SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), subiu ao púlpito da B3 nesta sexta-feira (5) para usar repetidas vezes a mesma frase motivacional.
“Não sabendo que era impossível, foi lá e fez.”
Ele a citou oito vezes, duas no espaço de 30 segundos. Ela é atribuída ao poeta francês Jean Cocteau (1889-1963). Era uma maneira de falar sobre os quase cem anos de discussões sobre o túnel até que se chegasse ao leilão. O primeiro projeto é de 1927.
A construtora portuguesa Mota-Engil venceu a espanhola Acciona, oferecendo um desconto de 0,5%, mas a maior disputa na B3 foi para bater o martelo. Governador, ministros, deputados federais, presidente da Autoridade Portuária e secretários subiram para discursar. Foram nove no total. Houve tentativas de reescrever a história recente do projeto.
“Quero chamar todos para bater o martelo, mas aí ninguém ia testemunhar”, disse o ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos).
Ele chamou para subir ao púlpito e fazer o gesto simbólico o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
“Se tem uma coisa que não aconteceu no túnel Santos-Guarujá foi disputa por protagonismo. Desde o começo, os diálogos do governo federal com o governo estadual foram republicanos para viabilizar a obra. Ninguém ficou querendo sair na foto para deixar o outro para trás. Os dois governos deram-se as mãos para chegar no dia de hoje e celebrar essa grande contratação”, afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).
O presidente Lula e Tarcísio estiveram juntos em fevereiro deste ano para o lançamento do edital com promessas de trabalho em harmonia. Mas não foi isso o que aconteceu. Tanto que Lula, em momento de descontentamento, chegou a cogitar a federalização da obra. O custo de R$ 5,14 bilhões de investimento será dividido entre os governo federal e de São Paulo.
Lula e Tarcísio, representante do bolsonarismo, são candidatos em potencial à presidência em 2026.
“Discurso político não interessa”, desconversou o governador.
O ministro Márcio França (PSB), do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Forte, depois de afagar Tarcísio e falar sobre a convergência de Poderes, fez questão de lembrar o que fez, no passado, para que a travessia seca entre Santos e Guarujá se tornassem realidade.
Abriu o caminho para que os deputados Paulo Alexandre Barbosa (PSDB-SP) e Rosana Valle (PL-SP), chamada de “Rosana do Valle” antes de subir ao palco, fizessem o mesmo. Valle bateu o martelo sozinha. Paulo Alexandre chamou, sorridente, moradoras do bairro do Macuco que podem ser afetadas pela construção. Elas aquiesceram, com expressões sérias.
Alckmin lembrou da maquete que existia da construção de uma ponte, em vez de túnel. Na época, ele era governador de São Paulo.
“Só estamos aqui porque o porto não foi privatizado”, lembrou ele, sobre a ideia, do governo de Jair Bolsonaro (2018-2021) de entregar o complexo à iniciativa privada.
O projeto era do então ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas.
Mas, ao mesmo tempo, fazer caixa foi o que possibilitou à APS (Autoridade Portuária de Santos) ter dinheiro para arcar com o financiamento público federal para a construção do túnel agora.
Cinco vezes alguém que subiu ao púlpito pediu para “quebrar o protocolo”, sempre para chamar mais pessoas para bater o martelo.
Alex de Avila, secretário nacional dos portos, pediu a presença de um assessor que seria o “galã” da secretaria.
Para satisfazer o ego de quem não foi chamado para discursar, Tarcísio convocou prefeitos, deputados estaduais e executivos de estatais para saírem na foto. Quase não coube todo mundo quando bateu o martelo.
“Tem de bater com energia”, avisou.
A resposta foi de Alckmin. Com ironia, ele pediu mais cuidado para bater o martelo e disse, olhando para Tarcísio: “Eu, como anestesista, a mão tem de ser mais cuidadosa.”