SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O registro sobre a presença de alunos com transtorno do espectro autista (TEA) cresceu mais de 20 vezes nas escolas brasileiras em quase dez anos. O número passou de 41,2 mil estudantes em 2015 para 884,4 mil no último ano, segundo o Censo Escolar 2024.

O crescimento acontece devido à alta de diagnósticos no país e à redução na subnotificação dos casos, especialmente entre crianças.

Diante disso, instituições precisam estar preparadas para inclui-los. Plano de ensino individualizado, capacitação de funcionários e abertura para adaptações são pontos importantes, segundo especialistas.

Para Guilherme Almeida, presidente da Associação Nacional para Inclusão das Pessoas Autistas, somente a presença dos profissionais que acompanham estudantes com TEA, conhecidos como mediadores, não garante a inclusão.

Ele diz que o atendimento educacional especializado deve eliminar as barreiras enfrentadas pela criança e fornecer autonomia. “Isso é muito mais do ponto de vista de humanização e senso de pertencimento dessa criança do que de um ponto de vista pedagógico”, afirma.

Almeida chama atenção para a importância da capacitação dos professores para que eles diversifiquem as formas de explicação dentro da sala de aula. “Cada criança, independentemente de um diagnóstico ou não, aprende de uma forma diferente. Não dá para achar que só existe aula expositiva.”

A Emei (escola municipal de educação infantil) Maria Aparecida Quagliato Forti, em Capivari (a 148 km de São Paulo), segue a pedagogia florença.

O dia a dia das crianças de 4 a 6 anos é dividido em eixos de aprendizagem: manuais, musicais, movimentos e contação de histórias. Além disso, a escola implementou um programa de comunicação ativa para desenvolver a expressão dos alunos.

Segundo a diretora, Sara Fagundes, essa metodologia ajuda a incluir crianças com deficiência. “Não é a pedagogia tradicional em que o professor pede e o aluno faz. A gente respeita o tempo, os modos de aprender, as necessidades específicas de cada criança.”

Mãe de um aluno autista da escola, a vendedora Janice Ferreira, 38, disse que viu melhora nas crises de choro do filho Arthur, de 3 anos.

“Tinha medo que o Arthur não se adaptasse e pedia aos professores para ele não participar de algumas atividades, mas eles fizeram questão que ele fosse incluído como outra criança qualquer.”

No início, Arthur não conseguia brincar na areia e agora já interage livremente com as outras crianças, o que reflete uma melhora significativa nas suas questões sensoriais. Os professores também observaram avanço no desenvolvimento motor, na independência e na socialização com as demais crianças.

Outro ponto importante é a flexibilidade da instituição para fazer adaptações eventualmente necessárias devido a condições que algumas crianças autistas podem desenvolver, como hipersensibilidade auditiva, seletividade alimentar ou transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

O assessor de comunicação Fernando Giovanelli, 41, por exemplo, solicitou à Emef (escola municipal de ensino fundamental) Plínio Ayrosa, na Freguesia do Ó, na zona norte de São Paulo, o envio de alimentação específica para a filha Gabriela, de 11 anos.

“Avisei que ela não come arroz nem feijão e a escola deixa eu mandar a comida dela e lá complementam com outras coisas”, afirma.

Segundo a advogada Carla Bertin, especialista em direito das pessoas autistas, as adaptações variam a cada caso, mas são direitos assegurados sempre que houver necessidade confirmada por laudo médico.

“Para uma pessoa que tenha hipersensibilidade à claridade, por exemplo, a adaptação pode ser frequentar a aula com óculos de sol”, explica. “Para um aluno com TDAH, pode ser um tempo maior para fazer as provas.”

Além do acompanhamento dentro de sala de aula, a escola Plínio Ayrosa conta com uma sala de recurso, onde uma vez por semana as crianças com deficiência trabalham atividades no contraturno das aulas.

Giovanelli considera que houve abertura para as demandas da filha, mas sente falta da capacitação de professores. “Se um aluno autista entra em crise, por exemplo, o que acontece com ele? Para onde ele é levado?”

No Colégio Vera Cruz, escola particular na zona oeste da capital paulista, foi criado um núcleo de inclusão para ajudar no aprendizado de alunos com TEA.

“Essa equipe olha as barreiras, olha as adaptações curriculares e cria condições, às vezes, diferentes de material didático ou de atividades adaptadas para aquele aluno”, diz Marcelo Chulam, diretor de gestão da escola.

O Instituto Vera Cruz, do mesmo grupo da escola, promoveu neste ano a segunda edição do curso de extensão sobre educação inclusiva.

O tema também vem sendo abordado nas formações do Centro de Formação da Vila, voltado, principalmente, para professores da Escola da Vila e de outras instituições do mesmo grupo.