SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O técnico de informática Carlos Júnior, 29, chegou ao parque Villa-Lobos acusando os efeitos da temperatura, na casa dos 30º C na zona oeste de São Paulo no início da tarde de segunda-feira (8). Antes de achar a quadra central Maria Esther Bueno, animou-se ao encontrar um quiosque da cerveja Heineken, um dos patrocinadores do SP Open, porém se assustou com o preço: R$ 22 a primeira latinha, R$ 17 a segunda, com a reutilização do copo.
Não são valores fora do padrão desse tipo de evento, mas fazia tempo que o Brasil não recebia um campeonato da elite do circuito feminino do tênis -os últimos haviam sido em 2016. O primeiro dia da chave principal do torneio -um WTA 250, que distribui 250 pontos à campeã, abaixo dos WTA 500, dos WTA 1000 e dos quatro Grand Slams- foi, portanto, de aclimatação.
O público ainda se acostumava com o preço dos produtos oferecidos na área de convivência, com a disposição das quadras de piso duro montadas no parque e com o assédio dos cambistas -com bilhetes esgotados, no mercado paralelo, a entrada da sessão diurna saía a R$ 150, e a da noturna era obtida por R$ 300. Acostumava-se também com os novos e promissores nomes do tênis nacional.
“Quero ver a Naná”, disse Carlos Júnior, R$ 22 mais pobre do que estava na chegada, enquanto se refrescava. Ele subiria em seguida para a arquibancada da quadra central para assistir ao jogo de Nauhany Silva, de 15 anos, uma das promessas brasileiras, número 37 do ranking mundial juvenil e 1.206ª no ranking mundial, convidada da organização.
A paulista exibiu seu potencial com bons saques e grande sensibilidade nas deixadinhas. Mostrou também personalidade, surpreendendo a compatriota Carolina Meligeni Alves, de 29 anos. Carol contou com a torcida do tio, o ex-tenista Fernando Meligeni, e de crianças de um projeto social ligado à família Meligeni.
Um dos garotos gritava “Carol” a quase cada ponto, ao que parte da quadra reagia com “vai, Naná”. Cada uma das atletas vibrava ruidosamente, sem o pudor de incomodar a adversária. Ao fim de uma hora e 49 minutos, a adolescente bateu a 237ª na lista da WTA (a associação das tenistas profissionais) por 2 sets a 1, parciais de 6/7 (0/7) 6/2 e 6/0.
“Estava meio dividido, né, mas eu vi que tinha bastante torcida para mim. Eu estava bem feliz, acho que não estava com pressão, não”, disse a vencedora, que sorriu ao recordar o tempo em que frequentava o Villa-Lobos em busca de quadras gratuitas com o pai. “Eu jogo aqui desde muito pequenininha, desde os seis anos. Voltar e ganhar um jogo WTA é muito especial.”
A sequência da jornada na Maria Esther Bueno teve novo duelo brasileiro, mas nas duplas, já com temperatura mais amena, na parte final da tarde. Grande nome do torneio, Beatriz Haddad Maia atuou ao lado de Ana Candiotto. Elas enfrentaram Ingrid Martins e Laura Pigossi (esta medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021), que levaram a melhor: 2 sets a 0, com 6/2 e 7/6 (7/5).
“A gente é muito amiga. Foi muito legal dividir a quadra com ela”, disse Bia, sobre Candiotto. “Ela fez um bom jogo, especialmente no primeiro set, no qual eu não consegui subir o meu nível. Independentemente isso, o SP Open é mais do que isso. Estou feliz com a Ingrid e com a Laura. Fizeram um bom jogo.”
Por fim, entrou em quadra outra atleta de 15 anos, Victoria Barros, 19ª no ranking juvenil e 1.143ª entre as profissionais. Também convidada da organização, a potiguar teve pela frente a norte-americana Whitney Osuigwe, 136ª do mundo, e foi superada por 2 sets a 0, parciais de 6/3 e 6/4 -mas não sem deixar de levantar o público com uma boa variação de golpes.
O primeiro dia de disputa não teve arquibancadas cheias, ainda que os ingressos do torneio estejam esgotados faz tempo. A expectativa é que o público cresça com a estreia de Bia Haddad na disputa principal de simples. Agora 27ª colocada do mundo, a paulista de 29 anos é a cabeça de chave número um do torneio, esvaziado de estrelas internacionais.
Haddad vai entrar em quadra nesta terça-feira (9), contra a italiana Miriana Tona, 246ª na lista da WTA, que obteve sua vaga na chave por meio do “qualifying”. O duelo valerá vaga nas oitavas de final do torneio, no qual a brasileira busca seu primeiro título ano. Ela vem fazendo uma temporada irregular, com 13 vitórias e 24 derrotas até aqui.