SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Claudia Raia estreou como produtora em 1989, quando, aos 21 anos, patrocinou o musical “A Pequena Loja dos Horrores”, com direção de Wolf Maya. “Foi um completo fracasso, perdi todo o dinheiro, tive de vender meu carro para pagar as dívidas”, relembra a atriz, que perseverou e hoje coleciona uma cartela de títulos com mais sucessos que fiascos. A expectativa é que “Mães, o Musical”, que chega ao Teatro das Artes, em São Paulo, a partir de sexta-feira, engorde a lista de acertos.
A construção da peça até a abertura das cortinas, porém, não foi nada fácil. “Esse ano tem sido muito desafiador para o teatro musical. Todos os produtores estão enlouquecidos porque a temporada está muito difícil para captação de recursos. A situação econômica do país, agravada pela taxação dos Estados Unidos, dificultou, além da alta de custos de produção, especialmente na aparelhagem de som e luz”, conta Raia, que não estará em cena no musical porque segue em cartaz com “Cenas da Menopausa”, no Teatro Claro Mais SP.
Segundo ela, outro motivo dessa fuga de capital está na decisão de determinados patrocinadores que apoiavam o teatro musical a migrar para outro tipo de atividade, especialmente eventos esportivos. Outros criaram seus institutos, o que pulverizou os recursos.
“Ficamos órfãos, sem patrocínio para os grandes espetáculos. No caso de ‘Mães’, tive de utilizar uma verba de outra peça para aplicar nesse. Fiz um arranjo. Essa foi a produção na qual tive mais dificuldade financeira, pois foi um puxa lá, puxa daqui”, conta ela, que captou R$ 1,2 milhão dos R$ 2,3 milhões autorizados, segundo site do Ministério da Cultura.
Desde o início do ano passado, quando estreou o musical “Tarsila, a Brasileira”, Claudia Raia não investe em grandes produções. Para contar a trajetória da artista plástica Tarsila do Amaral (1886-1973), ela foi autorizada a captar cerca de R$ 7 milhões por meio das leis de incentivo, especialmente a Lei Rouanet.
“Foram três anos para conseguir todo o montante e, depois da estreia, o custo de manutenção do musical era de R$ 1 milhão por mês, que não era coberto apenas pela bilheteria”, conta.
Em suas redes sociais, a atriz publica vídeos em que valoriza as leis de incentivo. “Por que não tem Lei Rouanet nos Estados Unidos? Porque lá tem investidores e o ingresso custa US$ 300 e aqui, R$ 150. A proporção é completamente diferente”, diz em um deles. “Não sou filha da Lei Rouanet, que só foi aprovada alguns anos depois que comecei a produzir (em 1991). Comecei na raça, inúmeras vezes fui à rua 25 de Março pedir de joelhos 25 metros de veludo para o dono da loja”, complementa.
“Tarsila” conseguiu financiamento para apresentações especiais nos Teatros Municipais do Rio e São Paulo, no segundo semestre de 2026, além de excursionar por outras cinco cidades. “Quando produzo, tenho autonomia para falar sobre assuntos que me interessam no momento. Melhor que ficar esperando alguém me convidar para falar sobre algo que nem tenho interesse.”
É o que a impulsionou a investir em projetos como “Mães, o Musical” e “Cenas da Menopausa”, peças que passeiam por temas que lhes são caros. Aos 58 anos, Raia surpreendeu ao anunciar, há três anos, a gravidez do terceiro filho, Luca, em plena menopausa. “O curioso é que decidi produzir ‘Mães’ antes desses acontecimentos”, conta ela, que se empolgou com a versão do espetáculo que assistiu na Argentina, em 2022. “Ri, chorei e, na saída, liguei para meu advogado para negociar os direitos com os produtores americanos.”
Com direção de Jarbas Homem de Mello, companheiro na vida e na arte da atriz, “Mães” se passa durante um chá de bebê, no qual amigas compartilham suas experiências e desafios. Dani, papel de Jéssica Ellen, grávida do primeiro filho, recebe as amigas Júlia, vivida por Maria Bia, mãe e advogada workaholic; Márcia, personagem de Giovana Zotti, que tem cinco filhos; e Tina, interpretada por Helga Nemeczyk, uma mãe separada que tenta equilibrar trabalho, família e divórcio.
Segundo Sue Fabisch, autora do texto, letra e música, todas foram inspiradas em facetas da sua própria personalidade. “O espetáculo não romantiza a maternidade, cujas feridas só vão cicatrizar depois de quatro, cinco anos após o nascimento do bebê. Nada escapa do roteiro, como o peito que cai, o xixi que escapa, todos os fatos engraçados e bizarros da maternidade”, conta a atriz que, com a demora em viabilizar o musical, decidiu montar “Cenas da Menopausa”, em que divide cena com Homem de Mello.
Ela vive Teresa, mulher de 49 anos, mãe de dois filhos, sobrecarregada no trabalho como corretora de imóveis e que começa a sentir os primeiros sintomas da menopausa. “Assim como eu, ela sofre com ondas de calor, insônia, alterações de humor e uma enxurrada de dúvidas”, afirma Raia, que decidiu incluir um momento catártico no final do espetáculo.
“Começo a contar sobre a minha menopausa e me vulnerabilizo na frente do público, que fica chocado depois de ter dado muita risada durante uma hora e meia.” O espetáculo voltará a Portugal, onde estreou no ano passado, totalizando 67 apresentações e reunindo um público de mais de 70 mil espectadores.
Enquanto administra os três projetos, Claudia Raia ainda tem tempo para projetos mirabolantes. “Continuo com o sonho de ter um teatro inflável, capaz de levar meus espetáculos para todos os cantos do país”, diverte-se. “Como é mais pragmático, Jarbas brinca dizendo que eu deveria ter nascido na Alemanha, onde conseguiria realizar meus planos.”
MÃES, O MUSICAL
Quando Sex. e sáb., às 20h; dom., às 18h; De 5/9 a 2/11
Onde Teatro das Artes – Av. Rebouças, 3970, SP
Preço De R$ 50 a R$ 200, ingressos em eventim.com.br
Classificação 12 anos
Autoria Sue Fabisch
Elenco Jéssica Ellen, Helga Nemeczyk, Maria Bia e Giovana Zotti
Direção Jarbas Homem de Mello
CENAS DA MENOPAUS
Quando Qui. e sex., às 20h; sáb., das 17h às 20h; dom., às 18h; até 28/9
Onde Teatro Claro Mais SP – R. Olimpíadas, 360, SP
Preço De R$ 25 a R$ 250, ingressos em uhuu.com
Classificação 14 anos
Elenco Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello
Direção Jarbas Homem de Mello