SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, afirmou que o governo estadual pretende criar uma delegacia de análise e observação digital.
A ideia é transformar o Noad (Núcleo de Observação e Análise Digital), liderado pela delegada Lisandréa Salvariego, em uma delegacia. Hoje, o núcleo é destinado ao combate a crimes que acontecem em plataformas digitais, como o Discord.
“Já conversei com o governador Tarcísio de Freitas e, talvez, nós tenhamos a primeira delegacia do Brasil de análise e observação digital. São Paulo vai ser pioneiro”, disse Derrite durante palestra no Fórum O Otimista Brasil, que aconteceu na Faap, na manhã desta segunda-feira (8).
À reportagem o secretário afirmou que, diante o aumento de denúncias e operações para conter esse tipo de crime online, a questão se tornou uma prioridade na sua gestão. A expectativa é que a criação da delegacia ocorra ainda neste ano.
“A violência nas redes saiu do patamar de responsabilidade de pais e virou um problema de polícia a partir do momento que uma organização criminosa foi formada, com lucros financeiros por trás dessas coações”, disse Derrite. “Isso tudo foi comprovado pelo Noad, uma iniciativa pioneira. O trabalho está crescendo e a necessidade da criação da delegacia demonstrou-se pelos resultados.”
Criada em novembro de 2024, o Noad já foi responsável pela apreensão de 25 adolescentes e pela prisão de 17 pessoas que participavam e coordenavam os crimes presentes nas plataformas. Entre os casos que mais tiveram destaque foi o de Cayo Lucas, suspeito de ameaçar o influenciador Felca e a psicóloga Ana Beatriz Chamati após a divulgação do vídeo “Adultização”, que denunciava casos de exploração de crianças e adolescentes.
“Ele era um criminoso de extrema periculosidade, hackeava e invadia sistemas governamentais. Por meio das senhas obtidas, ele tinha acesso a operações que aconteceriam”, diz o secretário, que explicou que a prisão aconteceu após Cayo invadir o sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e introduziu em um mandado de prisão os dados de Felca.
“Ou seja, se ele andasse pela avenida Paulista, com várias câmeras de reconhecimento facial, chegaria um alerta para o policial: ‘prende, que ele é procurado'”, explicou o secretário sobre o perigo do crime cometido pelo hacker.
O Noad realiza monitoramento contínuo em redes, plataformas e alvos 24 horas por dia, principalmente no Discord e Telegram. Hoje, há 742 alvos que são monitorados continuamente e as redes já conseguiram salvar ao menos 162 vítimas e teve 107 acionamentos em outros estados.
“Tenho 23 anos na segurança pública, mas as imagens que nós temos eu nunca vi nada na vida tão horrível”, disse o secretário, que citou que as vítimas destes crimes são, em geral, crianças e meninas, que geram vínculos de confiança com agressores que, a partir dali, passam a ser ameaçadas pelos autores de crimes.
Como a Folha de S.Paulo já mostrou, entre os conteúdos coletados, estão estupros virtuais, automutilação e constantes ameaças, em que jovens de 7 a 17 anos são submetidas a rituais de humilhação em salas de bate-papo.
Há casos de meninas obrigadas a introduzir materiais nas genitais. Outro crime comum nestas comunidades é que as vítimas sejam obrigadas a escrever os nomes dos agressores no corpo com objetos cortantes.
O secretário conclui que, hoje, na internet, “não existe ambiente seguro”. “Precisamos ouvir quem está na ponta da linha para romper este ciclo da violência.”