SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A investigação que resultou na prisão de sete pessoas nesta segunda-feira (8) na Favela do Moinho, na região central de São Paulo, indica que Leonardo Monteiro Moja mantém o controle sobre atividades ilegais no local mesmo um ano depois de ser preso. Léo do Moinho, como é conhecido, na prática teria se mantido como principal líder do PCC (Primeiro Comando da Capital) no centro através de familiares e comparsas.

Promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público de São Paulo afirmam que a família Moja comanda um esquema de extorsões contra moradores da comunidade e é beneficiada por lavagem de dinheiro feita por uma empresa de sucatas e outra que vende de aparas de papel.

Léo do Moinho teria escolhido um sucessor para liderar o tráfico de drogas na favela e tem imóveis que, até hoje, eram usados para guardar armas e drogas e abrigar traficantes, segundo os promotores. As construções eram vigiadas por membros do crime organizado, para impedir que fossem invadidas ou afetadas pelas demolições em meio ao plano do governo estadual de remover a favela.

Procurada, a defesa de Leonardo afirmou que “desconhece os fatos mencionados”. A reportagem procura os advogados dos demais suspeitos.

Três familiares de Léo -uma irmã, uma sobrinha e uma cunhada- tiveram prisão decretada pela Justiça, sob acusação de participarem da organização criminosa. A irmã dele, Alessandra, cobraria dinheiro de moradores da favela que assinaram acordos com a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) para deixar o local e entrar no programa habitacional do governo.

O cadastro no programa e a assinatura de documentos só era autorizada mediante pagamento à família Moja, segundo o Gaeco. Mensagens encontradas nos celulares apreendidos na Operação Sallus et Dignitas, em agosto do ano passado, mostraram que Alessandra mantinha Leo do Moinho informado sobre várias atividades na favela.

Ela o avisava sobre a presença de policiais no local e enviava anotações de contabilidade de um ferro velho do irmão, por exemplo. Ele respondia com orientações, inclusive sobre depósitos de dinheiro a empresas de familiares.

O dinheiro arrecadado na extorsão de dinheiro de moradores e outras atividades ilícitas seria enviado por Alessandra a empresas para ocultar a origem, segundo os promotores.

A maior parte das mensagens que aparecem na representação do Gaeco (documento que baseou a decisão da Justiça de autorizar a operação) são anteriores à prisão de Léo do Moinho.

A mais recente é do dia 6 de agosto do ano passado, dia em que foi deflagrada a Sallus et Dignitas. Alessandra o avisa que está ocorrendo uma operação na favela. Léo foi preso naquele dia em um apartamento em Praia Grande, no litoral sul de São Paulo.

Já a cunhada de Léo do Moinho, Leandra, ocuparia posição de liderança do tráfico de drogas e do controle da Favela do Moinho, de acordo com a investigação. Além de se comunicar com traficantes para garantir o controle das casas de Léo, ela também faria cobrança de dinheiro dos moradores que fecham acordos com a CDHU.

José Carlos da Silva, o Carlinhos, é apontado como integrante do PCC teria sido escolhido pelo próprio Léo para liderar o tráfico na favela após sua prisão, segundo os promotores. “Consta que sua indicação ao invés de um dos membros da família Moja se deve às suspeitas levantadas em torno de seu envolvimento com as atividades ilícitas coordenadas por Leonardo”, diz a representação do Gaeco.

“Os fatos apurados revelam a insuficiência da prisão de Leonardo Moja para cessar as atividades criminosas na ‘Favela do Moinho’, considerando que estas se mantém ativas e seguindo fielmente suas diretrizes”, afirmam os promotores.

Representantes da comissão de Direitos Humanos da OAB e do mandato do deputado estadual Eduardo Suplicy (PT) estiveram até o início da tarde no Palácio da Polícia Civil, no centro de São Paulo, para onde foram encaminhados os presos.

Os advogados presentes afirmaram que o processo está em sigilo e que não tiveram acesso ao conteúdo sobre as prisões.

Moradores do Moinho também presentes criticaram as detenções, as quais classificaram como perseguição política. Por volta das 13h, um grupo com alguns dos detidos foi encaminhado para o IML para exame de corpo de delito.

Depois, eles serão encaminhados para audiência de custódia. Segundo os advogados, entre os presos há mães e pais solo, que são responsáveis por filhos pequenos.