SÃO PAULO E CAMPINAS, sp (FOLHAPRESS) – Uma operação do Ministério Público e das polícias Civil e Militar prendeu sete pessoas suspeitas de integrar grupo que comanda o tráfico de drogas na Favela do Moinho, na região central de São Paulo. Entre os detidos está Alessandra Moja, irmã do traficante Leonardo Moja, conhecido como Léo do Moinho, apontado como líder do tráfico de drogas no local.
A ação é conduzida por agentes do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado). As equipes buscam cumprir, ao todo, dez mandados de prisão preventiva e 21 de busca e apreensão, no âmbito da Operação Sharpe, que tenta desarticular o tráfico de drogas na cracolândia. Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública), 12 celulares foram apreendidos.
Segundo as autoridades, lideranças do PCC comandam, de dentro de presídios, o tráfico de drogas da Favela do Moinho, que abastece a demanda da cracolândia. Conforme mostrou a Folha de S.Paulo, a concentração de usuários aumenta agora na avenida Pacaembu, na zona oeste embora pequenos núcleos ainda se concentrem pela região central.
Alessandra, segundo a investigação, teria papel fundamental na mobilização e organização de manifestações contra ações policiais e cobraria propina de famílias beneficiadas pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) com indenização pelas moradias. A filha dela, Yasmim Moja Flores, também foi presa.
Também foram detidos Jorge de Santana, dono de um bar que seria ponto de armazenamento e drogas e de reunião de gerentes do tráfico, e José Carlos da Silva, o Carlinhos, apontado pelo Gaeco como sucessor escolhido por Léo do Moinho para liderar o tráfico na comunidade.
Claudio Celestino, dono de estabelecimentos comerciais em um edifício de Léo do Moinho, foi preso porque usaria os locais, de acordo com o MP-SP, para armazenamento de armas e drogas. Os outros dois presos até o momento são a cunhada de Léo, Leandra de Lima, que cobraria propina e atuaria na coordenação dos negócios ilegais com outros investigados, e Paulo Rogério Dias, que faria a distribuição de drogas da favela para a região central de São Paulo, com o uso de carroceiros, segundo a Promotoria.
A reportagem tenta contato com os advogados dos presos.
Em publicação nas redes sociais, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, comentou a prisão de Alessandra e citou uma reunião dela com o governo federal para articular a visita de Lula ao local.
“[A operação] Resultou na prisão de uma criminosa apontada como principal líder do tráfico de drogas depois que o irmão dela, o Léo do Moinho, foi preso pela Rota na Baixada Santista. Essa criminosa que curiosamente recebeu um ministro do Governo Federal em uma ONG, ao que me parece uma ONG de fachada, para articular a visita do presidente da República nessa comunidade.”
A reportagem procurou a Secretaria-Geral da Presidência sobre o comentário do secretário. O presidente Lula (PT) visitou o local em junho, ocasião em que anunciou R$ 250 mil para as famílias comparem novos imóveis, em um projeto que também conta com custeio do Governo de SP. A visita mobilizou uma grande operação para permitir a chegada do presidente à quadra, no meio da favela, onde ele discursou. Ele também visitou uma escola, entrou em casas e cumprimentou moradores.
A ação desta segunda-feira é um desdobramento da operação Salus et Dignitas, do ano passado, que prendeu Leo do Moinho e fechou bares, hotéis e outros estabelecimentos que seriam ligados à facção, além da prisão de traficantes e até agentes públicos envolvidos no esquema criminosos. Entre os envolvidos estavam também agentes da Guarda Civil Municipal.
“Na continuidade das investigações, descobriu-se que a liderança presa da Favela do Moinho continuava a emitir ordens criminosas de dentro do presídio, com a finalidade de intimidar funcionários do CDHU, impedindo que as famílias residentes aceitem indenização pelas suas moradias sob o falso pretexto de resistência da comunidade local”, disse o Gaeco em nota.
Também no vídeo publicado, o secretário Derrite afirmou que a ação desta segunda “era a ponta que faltava para liquidar de uma vez por todas a recuperação do centro de São Paulo.” Ele citou o fechamento de 78 hotéis que tinham faturamentos de R$ 15 milhões e R$ 20 milhões, que seriam usados para lavar dinheiro do tráfico.
Localizada em uma área da União entre duas linhas de trens metropolitanos, na região central da cidade, a comunidade onde vivem cerca de 800 famílias passa atualmente por um processo de reassentamento comandado pelo governo estadual. Desde o início do processo, em abril, há confrontos entre moradores e policiais.
O local tem sido apontado pela gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) como principal ponto de abastecimento da cracolândia. O argumento sobre a existência de um sistema econômico que viabiliza a cracolândia, envolvendo ferros velhos onde usuários vendem sucata e hospedagens precárias, entre outros, ganhou força dentro da gestão Tarcísio após a megaoperação realizada na comunidade em agosto do ano passado.
Foi a partir da ação policial que funcionários da CDHU, a companhia estadual de habitação, passaram a cadastrar as cerca de 800 famílias residentes com o intuito de realizar o reassentamento, que agora conta com apoio da União, dona do terreno.
As gestões Lula e Tarcísio anunciaram em maio deste ano um acordo para o atendimento habitacional de um grupo de quase 900 famílias da comunidade. Em meio a entraves burocráticos para que a Caixa Econômica Federal realize a compra dos imóveis oferecidos com 100% de subsídio para famílias que saírem da favela do Moinho, na região central de São Paulo, a CDHU assumiu integralmente os custos da operação de aproximadamente R$ 200 milhões. Posteriormente, o governo estadual cobrará ressarcimento à União.