SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com pedidos contra a anistia para os envolvidos na trama golpista de 2022 e bonecos infláveis do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como presidiário e do presidente Donald Trump (EUA), manifestantes se concentram, na manhã deste domingo (7), na praça da República, em São Paulo.
O ato, chamado de “Grito dos Excluídos”, é organizado pela Frente Povo Sem Medo e pela Frente Brasil Popular, que reúnem movimentos como o MST e o MTST, e pelo Fórum das Centrais Sindicais, que engloba os principais sindicatos do país.
Embora a cor predominante nos cartazes e roupas das pessoas seja a vermelha, símbolo dos movimentos de esquerda, há também bandeiras do Brasil e pessoas vestidas de verde e amarelo numa tentativa de dissociar as cores aos bolsonaristas, que fazem manifestação mais tarde na avenida Paulista.
Na praça da República, os manifestantes também pedem o fim da escala 6×1, a taxação dos super-ricos e exibem cartazes de “Brasil soberano” e “o Brasil é dos brasileiros” em mensagem contra o tarifaço de Trump.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também é alvo de protestos. O bolsonarista é cotado como principal nome da direita para as eleições do ano que vem e, com ataques ao Judiciário, tem atuado na linha de frente para articular uma proposta de anistia.
“Nós estamos aqui para denunciar o golpe da anistia que está sendo articulado pelo canalha do Tarcísio”, discursou o deputado Antonio Donato, líder da bancada petista na Alesp.
Outros líderes sindicais também criticaram o papel do governador na articulação para a aprovação do projeto de anistia na Câmara dos Deputados e por ele ter dito que daria indulto a Bolsonaro caso eleito presidente em 2026.
O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) chegou por volta das 11 horas no ato, usando uma camiseta amarela e um casaco preto do Corinthians. Antes de subir no carro de som, ele conversou com jornalistas e disse que o projeto de anistia pode até ter maioria para passar na Câmara dos Deputados, mas não tem chances de ser aprovado no Senado. “Não tem clima no Brasil [para isso]”.
O deputado afirmou também que Tarcísio fez um papel lamentável ao ir para Brasília “para puxar saco do Bolsonaro”. “Ele acha que ninguém tá vendo, ele acha que o povo não está vendo isso.”
Disse ainda que o 7 de setembro foi apropriado pelos bolsonaristas, mas que, neste ano, diante do que considera o “maior ataque dos EUA ao Brasil”, o joio do trigo foi separado para diferenciar quem realmente defende o país de quem de “conspirou contra o país”.
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, também marcou presença no evento e disse que a Constituição brasileira é clara e não permite “nem anistia nem indulto” para crimes contra a pátria. Questionado se o governo deverá agir contra o projeto de anistia na Câmara, ele disse que “o Congresso Nacional tem que assumir a sua responsabilidade”. “Se votarem projeto inconstitucional, será vetado e o STF irá analisar.”
Em sua fala, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, destacou a soberania nacional, pediu o fim da escala 6×1 e completou: “nós queremos também que baixem os juros do Brasil”.
O ex-ministro José Dirceu (PT) também esteve presente no ato, mas não discursou. Uma salva de palmas foi pedida para ele, que disse que já se sentia contemplado pelos discursos feitos durante o ato e que o importante era se fazer presente.
Centrais sindicais e grupos de esquerda promovem o ato em defesa da soberania nacional e na tentativa de mobilizar a militância nas ruas em meio ao julgamento da trama golpista no STF (Supremo Tribunal Federal).
Os eventos desta manhã devem contar com a presença de ministros e aliados do governo Lula (PT) e servir de contraponto às manifestações bolsonaristas marcadas para esta tarde. Conhecido como “Grito dos Excluídos”, o ato ocorre há 20 anos e é organizado por frentes sociais.
Desde que o ex-presidente Bolsonaro passou a utilizar os desfiles de 7 de Setembro como parte de sua bandeira política, o ato ligado à esquerda ganhou também conotação de oposição política ao bolsonarismo.
Na noite deste sábado (6), em pronunciamento nacional, o presidente Lula (PT) defendeu a soberania e mandou recados para o seu antecessor e para Trump.
A bandeira da soberania tem sido adotada pelo governo federal nas últimas semanas em reação às determinações de Trump de impor sobretaxa de 50% a produtos brasileiros e às sanções americanas a autoridades brasileiras, usando como justificativa o julgamento de Bolsonaro.
“Não somos e não seremos novamente colônia de ninguém. Somos capazes de governar e de cuidar da nossa terra e da nossa gente, sem interferência de nenhum governo estrangeiro”, disse Lula.
Ele afirmou que o Brasil tem relações amigáveis com todos os outros países, mas “não aceitamos ordem de quem quer que seja”. “O Brasil tem um único dono: o povo brasileiro”, afirmou.
Foram confirmadas, no ato da República, as presenças de Luiz Marinho, ministro do Trabalho e Emprego, e do presidente nacional do PT, Edinho Silva, além de deputados federais da base de Lula, como Guilherme Boulos (PSOL-SP) e Erika Hilton (PSOL-SP). Também há expectativa de que Marcio Macêdo, secretário-geral da Presidência da República, participe.
A CUT (Central Única dos Trabalhadores) evita falar em números de participantes e diz que os sindicalistas vão às ruas defender a “pauta da classe trabalhadora”, que inclui soberania, isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000, taxação dos super-ricos, fim da escala 6×1, redução da jornada de trabalho sem redução de salário e contra pelotização irrestrita.