SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma legião de pessoas –meninos muito jovens e vestidos de preto, em sua maioria– aguardava sob uma fina garoa na frente do palco The One do festival paulistano The Town, no Autódromo de Interlagos, pouco antes das 17h.
Um minuto depois, a paisagem mudou radicalmente. Faíscas de fogos de artifício e uma voz dizendo “Little Hair”, como é conhecido o cantor e ator MC Cabelinho, puxaram muitos gritos e celulares apontados na direção do palco para gravar o artista que entrava.
A música que abriu o show, “Vamo Marolar”, feita em parceria com L7nnon, foi rapidamente acompanhada por dezenas de copos de cerveja jogados pro alto pelo público, claramente levado ao evento por uma programação recheada de artistas de trap neste sábado (6).
A partir daí veio uma hora de rodas punk, cerveja voando, sinalizadores acesos e versos acompanhados palavra a palavra pelo público.
O artista carioca não foi o primeiro a subir no palco deste primeiro dia de The Town para cantar um repertório baseado no estilo musical derivado do rap e criado em Atlanta, nos Estados Unidos.
Festival dos mesmos criadores do Rock in Rio e feito para revezar no calendário com o irmão carioca, que acontece ano sim ano não, o The Town acaba sendo um repeteco paulista do que funcionou no Rio. E isso incluiu, neste ano, um dia não-oficial do trap.
É que o primeiro dia da edição de 2024 do Rock in Rio também foi preenchido por atrações do estilo musical, o que se tornou uma das decisões mais acertadas daquela edição. O dia de estreia do evento carioca também levou ao palco Cabelinho e outros dois ídolos do trap que tocam de novo hoje no autódromo –Matuê e Travis Scott.
Além de reconhecer e abrir espaço para uma música extremamente popular no Brasil, o evento carimba o poder de mobilização desta fatia da plateia, muito mais engajada na música que o frequentador clássico desses dois festivais.
É atípica para o festival, que costuma ter um público mais parado e distraído por outros estímulos –exceto nos shows principais–, a forma como o fã de trap curte uma apresentação.
No caso do show de Cabelinho, a resposta pode vir de forma automática, como quando o público acompanhou “Gotham” com as mãos para o alto, ou provocada pelo artista, que encontra pessoas dispostas a corresponder a qualquer interação.
Na explosiva “Eu Sou o Trem”, faixa feita com L7nnon e Filipe Ret –que fez seu show antes de Cabelinho–, por exemplo, o carioca pediu para todos abraçarem seu amigo mais próximo e falarem “eu te amo, filho da puta”. Foi prontamente obedecido por meninos que correram para mais perto do palco, sabendo que a primeira roda punk do show seria formada no refrão da música.
Do palco, Cabelinho mostra sua música, que começou no funk, mas migrou para os beats pesados, ritmo arrastado e o uso estético do autotune típicos do trap. Ele entrega uma energia futurista na roupa e nos telões, além de vários momentos de pirotecnia que dão o ritmo das músicas –proposta típica de Travis Scott, maior referência atual do gênero que lidera a escalação do dia.
O artista canta sobre uma vida de ostentação, sexo, dinheiro, drogas e ascensão social. Também fala bastante de amor, e dedica um bloco da apresentação a faixas mais românticas, como “Nossa Música”, em parceria com a drag queen Gloria Groove, “Terminei Recentemente” e “Meu Mundo”, além de um cover de “Céu Azul”, do Charlie Brown Jr..
O momento mais lento foi aproveitado por ele para cantar sua música nova, a empreitada pelo reggae “Rastafari”, que começa com um trecho de “Metamorfose Ambulante”, de Raul Seixas. Da plateia, o público balançava bandeirinhas da Jamaica distribuídas pela equipe do artista.
Cabelinho guardou sua música mais celebrada “X1”, de 2021, para o final da apresentação. Roda atrás de roda foi aberta por todas as partes da plateia, agora iluminada por ao menos uma dezena de sinalizadores vermelhos.