SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um decreto nesta sexta-feira (5) que oficializa a mudança do nome do Departamento de Defesa para Departamento da Guerra.

Na semana passada, quando antecipou que faria a mudança, o republicano disse que a pasta tem de atuar “não só com defesa, mas também com ataque”.

A ordem autoriza integrantes do governo a usarem títulos como “secretário de Guerra” e “vice-secretário de Guerra” em documentos oficiais e comunicações públicas. Também orienta o secretário Pete Hegseth, à frente da pasta, a recomendar ações legislativas e executivas para tornar a mudança permanente.

O decreto ainda evidencia a tentativa de Trump de imprimir sua marca na maior estrutura governamental do país: o orçamento do departamento é o maior do mundo e, em 2024, respondeu sozinho por 39,4% de todo o gasto militar do planeta —foram US$ 968 bilhões (R$ 5,2 trilhões) alocados no setor.

O departamento emprega 2,9 milhões de servidores, sendo 1,3 milhão integrantes de forças da ativa. Há na composição geral também civis, além de 780 mil integrantes da Guarda Nacional.

Desde que voltou à Casa Branca, em janeiro, o republicano tem se empenhado pela renomeação de várias instituições e locais —uma das mudanças mais controversas foi a que alterou o nome da região do Golfo do México para Golfo da América, em ato não reconhecido pela comunidade internacional e que motivou debates sobre soberania.

Mudanças desse tipo são raras e exigem aprovação do Congresso. Embora o Partido Republicano detenha maioria apertada na Câmara e no Senado, líderes da legenda têm evitado confrontar iniciativas do presidente.

O nome Departamento de Defesa foi adotado em 1949, quando o Congresso centralizou a gestão do Exército, da Marinha e da Força Aérea após a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), como forma de transmitir que, na era nuclear, os EUA estavam focados em evitar novos conflitos.

O custo da mudança preocupa os críticos. Além de placas e papelarias oficiais no Pentágono, instalações militares em todo o mundo precisariam ser atualizadas. Para efeito de comparação, a iniciativa do ex-presidente Joe Biden de renomear nove bases que homenageavam líderes confederados estava orçada em US$ 39 milhões (R$ 212,8 milhões). A decisão do democrata foi revertida por Hegseth neste ano.

Trump, por sua vez, está sob pressão devido à sua tentativa de promover um cessar-fogo na Guerra da Ucrânia, que o levou a receber tanto Vladimir Putin quanto Volodimir Zelenski e aliados nos EUA, sem avanços perceptíveis.

Além disso, após militarizar Washington, Trump ensaia decretar intervenção federal em cidades importantes governadas por rivais democratas, como Chicago e Nova York, o que tem levado a críticas acerca de suas reais intenções.

O mais surpreendente é a assinatura do decreto no momento em que Trump busca se vender como pacificador e faz campanha aberta pelo Prêmio Nobel da Paz —o republicano diz ter solucionado vários conflitos pelo mundo.

Democratas questionam as prioridades do governo. “Por que não usar esse dinheiro para apoiar famílias de militares ou para contratar diplomatas que ajudam a prevenir conflitos?”, perguntou a senadora Tammy Duckworth, veterana das Forças Armadas e integrante do Comitê de Serviços Armados. “Trump prefere usar os militares para marcar pontos políticos em vez de fortalecer a segurança nacional”, completou.

Apesar das críticas, aliados do presidente afirmam que a mudança tem valor simbólico. “Não é só uma questão de palavras, é sobre o espírito guerreiro”, afirmou Hegseth.

A ideia, no entanto, não é nova dentro do trumpismo. Durante o primeiro mandato do republicano, Kash Patel, hoje diretor do FBI e que atuou brevemente no Pentágono, usava em seus emails a assinatura: “Chefe de Gabinete do Secretário de Defesa & do Departamento de Guerra”. “Vejo como uma homenagem à história e à herança da instituição”, disse Patel, em 2021.