de trabalho durante o home office —é isso mesmo.

Segundo o banco, as horas trabalhadas de fato eram menores do que as registradas.

“Os desligamentos são decorrentes de uma revisão criteriosa de condutas relacionadas ao trabalho remoto e registro de jornada”, afirmou a instituição em nota.

Como eles sabem? Ao todo, o Itaú tem aproximadamente 100 mil funcionários. Muitos deles trabalham de forma híbrida, com alguns dias da semana indo presencialmente ao escritório e outros em home office. Em ambos, é necessário bater ponto de entrada e saída.

A Folha de S.Paulo apurou que o banco monitora as atividades de seus contratados nas máquinas e nos softwares do Itaú.

A produtividade do trabalhador também é medida por meio da memória em uso no computador, quantidade de cliques, abertura de abas, inclusão de tarefas no sistema, criação de chamados, etc.

Alguns demitidos dizem que a acusação não procede e afirmam que muitos tinham avaliações positivas e, inclusive, obtiveram promoções.

R.I.P HOME OFFICE?

O desligamento em massa renovou a discussão sobre a sustentabilidade do teletrabalho em tempos pós-pandêmicos. Cada vez mais, as companhias sentem a necessidade de trazer seus funcionários para o escritório.

Empresas como Amazon, PwC, J.P. Morgan e Deloitte estabeleceram a volta total ao modelo presencial e sistemas de fiscalização de presença.

TÁ LISO, ITAÚ?

Itaú? A demissão, ao menos à primeira vista, não parece ser relacionada a uma crise financeira. O banco vive um bom momento, em termos de operação.

O Itaú Unibanco teve um resultado recorrente gerencial de R$ 11,508 bilhões no segundo trimestre deste ano. O dado representa um crescimento anual de 14,3%.

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

Guerra do delivery. A Amazon anunciou a compra de uma fatia da Rappi, acirrando a concorrência no setor de entregas, também disputado por iFood, 99Food e Keeta.

Caindo na estrada. Conheça os trabalhadores que estão trocando de carreira e se tornando agentes de viagens —sim, essa profissão não acabou e está crescendo no mundo.

Pisando no freio. No Boletim Focus, projeção semanal divulgada pelo Banco Central, economistas encerram sequência de redução na previsão da inflação e diminuem a do PIB.

Vantagem ou prejuízo? Mesmo com os preços caindo, o Brasil aumentou as receitas com a exportação no agronegócio.