SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Global Sumud Flotilla, organização que tenta furar o bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza com dezenas de barcos, disse na noite desta segunda-feira (8) que uma das embarcações foi atingida por um drone.

O ativista brasileiro Thiago Ávila, que participa da ação, estava a bordo do navio no momento do incidente, segundo informou sua família à Folha. Ninguém ficou ferido, e não há mais informações sobre a autoria do suposto ataque.

Em publicação nas redes sociais, a organização afirma que a embarcação atingida é uma das principais da flotilha e, com bandeira portuguesa, transporta integrantes do comitê diretor. Segundo a Global Sumud, haverá uma investigação sobre o incidente.

Ainda segundo a organização, todos os seis passageiros e tripulantes a bordo estão em segurança, mas a embarcação, que recebeu o nome “Barco de Família”, sofreu danos no convés principal e no compartimento de armazenamento. O incidente ocorreu nas águas da Tunísia.

“Atos de agressão destinados a intimidar e sabotar a nossa missão não nos dissuadirão”, disse a organização em nota após o suposto ataque. “A nossa missão pacífica de quebrar o cerco a Gaza e manifestar solidariedade para com o seu povo continua com determinação e resolução.”

Entre os nomes públicos que participam da missão estão a ativista sueca Greta Thunberg, que, junto com Ávila, foi presa e deportada por forças israelenses em uma das empreitadas anteriores do grupo, em junho. Ao menos mais 12 brasileiros estão na tripulação.

A Global Sumud divulgou vídeo do momento em que o drone supostamente atinge a embarcação. Nas imagens, é possível ver um clarão, seguido de fumaça. O relógio da gravação marca 0h29 no horário local.

Em entrevista à Folha de S.Paulo antes de a flotilha partir, o major Rafael Rozenszajn, um dos porta-vozes das Forças Armadas israelenses, indicou que o país, novamente, não permitirá que os barcos cheguem a Gaza. “As Forças Armadas vão estar preparadas para garantir que o bloqueio seja aplicado de uma forma absoluta na Faixa de Gaza”, disse ele na ocasião.

As últimas tentativas de abrir um corredor humanitário simbólico por mar foram frustradas pelas forças militares israelenses. Renderam, porém, ações midiáticas e visibilidade ao movimento contra o bloqueio.

Em maio, a embarcação Conscience foi atingida por dois drones em águas internacionais perto da ilha de Malta, às vésperas de levar 80 integrantes e insumos ao território. Na época, funcionários do governo israelense afirmaram que o barco transportava armamentos ao grupo terrorista Hamas, o que foi contestado por uma inspeção maltesa.

Em junho, o veleiro Madleen foi interceptado a 180 km da costa de Gaza com 12 tripulantes, incluindo Greta e Ávila. O brasileiro ficou preso por cinco dias, isolado em solitária e sob maus-tratos, segundo sua família. Após intervenção do Itamaraty, foi expulso do país.

A operação atual foi batizada de Global Sumud -“sumud” pode ser traduzido como “resiliência”. Segundo a organização, 80 barcos de 44 países, com cerca de 700 pessoas, deveriam participar da missão. A organização prevê chegar a Gaza em 13 de setembro.

Desta vez, a flotilha foi organizada conjuntamente pelos coletivos Global March to Gaza, Sumud Convoy, Sumud Nusantara e coalizão Freedom Flotilla. Eles afirmaram ter arrecadado mais de EUR 90 mil (R$ 570 mil) em doações.

Os ativistas argumentam que as rotas terrestres estão controladas por Tel Aviv, o que frequentemente atrasa ou restringe a ajuda, e que o bloqueio a Gaza é ilegal segundo o direito internacional, configurando um castigo coletivo que viola as Convenções de Genebra.

Eles dizem ainda que a estratégia de usar dezenas de embarcações pequenas e descentralizadas, em vez de navios grandes, é mais barata e rápida, está menos suscetível a burocracias e permite distribuir a responsabilidade pela ação.