FOZ DO IGUAÇU, PR (FOLHAPRESS) – Faltando pouco mais de um ano para as próximas eleições, o governo do Paraná, de Ratinho Junior (PSD), apresentou o projeto arquitetônico do futuro Centro Pompidou brasileiro, em evento em Foz do Iguaçu (PR), nesta sexta (5). A previsão da inauguração é 2028, segundo o governo do estado, quando o político não estará mais no cargo.
O arquiteto escolhido para comandar esse projeto erguido na tríplice fronteira foi o paraguaio Solano Benítez, Leão de Ouro na Bienal de Arquitetura de Veneza em 2016.
Ele tem a prática de utilizar materiais de baixo custo e um pé no ambientalismo, por isso pretende usar materiais locais. “O Pompidou é um dos maiores museus do mundo. Nós, conhecendo a produção arquitetônica do mundo, poderíamos usar os materiais mais sofisticados para fazê-lo. Mas ao mesmo tempo, nosso interesse é poder dar uma mensagem clara à população que permita reconhecer no nosso entorno imediato possibilidades e recursos para amparar sua vida”, diz Benítez. “Nós moramos em um mundo que precisa estabelecer uma nova relação entre a natureza e as pessoas, entre a cultura e a natureza.”
Segundo ele, serão ao todo 13.500 metros quadrados. São duas salas principais, uma com15.000 metros quadrados, e outra com 10.000. Benítez prefere não se estender muito sobre números ou padrões de controle de umidade nas salas de exibição. “É muito difícil falar de arquitetura sem que seja um discurso muito ‘aburrido’ [chato], sabe?”
“Em um mundo que precisa de tantas coisas para mudar, a importância da arquitetura é só poder conciliar a vontade das pessoas para tentar construir novas oportunidades”, diz o arquiteto. “As questões de quantidade de tijolos, metros quadrados, não são tão importantes como a decisão de que são as pessoas que podem fazer essas mudanças.”
Para simbolizar essa pegada local e “low cost”, a solenidade da apresentação do projeto arquitetônico foi precedida por uma espécie de oficina em que crianças, estudantes da rede pública de ensino, moldaram tijolos, feitos a partir da terra vermelha do lote onde será erguido o museu e que serão utilizados na construção. A secretária de Cultura lambuzou a mão de lama. O governador preferiu ficar de fora da brincadeira, contrariando pedidos. “Deixa a criançada”, protestou Ratinho Junior.
O arquiteto paraguaio cita um brasileiro como inspiração. É o escultor mineiro Amilcar de Castro, “uma das figuras principais que eu estudo e admiro muito na cultura brasileira”, diz Benítez. “Muito da ideia de como a matéria pode conciliar um vínculo com os espaços que estão ao seu redor vêm de uma reflexão de Amilcar Castro.”
O presidente do Centro Georges Pompidou, Laurent Le Bon, já sinalizou, em entrevista à Folha de S.Paulo, que parte do rico acervo, que inclui nomes fundamentais da arte moderna e contemporânea, deverá passar algumas temporadas no Brasil.
Antes do urinol de Marcel Duchamp passar por Foz, porém, é preciso se certificar de que o projeto vingará.
A secretária de Cultura do governo Ratinho Junior, Luciana Casagrande Pereira, apela para o instinto materno para defender que a gestação do Centro Pompidou brasileiro não será interrompida.
“Você já viu uma mãe abandonar um filho? Não, né?”, diz a secretária à reportagem.
“Eu tenho um amor tão grande por esse projeto, e a minha maior preocupação é chegar alguém e falar ‘não brinco mais’.”
Ratinho Junior, que afirma que sua gestão investirá R$ 200 milhões no projeto, já está no fim do primeiro mandato e necessariamente terá de passar o bastão para outra pessoa a partir de 2026.
Por isso, há quem tenha o receio de que uma nova gestão descontinue o projeto. Não se trata aqui de pessimismo exagerado e nem são votos de quem torce contra o político -há um precedente num estado vizinho.
Em 2014, um ambicioso projeto cultural do governo José Serra (PSDB) foi escanteado pelo então tucano Geraldo Alckmin. Após R$ 53 milhões com arquitetos e consultores e R$ 65 milhões em desapropriações, em valores da época, o governo paulista decidiu paralisar o projeto do Complexo Cultural Luz. Segundo a Folha de S.Paulo apurou na época, Alckmin avaliou que o projeto era caro demais e tinha “cara de coisa para rico”.
A secretária de Cultura do Paraná afirma que “todas as providências que nós podíamos tomar para que isso não acontecesse, nós tomamos”.
Em dezembro do ano passado, o governador assinou um decreto criando o Museu Internacional de Arte, o nome oficial do Pompidou Paraná. Isso o coloca dentro do sistema estadual de museus. Ele pode não ter sido construído ainda, mas já existe no papel.
A gestão do museu será semelhante ao que ocorre em São Paulo, em que entidades privadas assumem a gestão do equipamento cultural público, como o Theatro Municipal.
Segundo Luciana Casagrande, o edital de licitação deve ser publicado “ainda este ano ou no início do ano que vem”, colocando o prazo próximo para fevereiro.
“A gestão desse museu não será do estado, e isso já diminui 90% do risco de alguém querer mudar, porque já nós teremos um contrato de gestão com a organização da sociedade civil -um contrato aí de 4, 5 anos, nós estamos definindo o prazo ainda”, diz Luciana. O contrato, ela diz, não coincidirá com os mandatos do executivo.
Ela afirma que, antes de saírem do governo, já estará licitada a obra, com recurso empenhado. “Então se alguém chegar aqui e falar ‘não brinco mais’ vai ter que enfrentar muito desafio para poder parar de brincar.”
Segundo ela, serão três galerias, das pelo menos uma delas, ao longo da programação, ficará dedicada ao acervo do Pompidou de Paris. As outras deverão ficar “em diálogo com a arte brasileira e latino-americana”, diz.
Neste primeiro momento em que é somente o governo do estado que toca diretamente o projeto, não se recorrerá à Lei Rouanet ou a leis de incentivo municipal. “Quando nós tivermos a gestão por uma organização [privada], eles serão livres e provavelmente farão uso das leis de incentivo. Pode ser ano que vem já com leis de incentivo, tanto lei Rouanet quanto lei municipal, mas aí é uma opção da organização social que fará a gestão” diz a secretária.