SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O homem apontado como responsável por fornecer equipamentos ao Comando Vermelho e trabalhar paralelamente no mandato do ex-deputado estadual TH Joias também atuou em uma secretaria no governo do estado do Rio de Janeiro.
Luiz Eduardo Cunha Gonçalves foi assistente da secretaria de Trabalho e Renda em setembro e outubro de 2021, durante a gestão Cláudio Castro (PL). Ele foi exonerado em um mês. O secretário à época era o bombeiro militar Patrique Welber de Faria.
A reportagem não localizou Patrique, nem a defesa de Luiz Eduardo.
O suspeito foi nomeado para o mandato de TH Joias em junho de 2024, e permaneceu até agosto do mesmo ano.
Luiz Eduardo, conhecido como Dudu, foi preso na quarta-feira (3) durante operações das polícias Federal e Civil, com participações da Promotoria do Rio de Janeiro e da Procuradoria. Investigações apontam uma rede de negociantes do Comando Vermelho que inclui o ex-deputado TH. Quinze pessoas foram presas, incluindo o ex-parlamentar.
Dudu está preso desde quarta no complexo de Gericinó, em Bangu. O TRF-2 (Tribunal Federal da Segunda Região) manteve nesta segunda-feira (8) a prisão de Dudu, TH Joias e dos demais acusados.
O advogado Rafael Farias, representante da defesa do ex-deputado TH Joias, afirmou que “considera absurdas as acusações que vêm sendo reiteradas contra ele”.
“Existe um claro movimento de perseguição política a um representante legítimo do povo do Rio de Janeiro”, disse em nota.
A investigação do Ministério Público apontou que Dudu atuava como fornecedor de equipamentos para o Comando Vermelho, entre eles dispositivos antidrones. Os equipamentos custavam a partir de R$ 50 mil, segundo promotores. O lucro com a venda teria ultrapassado os R$ 200 mil.
O relatório da PF aponta que Dudu vendeu equipamentos para Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, considerado pela polícia um dos líderes do Comando Vermelho e procurado há pelo menos uma década. Pezão foi alvo de prisão na operação de quarta, mas não foi encontrado.
O relatório da PF aponta que Dudu, ao lado do policial federal Gustavo Stteel, do assessor de TH Leandro Ferreira Marçal e de Gabriel Dias de Oliveira, conhecido como Índio do Lixão, formava uma equipe que atuava como “intermediários entre os chefes de facções criminosas e autoridades públicas”.
O advogado de Gabriel, que não quis se identificar, afirmou que a defesa só irá se manifestar quando tiver acesso aos autos. A reportagem não localizou as defesas de Gustavo e Leandro.
Dudu era responsável, ainda segundo o Ministério Público, por ensinar membros da facção a operar os equipamentos, fazendo testes de campo. Também estava entre suas atribuições avisar traficantes sobre operações policiais que eram vazadas ao grupo, a partir de contato com policiais.
Dudu buscava, a pedido do grupo, informações de terceiros em portais de dados cadastrais.
Em abril de 2024, policiais militares abordaram Luiz Eduardo em um carro, na avenida Brasil, e encontraram R$ 175 mil em espécie. Ele afirmou à época que trabalhava com marketing digital e era assessor do deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ), mas mudou de versão na delegacia e disse apenas prestar serviços políticos. Ele afirmou que o dinheiro foi obtido com a venda de um carro.
Em posicionamento à época, Gutemberg disse que Luiz Eduardo lhe prestou serviços “freelancer” durante campanha, mas sem vínculo empregatício.
Luiz Eduardo não está na lista de prestadores de serviços da campanha de 2022 de Gutemberg.
Procurada, a assessoria do deputado reforçou a informação, mas afirmou que não iria se manifestar.
Gutemberg é irmão de Washington Reis, presidente estadual do MDB, partido de TH Joias até a prisão. Washington divulgou nota no dia da operação afirmando que o ex-deputado seria expulso do partido.