SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A presença de um casal de harpias no Pantanal de Mato Grosso do Sul trouxe uma boa notícia para a ciência e para a conservação da maior águia do Brasil. Após mais de um ano de buscas, pesquisadores confirmaram em 12 de julho a reprodução ativa da espécie na região do Maciço do Urucum, em Corumbá.
A descoberta é considerada histórica. As harpias (Harpia harpyja) são raras no Pantanal, com registros mais comuns na Amazônia e na Mata Atlântica. Elas podem atingir até 2,20 metros de envergadura e pesar mais de 11 quilos, sendo uma das maiores aves de rapina do mundo.
Em julho de 2025, especialistas voltaram a Corumbá para uma expedição dedicada a encontrar ninhos de harpias no período reprodutivo da ave. A iniciativa ocorreu 13 anos depois do primeiro registro da espécie na região, feito em 2012, e reforçou a expectativa de confirmar a presença de casais ativos no Maciço do Urucum.
IMPORTÂNCIA PARA A CONSERVAÇÃO
“Presença da Harpia, essa espécie da lista brasileira que está ameaçada de extinção, a maior águia brasileira, aqui no município de Corumbá, representa que temos florestas, redutos nessas montanhas, morros e refúgios de matas, e que tem sido nesses locais onde essa espécie conseguiu sobreviver”, disse Tânia Sanaiotti, doutora em Ciências Biológicas e pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em vídeo do Instagram.
Ela alerta, no entanto, que as mudanças no uso do território representam um risco. “Com a mudança da paisagem, as passagens, o uso da floresta pela mineração, a área florestal vai ficando restrita, mas elas são uma espécie resiliente. Então, ainda Corumbá tem essas espécies aqui perto, e a gente quer trabalhar para que esses casais fiquem protegidos”, completou.
RISCOS EM ESCALA NACIONAL
A situação da espécie no Brasil é crítica. Em entrevista ao Jornal da USP, em 2021, biólogo Everton Miranda, doutor em Ecologia Aplicada, alertou: “A harpia está morrendo de fome devido à expansão da fronteira agrícola”. Segundo ele, o desmatamento e a fragmentação dos ecossistemas afetam diretamente a sobrevivência das aves, que necessitam de pelo menos 50% de floresta preservada em seu território.
“Com a redução de áreas disponíveis para as suas presas, como preguiças e macacos, sofrem um estresse alimentar que pode culminar até na morte dos filhotes, como já observamos no sul do Mato Grosso e na Amazônia diversas vezes”, disse Everton Miranda, ao jornal da USP.
Os primeiros ninhos da espécie em Mato Grosso do Sul foram identificados em Bonito, em 2005. Depois, novos registros apareceram no Parque Nacional da Serra da Bodoquena, em 2012, além de Dois Irmãos do Buriti. Em Corumbá, nunca havia sido encontrado um ninho até agora. “São apenas quatro municípios no Mato Grosso do Sul em que a gente tem registros de Harpia”, destacou Tânia Sanaiotti.
ECOTURISMO ALIADO DA PESQUISA
A descoberta também envolveu o turismo de observação de aves. Gabriel Oliveira, biólogo e mestre em Conservação e Desenvolvimento Sustentável, relatou como a atividade ajudou no achado.
“Graças à atividade do turismo de conservação de aves, tivemos a grande sorte de encontrar um ninho com um casal, um ninho ativo, em fase de construção, em julho deste ano, na região do Maciço do Urucum, na beirada do Parque Natural Municipal de Piraputangas”, disse Gabriel Oliveira, biólogo.
Para Cristina Fleming, diretora-presidente da Fundação do Meio Ambiente do Pantanal, a presença das harpias é um indicador positivo. “E, com tudo isso, reforçamos a importância e relevância das ações de conservação ambiental, principalmente com a presença de uma espécie ameaçada. É um indicativo de qualidade ambiental, evidenciando a preservação do habitat e a importância do Parque Natural Municipal de Piraputangas”, concluiu.