SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No hip-hop de alta magnitude de Travis Scott, toda música é tentativa de clímax. Um ano após seu show esgotado em São Paulo e sua passagem controversa no Rock in Rio, onde atrasou 40 minutos e não poupou críticas à organização, o artista trouxe novamente seu trap de arena para o Brasil.

Dessa vez, Scott fez as pazes com a organização do Rock World –responsável pelo Rock in Rio e pelo The Town. O rapper subiu ao palco na hora marcada e a partir de então encadeou 25 músicas em pouco mais de uma hora.

A matemática só funciona graças ao formato do show: cada faixa dura cerca de 2 minutos, espaço para um par de estrofes e refrão. O resultado esperado é um show de octanagem elevada, mas, no The Town, a fórmula deu sinais de cansaço.

Scott ainda é um dos maiores rappers da atualidade, lança tendências e joga como ponta de lança do hip-hop para além da música –seu trabalho se espraia na moda, por exemplo, prova são os vários óculos à la Travis Scott na plateia do The Town.

Sua obra, porém, chega a uma década e o rapper pode ser vítima do seu sucesso: é difícil se desamarrar das estruturas que, em três discos, o transformaram em referência do trap, um dos mais populares e jovens gêneros musicais do mundo.

Não há dúvida de que Scott ainda tem muita gasolina para queimar: “Fe!n”, um dos maiores sucessos da carreira do artista, foi executada três vezes –bem menos do que em outros de seus grandes shows. “Sicko Mode”, outro sucesso, também fez um impressionante espetáculo ao vivo.

Na plateia, rodas de mosh (bate-cabeça, para os não iniciados) e sinalizadores vermelhos faziam o décor típico dos seus shows –para alegria dos fãs, adolescentes e jovens que também pularam em outros hits, como “Highest in the Room”.

Em outro de seus sucessos, “Goosebumps”, o rapper mostra que não é preciso cantar para reinar no trap: a força está justamente no uso da sua performance inflamada, a presença real em uma era de redes sociais soberanas.

Mas são os espaços entre os hits que mostram um artista em busca de um novo ato –e um público buscando entendê-lo.

Não por acaso as faixas da recente mixtape “Jackboys 2”, caso de “Kick Out”, não tiveram tanto impacto no público. Em que pese a novidade da música, lançada há alguns meses, é sua falta de audácia –marca registrada do artista– que fez dela momento passageiro.

O rapper foi prejudicado pela estrutura de áudio do palco. Se a pista se estende por algumas centenas de metros, espera-se que o som também o faça. Não foi o caso, um problema previsível para a organização em se tratando da música de textura essencialmente eletrônica de Scott.

Logo após a meia-noite, Scott fechou o show seguido por um show de fogos de artifício. A plateia ainda esperou por alguns minutos e criou esperança quando uma entidade mítica surgiu em frente ao telão sob uma impactante versão eletrônica de música clássica. Travis Scott não voltou: era apenas um boneco de dragão de 15 metros que anunciava a abertura do palco The Tower.