SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Irã aceitaria o controle de seu programa nuclear em troca da suspensão de sanções internacionais, afirmou Abbas Araghchi, ministro das Relações Exteriores iraniano, em artigo publicado no jornal britânico The Guardian neste domingo (7).

No texto, ele se dirige diretamente ao grupo E3, formado por Reino Unido, França e Alemanha, criticando-o por permitir o que classifica de “excessos de Washington”.

” [O Irã] Está pronto para forjar um acordo realista e duradouro que implique supervisão inviolável e restrições ao enriquecimento [de urânio] em troca do término das sanções. Não aproveitar esta breve janela de oportunidade pode ter consequências destrutivas para a região e além, em um nível totalmente novo”, escreveu.

Araghchi menciona o fato de o E3 ter iniciado um processo para retomar sanções da ONU a Teerã em retaliação ao programa nuclear do país caso não haja progresso nas negociações para frear o desenvolvimento de uma bomba atômica. As sanções estavam suspensas sob um acordo de 2015 assinado pelo E3, pelo Irã, pelos Estados Unidos, pela China e pela Rússia.

Mas em 2018, durante o primeiro mandato do presidente Donald Trump, os EUA saíram do acordo e estabeleceram sanções próprias contra Teerã. Washington tentou negociar com o país no início deste ano, mas não houve acordo. Agora, o Irã tem até o fim deste mês para buscar um consenso e evitar a volta das sanções.

O ministro iraniano também afirma que, quando Trump retirou Washington do acordo, os três países prometeram agir para continuar o processo de normalização das relações comerciais e econômicas com o Irã, mas que isso não se concretizou.

“Os três países querem que o mundo esqueça que foram os EUA, e não o Irã, que unilateralmente encerraram a participação no Plano de Ação Conjunto Global […]. “Enquanto falha em cumprir suas obrigações, a Europa espera que o Irã aceite unilateralmente todas as restrições. Reino Unido, França e Alemanha se recusaram a condenar o ataque dos EUA ao meu país em junho, às vésperas de conversas diplomáticas e agora exigem sanções da ONU contra iranianos por supostamente rejeitarem o diálogo.”

O E3 acusa o Irã de violar o acordo de 2015. Para o ministro, por outro lado, a medida de pedir a volta das sanções da ONU é uma tentativa de conquistar os Estados Unidos para garantir mais espaço de atuação em outras questões diplomáticas, como o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia.

No artigo, ao mencionar o ataque de Washington a Teerã, Araghchi se refere à guerra dos 12 dias entre Irã e Israel, em junho deste ano. O conflito começou no dia 13, quando Tel Aviv bombardeou instalações nucleares e militares da capital iraniana, matando cientistas e altos comandantes militares.

Os EUA entraram no conflito nove dias depois, realizando um ataque direto contra três instalações nucleares e atingindo os centros de enriquecimento de urânio de Teerã. No dia 23, o Irã retaliou o bombardeio americano com uma ação calculada e com aviso prévio contra a maior dos EUA no Oriente Médio.

Encerrada no dia 24 de junho, com um resultado incerto, a guerra foi o enfrentamento militar mais dramático entre os países inimigos desde a fundação da República Islâmica em 1979.