SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma igreja paulistana mudou de nome neste domingo (7). A Paróquia Universitária Beato Carlo Acutis passou a se chamar Paróquia Universitária São Carlo Acutis, após a canonização do beato pelo papa Leão 14.
Na madrugada, cerca de 200 fiéis enfrentaram o tempo gelado, com temperaturas de cerca de 15°C, para acompanhar em um telão a missa do Vaticano, que teve início às 5h do Brasil.
Localizada no bairro Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, a igreja alega ser a primeira do mundo dedicada ao novo santo.
A engenheira de software Melanie Miranda Costa Silva, 36, veio de Mogi das Cruzes com a família para acompanhar a celebração. “Saímos de casa às 3h da manhã, com as crianças todas encapotadas, mas a nossa devoção é muito grande”, conta.
Usando uma camiseta estampada com um desenho de Acutis como Homem-Aranha, ela diz que, por ser da área da tecnologia da informação, se identifica com o “santo da internet”.
“É sobre usar a tecnologia para o bem, e também é um novo santo que seria só dois anos mais novo do que eu, porque ele teria 34 anos hoje, se estivesse vivo. É a santidade perto da gente”, afirma.
“É o primeiro santo de calça jeans e tênis. Então, meu filho vê o pai e a mãe assim também e pensa é o nosso amigo lá no céu”, diz.
A estátua do primeiro santo millennial (geração nascida entre 1981 e 1996) destoa de outras da Igreja Católica. O garoto, que morreu aos 15 anos, após uma leucemia aguda, é retratado de camisa polo, calça jeans, tênis e mochila nas costas. Nas mãos, um rosário, e no rosto, um sorriso.
A aparente banalidade passa justamente a impressão pretendida: a de que qualquer um pode ser alçado ao posto de santidade se tiver um comportamento considerado santo.
Além de uma barraca de artigos religiosos com itens temáticos do novo santo, na comemoração foi montada uma cabine fotográfica que simula uma história em quadrinhos protagonizada por Carlo Acutis, onde os visitantes podem posar como se fizessem parte da capa da revistinha.
A paróquia fica dentro do campus do Centro Universitário Italo-Brasileiro e a comemoração tomou grande parte do espaço. Mesmo com dezenas de cadeiras montadas do lado de fora da pequena paróquia, fiéis se espalharam pelos jardins da instituição para acompanhar a missa local, iniciada às 10h.
Na multidão, muitos jovens e crianças, vários usando camisetas com o rosto de Carlo Acutis.
A celebração, que durou mais de duas horas, foi presidida por Dom José Negri, bispo da Diocese de Santo Amaro, que fez parte da criação da capela local e, neste domingo, oficializou a mudança de nome da instituição.
Na solenidade, ao som de aplausos e cercado de celulares que tentavam registrar o momento, o bispo exibiu uma relíquia de São Carlo Acutis a todos os presentes. É um pequeno pedaço do corpo do jovem, que fica guardado dentro de uma peça de prata.
Dom José ressalta que, em vida, Acutis não realizou milagres e “não teve nada de sobrenatural” -era só um jovem que queria se empenhar em seguir o caminho de Deus, o que o tornaria especialmente inspirador.
“Hoje, na praça São Pedro [no Vaticano] tinha milhares de jovens. Com ele, Deus nos está indicando qual é o modelo de jovem que ele quer”, afirma à Folha o religioso.
Acompanhando a missa na primeira fila e ladeada de amigas, Ana Clara Souza, 16, madrugou para ver a canonização.
“Com ele eu aprendo que todos nós podemos ser santos. Porque o Carlo, por mais que ele seja agora um grande santo de exemplo pra juventude, fez o básico que qualquer católico deveria fazer. Ele é um exemplo”, conta a adolescente, que diz ter achado a festa muito bonita. “Está dando um gostinho do céu aqui na Terra”.
O frei Diego Santana Dias, responsável pela paróquia, explica que o nome de Acutis foi adotado em 2023, após uma reforma que ampliou o espaço de uma pequena capela que existia no local.
“Nós quisemos tê-lo como modelo para realmente falar de Deus para os jovens. O testemunho dele é uma luz para a nossa juventude”, diz.
Ele considera que o santo millennial levava a vida e interpretava o Evangelho com muita leveza, simplicidade e felicidade, o que tem o potencial de aproximar e atrair devotos.
“Ele ia à missa para comungar Jesus, participar da adoração, rezar o Santo Terço. E para as pessoas ele era bom, atencioso, generoso. Mesmo vindo de uma família rica, ele era um jovem muito desapegado”, afirma o religioso.
O pároco conta que, desde que adotou Acutis como padroeiro, a igreja é procurada por devotos de diversos lugares. “Hoje mesmo conversei com pessoas que vieram de Avaré [interior de São Paulo], São Miguel Paulista e até de Cuiabá, no Mato Grosso”, relata.
As comemorações na paróquia irão se estender ao longo do dia, com shows e uma festa gastronômica italiana.