SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – La Rinconada, no Peru, é considerada a cidade mais alta do mundo. Ela está localizada a mais de 5.000 metros de altitude, tornando o oxigênio escasso. A expectativa de vida no lugar é de 35 anos, mas não são apenas fatores naturais que explicam ela ser tão baixa.
Cidade tem clima extremo. A cidade está no topo do monte Ananea, na região de Puno, no Peru, e é um dos locais mais isolados da América do Sul. Para chegar até lá, os visitantes devem atravessar caminhos rochosos, íngremes e repletos de gelo. O ar é rarefeito, a terra é estéril e as temperaturas variam entre -11°C e 6°C. Hoje, são cerca de 30 mil habitantes. A maioria dos moradores vive em extrema pobreza, e parte da população é composta principalmente por migrantes de áreas rurais do Peru.
Mas habitantes se adaptaram. Um estudo de 2023 publicado na revista Hemasphere analisou habitantes de três áreas do Peru: no nível do mar, em grande altitude (Puno, a 3.800 metros) e no extremo (La Rinconada). Os pesquisadores confirmaram que o organismo humano consegue se adaptar às condições de carência de oxigênio (hipóxia) induzida pela altitude sintetizando grandes quantidades de hemoglobinas, que são necessárias para transportar o oxigênio por todo o corpo.
O problema começa com questões sociais. Apesar do acesso difícil, economia da cidade gira em torno da mineração de ouro, atraindo muitos migrantes em buscas de oportunidades de trabalho. Segundo o jornal peruano La Republica, a cidade é marcada por uma pobreza extrema e falta de serviços básicos, como água potável. “Quem habita este lugar parece viver um paradoxo: trabalhar para extrair os minerais valiosos enquanto luta para manter sua saúde e sobreviver em um ambiente tóxico e degradado”, diz reportagem de 2024.
Por isso, é chamado de o “lugar mais infernal do planeta”. Por ser uma cidade onde a economia gira em torno da extração de ouro, há muita contaminação por mercúrio, uma substância utilizada na extração do minério. Os níveis de intoxicação entre os mineradores são alarmantes. Segundo a revista National Geographic, a maioria das minas que operam na cidade e que estão autorizadas pelo governo a operar tem contratos considerados informais, trazendo como consequência condições de trabalho e de segurança bem abaixo do padrão.
Sistema de trabalho é conhecido como “cachorreo”. Nele, os mineiros trabalham por 30 dias sem receber salário. No último dia do mês, é permitido levar o ouro que encontrar. Caso não encontrem nada, é sinônimo de que trabalharam o mês de graça.
Cidade é envolta de crenças. Uma das mais famosas é a dos “abuelos” (avós). São três figuras vestidas de mineiros para as quais são feitas diversas oferendas para obter riquezas inclusive roupas íntimas de meninas virgens, segundo o jornal peruano La Republica.
Palco de exploração sexual. A vida noturna de La Rinconada é composta por bares e bordéis, onde mulheres e adolescentes são exploradas sexualmente. O Ojo Publico apurou que em 2019 existiam 200 casas noturnas que “promovem a prostituição forçada”, sendo que “nenhuma delas é licenciada”. Falsos anúncios de emprego atrairiam as vítimas. Entre as ocupações estariam a de cozinheira ou empregada doméstica.
É um dos lugares mais violentos do país. La Rinconada liderou um ranking de taxa de homicídios feito pelo Observatório de Crime e Violência do Peru. Segundo o La Republica, entre 16 de junho de 2024 e 15 de junho de 2025, a cidade registrou uma taxa de homicídios de 52,9 por 100 mil habitantes.