BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ex-primeiro-ministro do Reino Unido Boris Johnson recebeu 240 mil libras (cerca de R$ 1,76 milhões) de um fundo de hedge após se reunir com o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, no ano passado, de acordo com o jornal britânico The Guardian, a partir de documentos vazados.
A visita, que foi reportada em março de 2024, teria sido uma reunião privada do ex-premiê, que estava de férias no Caribe na ocasião. Johnson avisou o então chanceler e também ex-premiê, David Cameron, da visita.
Entre os documentos vazados, segundo o jornal, está uma fatura de 240 mil libras enviada pelo escritório pessoal de Johnson ao fundo de hedge Merlyn Advisors, gerenciado por Maarten Petermann, que também participou da reunião com Maduro. Três semanas depois, o pagamento foi realizado, de acordo com o jornal.
Questionado após o encontro por autoridades do governo britânico, Johnson havia afirmado que não foi pago por qualquer reunião na Venezuela e que não tinha qualquer relação contratual com o Merlyn Advisors.
Johnson não respondeu a pedidos de comentários feitos pelo Guardian. Petermann disse que não comentaria.
Na época, o escritório de Johnson se recusou a dizer quem tinha pagado pelo jato particular que o levou a Caracas. “Agora que ele é um cidadão comum, não comentamos sobre qualquer dessas questões, e apenas dizemos que não houve custos para o pagador de imposto britânico ou o governo venezuelano”, escreveu seu escritório.
O Guardian publicou algumas centenas de documentos, entre emails, faturas e planilhas que revelam atividades de Johnson durante seu mandato, terminado em 2022, e após ele deixar o cargo. As atividades mostram que o ex-premiê teria feito lobby em benefício próprio a partir de contatos que sua posição como premiê possibilita.
Outro episódio em que Johnson teria usado contatos feitos durante o cargo e sua posição como ex-premiê em benefício próprio é a tentativa de cortejar a monarquia da Arábia Saudita para que o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman contratasse uma consultoria da qual Johnson é um dos presidentes.
Johnson abordou a monarquia após deixar o cargo com almoços e reuniões particulares em um clube privado com um ministro saudita que o ex-premiê conheceu quando era o chefe de governo britânico, de acordo com os documentos analisados pelo Guardian.
Johnson escreveu também uma carta tecendo loas a Bin Salman, afirmando inclusive ser um “admirador fervoroso da visão” do príncipe herdeiro e líder de fato da monarquia saudita -a carta está entre os documentos vazados, segundo o Guardian.
As revelações trazidas pelos documentos voltam a colocar em debate um subsídio de 115 mil libras (cerca de R$ 845 mil) anuais ao qual ex-premiês do Reino Unido têm direito para constituir escritórios privados para realização de atividades públicas como ex-chefes de governo.
O subsídio não tem como objetivo financiar negócios privados e lucrativos, mas arcar com os custos dos escritórios, incluindo pagamento de salários de funcionários.
“O escirtório de Johnson emprega três funcionários em tempo integral. Os dados mostram que os três estiveram envolvidos em assuntos comerciais ou de negócios. Como Johnson pôde assegurar que as 182 mil libras pedidas dos fundos PDCA [subsídio de custos de serviço público, na sigla em inglês] não foram usadas para ganhos privados?”, questiona o jornal.
O Guardian afirma ainda que os escritório privados dos ex-premiês John Major, Tony Blair, Gordon Brown, David Cameron, Theresa May e até Liz Truss, que governou por 49 dias, reivindicaram recursos dos fundos dedicados ao subsídio.