RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Citada na operação Carbono Oculto, que investiga elos do PCC com os setores financeiro e de distribuição de combustíveis, a distribuidora Rede Sol Fuel tem contratos milionários para o fornecimento de combustíveis a órgãos públicos federais, estaduais e municipais.

A empresa alega que não tem envolvimento com o crime organizado, que apenas compartilha espaço em uma base de distribuição com outras empresas investigadas. Diz que a participação em licitações públicas é um indicador de sua idoneidade.

Com base em dados do Portal Nacional de Contratações Públicas, a reportagem identificou contratos de cerca de R$ 500 milhões assinados desde 2023 com a companhia pelo governo federal, pelos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro e por prefeituras.

Em geral, órgãos contratantes dizem que a Rede Sol foi contratada em processos licitatórios que seguem a legislação.

A Rede Sol é citada nas investigações da Carbono Oculto como “entidade de significativa importância na estrutura da organização criminosa liderada por Mohamad Hussein Mourad”, o empresário que é apontado como um dos principais operadores do PCC.

Segundo as investigações, a empresa com sede em Ribeirão Preto (SP) é “um elo estratégico para a lavagem de dinheiro, ocultação patrimonial e operacionalização das fraudes”.

A empresa afirma que apenas cedia espaço em seu terminal para empresas investigadas por elo com o PCC. Essa cessão, afirma, só era feita a empesas com documentação em dia e aval da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis).

“[A menção nas investigações] afeta muito a imagem da gente. Uma história construída em 26 anos de atuação”, disse à reportagem o advogado da Rede Sol, Ricardo Padilha Saldanha. Ele diz que o terminal de Jardinópolis é usado por 21 outras empresas, muitas não investigadas.

O advogado afirma que Rede Sol não tinha relações comerciais com outras investigadas pela Carbono Oculto e que já entrou na Justiça para retirar do terminal a Duvale, apontada pela investigação como um dos pivôs do esquema criminoso no setor de combustíveis.

Entre 15% e 20% do faturamento da Rede Sol vêm de contratos com órgãos públicos. A empresa tem clientes em diversas esferas de governo, incluindo os comandos das três forças armadas, a Presidência da República e o STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Os dois maiores contratos foram fechados em 2024 e 2025: R$ 154,5 milhões com o comando da Aeronáutica e R$ 168,8 milhões com a Polícia Militar do Rio de Janeiro, para o fornecimento de combustíveis.

A Secretaria de Polícia Militar do Rio de Janeiro disse em nota que a contratação “ocorreu por meio de processo licitatório, dentro dos trâmites legais”. No texto, ressalta que o contato prevê a distribuição dos combustíveis automotivos em postos internos da corporação.

O Comando da Aeronáutica disse que a contratação da empresa para fornecer combustível de aviação ocorreu por processo de licitação na modalidade pregão eletrônico. “O critério de julgamento utilizado para definição da futura contratada foi o de menor preço.”

Outros contratantes públicos, como a Presidência da República, o STJ, governo de São Paulo, Comando do Exército, Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, também dizem que a empresa concorreu em licitações e assinou contratos por apresentar melhores preços.

“A Procuradoria-Geral do Estado informa que, caso comprovado o envolvimento da empresa com organizações criminosas, serão tomadas as medidas cabíveis com base nos princípios da moralidade, legalidade e interesse público”, disse o governo paulista.