SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ver Iggy Pop sobre o palco é ver a história feita sendo refeita. Dez anos depois de sua última vinda ao Brasil, à beira de fazer 80, o artista voltou ao país para brindar o público no The Town neste domingo (7) com seu punk tão histórico quanto furioso –assim como quando quebrou a ingenuidade do rock no fim da década de 60 com o Stooges.

Não só por sua atuação no início do punk, mas principalmente por seu incansável compromisso com um rock pristino, sujo e indomável, Iggy Pop é uma das maiores entidades da música. Sua rebeldia no palco só bate de frente com sua constância: ao vivo no The Town, foi uma dinamite punk.

A faixa “1970” foi um trem em alta velocidade movido a power chords. O clássico “I Wanna Be Your Dog” veio seguido de latidos de Iggy, que cai no chão entre uma estrofe e outra. Como um cão arfando, levanta-se e volta ao páreo comandando uma das maiores músicas do rock.

Engana-se, porém, que o artista é apenas a selvageria do clichê do roqueiro setentista. Em mais de 50 anos, Iggy soube reinventar sua própria música sem perder força –como se controlasse o incontrolável. É o caso de “The Passenger”, faixa que no palco ganha em profundidade com os naipes de metais.

Os naipes ao vivo adicionam uma camada que já estaria de bom tamanho se a banda fosse apenas cordas, teclado e bateria. O grupo, que conta com o guitarrista do Yeah Yeah Yeahs Nick Zinner, abraça Iggy com groove sem deixar de soar punk em “Raw Power” e “Lust for Life”.

Da mesma forma, o conjunto também sabe quando o astro deve brilhar só. Em “Louie Louie”, canção que passeou por vários artistas do punk, Iggy brinca como se fosse o jovem do Stooges: transforma o refrão sem se importar com o cânone –regra primordial do punk é quebrá-las.

O vigor do artista só dá sinais de fraqueza na pausa entre uma faixa e outra –deve ser justamente a falta do som musical que o deixa sem energia. O banquinho de madeira no palco, que por vezes ele usa, é um pequeno lembrete que o artista tem muita história. Já sua performance, com o corpo arqueado, imprevisível, com microfone atirado ao chão, lembra que Iggy Pop, o padrinho do punk, está muito vivo.