SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um motociclista bateu em uma placa de sinalização ao acessar a rodovia Anhanguera, em Louveira (a 71 km de São Paulo). Com o impacto, a pessoa que estava na garupa da moto, de 18 anos, foi arremessada para o meio da pista e morreu após ser atropelada por um caminhão.

Mortes como essa, de ocupantes de motos em acidentes em rodovias que cruzam o estado de São Paulo, tiveram um crescimento de 17% no primeiro semestre de 2025, se comparado ao mesmo período de 2024. Foram 461 óbitos neste ano, ante 392 no ano passado, segundo levantamento feito pelo Detran (Departamento de Trânsito de São Paulo) com exclusividade para a Folha de S.Paulo, com base nos dados do Infosiga (sistema estadual de monitoramento da letalidade no trânsito).

Essa alta ocorre em um cenário de quase estabilidade nas mortes em acidentes nas rodovias do estado. Foram 1.243 vítimas fatais nos primeiros seis meses deste ano —sete a menos do que o registrado no período equivalente de 2024.

No estado, o total de óbitos de condutores e passageiros de motocicletas considerando o perímetro urbano e as estradas teve uma alta bem inferior, de 3,9%, no comparativo dos semestres.

Segundo especialistas, o aumento do uso das motos para deslocamentos cotidianos pelas rodovias, só que em alta velocidade, pode explicar a maior letalidade nessas vias. Em estradas, a velocidade máxima é de até 120 km/h, maior do que nas áreas urbanas.

A cada dez mortes em rodovias paulistas nesse primeiro semestre de 2025, quatro foram de motociclistas, aponta o levantamento. Em 2019, período pré-pandemia, esse percentual representava 29,6% dos casos.

A rodovia Anhanguera, com mais de 450 km de extensão e quatro concessionárias responsáveis pela gestão de trechos diferentes, lidera as estatísticas, com 27 motociclistas mortos no período, 35% a mais que em 2024, quando foram registrados 20 casos.

Em um dos principais trechos, entre São Paulo e Cordeirópolis, passando por Campinas, foram 19 óbitos em 2025 e 11 no mesmo período do ano passado, conforme dados da concessionária Autoban, que diz adotar ações para reduzir os casos.

“A companhia vem realizando constantes campanhas educativas junto aos motociclistas com orientações sobre condução segura, reforçando a importância de não trafegar no corredor, manter distância do veículo à frente e respeitar os limites de velocidade”, diz, em nota.

Já a rodovia Presidente Dutra, que liderava a estatística em 2024, conseguiu reduzir o número de óbitos. Mesmo assim, 23 pessoas em motos morreram no primeiro semestre deste ano no trecho paulista da estrada federal.

“Somente entre janeiro e agosto de 2025, foram realizadas 13 campanhas exclusivas para motociclistas, todas em São Paulo, com 1.150 participantes orientados”, diz a concessionária RioSP.

As rodovias que concentram mais mortes são corredores econômicos com limites de velocidade muitas vezes acima de 100 km/h, que atraem entregadores com motos de baixa cilindrada ou pessoas que trocaram o transporte público pela motocicleta, em meio ao trânsito de caminhões pesados.

Conforme os dados do Infosiga, Itu, município com cerca de 170 mil habitantes na região metropolitana de Sorocaba, teve o mesmo número de mortes que a soma do perímetro rodoviário da capital paulista, com 13 casos.

Destes, dois ocorreram na rodovia Dom Gabriel Paulino Bueno Couto, que liga Jundiaí a Tietê, e que faz parte da Marechal Rondon, que vai até Mato Grosso do Sul.

“Somente no primeiro semestre deste ano, a campanha “Motociclista na Via” abordou diretamente 2.200 motociclistas em ações realizadas ao longo do trecho”, afirma a concessionária Via das Colinas.

Mariana Novaski, coordenadora de dados e vigilância da Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária Global, lembra que nessas rodovias há deslocamentos praticamente urbanos, com circulação cotidiana de pessoas, mas em alta velocidade, o que potencializa a chance de um sinistro grave.

“Um pássaro ou uma pedra que atinja esse motociclista o coloca em alto risco, diferente do que acontece com outros veículos que têm uma certa proteção”, afirma.

Mariana ainda cita que o número de motocicletas, motonetas e ciclomotores cresceu 3% no país de dezembro do ano passado e julho deste ano, contra 1% dos automóveis.

Conforme o Ministério dos Transportes, a frota de motocicletas no estado de São Paulo aumentou 25% na comparação entre o primeiro semestre de 2019, antes da pandemia, e o mesmo período de 2025. O número de todos os veículos registrados subiu 23% no mesmo período.

Paulo Guimarães, CEO do Observatório Nacional de Segurança Viária, aponta ainda a necessidade da reformulação na formação de condutores.

Relatório publicado pelo governo federal em agosto do ano passado mostrou que de 34,2 milhões de proprietários de motos, 17,5 milhões (ou 53,8%) não tinham CNH (Carteira Nacional de Habilitação) para conduzir esses veículos. “São pessoas sem o mínimo contato com as legislações de trânsito”, diz Guimarães.