BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – A derrota do partido de Javier Milei nas eleições legislativas da província de Buenos Aires no domingo (7) aumentou as dúvidas que o mercado já tinha sobre o futuro do programa econômico do presidente.

O partido de Milei obteve apenas 33,8% dos votos, enquanto a coalizão peronista Força Pátria, liderada pelo governador Axel Kicillof, conquistou 47,2%.

Nesta segunda-feira (8), os títulos em dólar da Argentina e o peso experimentam uma queda significativa após a derrota do partido do presidente, A Liberdade Avança.

O índice S&P Merval, que mede o desempenho das principais ações, registrava queda de 11% por volta das 14h desta segunda-feira.

Também no início da tarde, o peso argentino era cotado oficialmente a 1.450 para cada US$ 1, se aproximando do limite superior da banda de flutuação, hoje em cerca de 1.471 pesos.

No Banco Macro, a moeda americana era vendida a 1.470 pesos, enquanto o Banco Hipotecário o oferecia por 1.380 pesos.

Os títulos soberanos também registraram perdas, com os que vencem em 2035 caindo mais de 6%, sendo negociados a 55,37 centavos de peso, enquanto os rendimentos subiram para 12,8%.

O risco de investimentos na Argentina, medido pelo Embi, do JP Morgan, também experimenta um movimento de subida nos últimos dias, chegando a atingir 1.000 pontos-base no início da manhã.

A província de Buenos Aires, que representa quase 40% do eleitorado nacional, é um forte reduto do peronismo, tornando os resultados importantes para as próximas eleições legislativas nacionais, em 26 de outubro.

Além de o território ser um enclave do peronismo, tendo no governador Axel Kicillof sua figura mais importante, as eleições locais pegaram o governo Milei em seu pior momento, após a divulgação de áudios apontando um suposto esquema de propinas na compra de medicamentos que favoreceria a irmã do presidente, Karina.

Do ponto de vista econômico, o governo também chegou fragilizado ao pleito, com a atividade econômica estagnada desde fevereiro e até apresentando queda nos dois últimos meses, alta de juros e intervenções para conter a alta do câmbio.

Ao reconhecer a derrota da coalização governista, Milei disse que era preciso rever os erros do governo, mas em seguida afirmou que irá aprofundar as medidas atuais.

“Sem dúvida, a nível político, hoje tivemos uma derrota clara e se alguém quiser reconstruir, o que deve ser feito é aceitar os resultados. Para além do resultado eleitoral, quero sinalizar a todos os argentinos que o rumo para o qual fomos eleitos não vai ser modificado, vai ser reforçado.”

“Nada mudará economicamente. Nem no fiscal, nem no monetário, nem em termos cambiais”, publicou no fim da noite de domingo, no X, o ministro da Economia, Luis Caputo.

Diferentes analistas, no entanto, apontaram que a declaração do presidente não foi suficiente para acalmar o mercado.

Após a derrota, o Morgan Stanley retirou sua recomendação de compra de ativos argentinos, alertando que o resultado pode aumentar a incerteza sobre as reformas econômicas e fontes de financiamento externo.

O JP Morgan alertou que o triunfo do peronismo nas eleições da Província de Buenos Aires é “um sinal de que o prêmio de risco político pode se estender ao longo do tempo” para a Argentina.

Segundo relatório da Cohen Financial, o governo priorizou a estabilidade do dólar em detrimento da atividade econômica e do acúmulo de reservas.

A Max Capital afirmou que o governo terá de usar reservas para conter a pressão sobre o dólar e torcer para alcançar melhores resultados nas eleições legislativas nacionais.

A consultoria 1816 relembrou que o Tesouro fez operações de venda de dólares desde a semana passada e que isso já representou um giro na promessa do governo de não intervir no câmbio enquanto o dólar flutuasse entre as bandas.