SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma lembrança marcante de Iggor Cavalera com o ruído extremo vem de sua época gravando o mítico disco “Roots”, do Sepultura. “A gente foi gravar com o povo Xavante e durante a noite tinha um barulho muito alto, que depois descobrimos ser de um monte de bicho que estava comendo um toco de madeira”, ele explica. “Tem gente que fala que vai pra natureza em busca do silêncio, mas, pelo contrário, a natureza é uma baita barulheira, a natureza é muito ‘noise'”
É esse barulho, o noise enquanto gênero musical, que o artista traz ao Brasil em micro-turnê que passa por São Paulo, Jundiaí e Sabará neste fim de semana. Radicado em Londres há mais de dez anos, sua vinda ao país pode também anteceder uma turnê dedicada ao duo Cavalera Conspiracy, projeto que toca com o irmão, Max. Já um retorno a uma das maiores bandas de heavy metal do mundo, diz o artista, é impossível.
“A gente tem planos de fazer uma tour no Brasil, Max e eu, com o Cavalera, um projeto pelo qual temos um baita carinho. Mas a gente não tem nada a ver com essa história de volta do Sepultura: se alguém tinha alguma esperança de ver a gente ali, a esperança tem de ser zero. O que meu irmão e eu fazemos juntos é com o Cavalera, não com o Sepultura -acabou nossa história lá.”
A apresentação solo de Cavalera no Brasil vem na esteira de seu mais recente projeto coletivo, “Nocturnal Rainforest”, parceria com o sound designer italiano Eraldo Bernocchi e o artista japonês Merzbow -uma das maiores referências do noise. “Eu tinha muitas gravações de campo que fiz na Amazônia, coisa de mata, barulhos, e fizemos esse disco com a ideia de começar nesses barulhos e adicionar camadas até virar algo eletrônico.”
Se à primeira vista parece estranha a presença de um dos maiores bateristas do heavy metal na música eletrônica, basta um olhar e ouvidos mais atentos para notar que o caminho trilhado por Iggor é até natural. Desde a saída do Sepultura, em 2006, o artista vem aprofundando o contato entre texturas digitais, ritmos complexos e barafundas sônicas. É o caso de seus outros projetos de destaque, o Petbrick e o Mixhell -duo em parceria com a artista e sua esposa Laima Leyton.
“A maioria das pessoas que fazem noise vem do hardcore, do punk, do metal, e como eu vim do metal extremo, sempre fui muito bem aceito nesse meio”, diz ele. “O período da pandemia me influenciou muito a experimentar com coisas minhas, parar de guardar coisas no HD, sem me importar se aquilo vai ter 10 visualizações ou um monte de gente pirando com o som.”
O som do noise dialoga com o heavy metal na forma e também multiplica a essência extrema da música de Iggor, fundada no gesto furioso como criador do ritmo. Sua apresentação solo conta com bateria e sintetizadores -não há uso de computadores. “Vai um pouco para o lado do improviso, cada noite é uma surpresa”, ele conta. “Quando você está ouvindo noise, pode ser uma guitarra, a bateria, a voz que está produzindo aquele som, existe um mistério, abre espaço para reflexão.”
A vinda de Iggor ao país também coroa sua participação na Bienal de São Paulo. Em parceria com a esposa e o artista indígena norte-americano Raven Chacon, o baterista assina uma instalação sonora feita em colaboração com membros da comunidade Xavante. “A gente gravou um ritual de passagem dos Xavantes com flautas, cantos, e no fechamento da Bienal haverá uma performance”, explica o artista. “Para mim é muito emocionante trabalhar com os Xavantes porque temos um contato desde a época que fizemos ‘Roots’.”
Mirando no noise mas olhando em retrospecto, Iggor também não vê tanta distância assim entre as ideias que veicula na sua música hoje e no heavy metal, assim como fez nos anos 1990 com o Sepultura. “A gente foi pioneiro de falar de questões ambientais e povos originários naquela época”, lembra ele. “No metal ainda tem gente que não entende as letras, o que a gente escreveu, falam pra não misturar música com política. Como assim? Tudo que a gente faz é um ato político. Teve gente que comprou o disco e não entendeu nada”.
IGGOR CAVALERA EM SÃO PAULO
Quando 9/9, às 20h
Onde Bar Alto – R. Aspicuelta, 194, SP
Preço R$ 300, ingressos em ingresse.com
IGGOR CAVALERA EM MINAS GERAIS
Quando 10/9, às 20h
Onde Teatro Municipal de Sabará – R. Dom Pedro II, s/n, MG
Preço R$ 70, ingressos em sympla.com.br
IGGOR CAVALERA
Quando 12/9, às 20h
Onde Sesc Jundiaí – Av. Antônio Frederico Ozanan, 6600, Jundiaí, SP
Preço R$ 50, ingressos em sescsp.org.br