SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Olhares tortos, comentários homofóbicos e dúvidas constantes sobre a própria sexualidade. Homens bissexuais ainda enfrentam desafios para afirmar sua identidade -inclusive dentro de espaços considerados mais abertos.

Inseridos em ambientes onde a liberdade sexual é celebrada, muitos relatam sentir sua orientação colocada em xeque, enfrentam ironias por também se relacionarem com homens e lidam com a resistência de mulheres que afirmam buscar “uma energia masculina”.

Pensando nesse cenário, a festa Violet Bibi realiza neste sábado (6), Dia do Sexo, uma roda de conversa aberta ao público antes da balada. O bate-papo acontece na casa de swing Spicy Club, em São Paulo, e promete abordar temas como relacionamentos fluidos, monogamia, não monogamia, vivências liberais e, principalmente, a bissexualidade masculina.

O dançarino Joaquim (nome fictício) é um dos que pretendem participar da roda. Ele se entende como bissexual há cerca de um ano e meio, mas diz ainda ainda não se sentir confortável para falar abertamente sobre isso, especialmente no ambiente de trabalho. Como compreendeu a sexualidade há pouco tempo, vê como uma forma positiva haver um espaço seguro de diálogo com outras pessoas que vivenciam situações semelhantes.

Homem negro, ele relata que o preconceito é duplo: além da homofobia, também enfrenta o racismo. “As piadas, os olhares atravessados. Por isso prefiro deixar essa parte da minha vida mais resguardada. Sei que as pessoas podem deduzir coisas ruins”, desabafa.

Mas o evento não é exclusivo para homens. A cantora Ana Monforte, mais conhecida como MC Trans, também estará presente. Mulher trans, ela conta que, ao iniciar sua transição, se entendia como heterossexual. Foi em uma festa da Violet que percebeu que poderia se interessar por mulheres. “Nunca parei pra pensar no que eu gostava no sexo. Era tudo voltado para agradar ao outro”, lembra.

Ana transicionou ainda adolescente e se viu obrigada a se prostituir. “Cresci agradando ao outro. Mas, em uma conversa com outra mulher na festa, entendi que podia experimentar outras coisas”, diz. Ela conta, rindo, que inicialmente tinha um imaginário fantasioso sobre festas de swing. “Achava que seria Sodoma e Gomorra [cidades citadas na Bíblia por terem sido destruídas pela prática de pecado], que teria gente transando nas paredes e um cheiro de pecado no ar. Pensei que, só de passar no corredor, já ia engravidar sete vezes, mesmo sendo trans”, brinca.

O que encontrou foi diferente: “As pessoas conversam, se respeitam. O sexo nem foi o mais importante. Ali, vendo que as meninas também são bissexuais, me permiti explorar o que sentia.” Agora, ela deve marcar presença no bate-papo antes da festa e afirma que “todo mundo tem o direito de conhecer seu corpo, seus prazeres e os não prazeres também. E eu acho que é importante a gente falar sobre isso.”

‘O B NÃO É DE BEYONCÉ’

Quem também vai comandar o bate-papo é o arquiteto Gui Lucky, 39. “Brincamos que, na sopinha de letrinhas [LGBTQIA+], o B não é de Beyoncé”, diz. “As pessoas ainda acham que bissexuais são indecisos ou estão em uma fase. Mas a gente existe e gosta de verdade dos dois gêneros.”

Gui vive há um ano e meio uma relação aberta com Bibi Hot, 36, especialista em sexualidade e também uma das palestrantes do evento. Segundo ela, o preconceito com homens bissexuais ainda é forte, inclusive dentro do meio liberal. “A mulher bi é vista como livre, desconstruída. Já o homem bi é considerado gay ou confuso. Ainda há essa visão”, afirma.

Bibi conta que recebe com frequência mensagens de homens que vivem relacionamentos heterossexuais e sentem vontade de explorar outras experiências. “O evento é uma chance de abrir esse diálogo, especialmente para casais que querem se descobrir. Dentro da casa de swing, o objetivo também é educar.”

À frente da Spicy Club, o produtor Fábio Leandro diz que, mesmo em ambientes ditos liberais, ainda há preconceito. “Muitas casas que se diziam liberais só permitiam a liberdade das mulheres. Elas podiam ficar peladas, se exibir no balcão. Já os homens não tinham esse espaço.”

Com anos de experiência organizando festas, Fábio percebeu a necessidade de orientar o público. “A galera começou a frequentar, vieram os curiosos. Só que tem gente sem noção, que acha que pode tudo. Ali, tudo é permitido, mas nada é obrigatório. Respeito e consenso são essenciais.”

Para garantir o bem-estar dos frequentadores, o espaço criou uma área reservada para casais bissexuais. O acesso é liberado para quem passa por uma triagem ou já é conhecido dos organizadores. Quem se identifica como bi recebe uma pulseira que garante a entrada na área, sem julgamentos ou constrangimentos.

A roda de conversa é gratuita e acontece em parceria com a ONG Nosso Amor Muda Tudo. A organização pede que os participantes levem um brinquedo para doação, promovendo também um gesto de solidariedade.

RELACIONAMENTOS FLUÍDOS: UM DIÁLOGO ABERTO NA SPICY CLUB

Quando 6 de set. de 2025, das 19h30 às 22h30

Onde Spicy Club (al. dos Pamaris, 42 – Moema)

Link https://www.spicyclub.com.br/informa-es-do-evento-e-registro/palestra-relacionamentos-fluidos