ASSIS, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – A comercialização online de supostas relíquias ligadas a Carlo Acutis, o italiano morto aos 15 anos que será proclamado santo no dia 7 de setembro, levou a diocese de Assis, na Itália, a apresentar uma denúncia à polícia. Em um dos casos, fios de cabelo atribuídos a Acutis estavam sendo oferecidos por 2.000 euros (R$ 12,6 mil) em um site. A investigação cabe ao Ministério Público de Perugia.
Responsável pela investigação, o Ministério Público de Perugia identificou um suspeito residente na Itália. Ainda não está claro se os fios, que não foram encontrados, realmente existiram, se eram mesmo de Acutis e se chegaram a ser vendidos. O anúncio publicado no eBay foi removido.
O corpo de Acutis está desde 2019 no Santuário da Espoliação, em Assis, onde é exposto de forma permanente em um túmulo parcialmente envidraçado. Ele foi doado pela família à igreja local, que tem a responsabilidade de administrar as relíquias mais importantes.
Pelas regras, uma relíquia do corpo de um santo só pode ser transmitida entre comunidades católicas por meio de bispos e sem envolver pagamentos. Nesse caso, cabe ao bispo Domenico Sorrentino atender a solicitação de outras dioceses e decidir pelo envio de partes do corpo de Acutis. O bispo que recebe a relíquia certificada passa a ser responsável por ela.
Fora disso, pode ser que existam em circulação relíquias distribuídas antes que o corpo tivesse sido doado a Assis, ou objetos falsificados.
“Uma relíquia se doa ou não. Se entra no meio dinheiro, é um pecado grave, seja da parte de quem compra conscientemente, seja da parte de quem vende. É uma coisa muito grave”, diz o padre Marco Gaballo, reitor do santuário onde está Acutis.
Ele explica que existem três classes de relíquias. A mais importante é a que inclui fragmentos do corpo do santo, exposto no santuário. Considerado igualmente de primeira linha, o coração de Acutis também está em Assis, na catedral de São Rufino.
Em seguida, vêm relíquias como roupas e objetos que pertenceram a Acutis. Por fim, a terceira classe inclui peças produzidas por contato, como um pedaço de tecido deixado por dias junto ao túmulo dele. Enquanto as relíquias de contato podem ser doadas livremente, as demais só podem circular por meio de autoridades das igrejas.
O milagre que teria ocorrido no Brasil, em Campo Grande (MS), em 2013, e que levou à beatificação de Acutis, um passo antes da canonização, envolveu uma relíquia de segunda classe, um pedaço de roupa doado pela mãe do jovem à igreja local.
Padre Gaballo afirma que a potência de um milagre não tem a ver com a qualidade da relíquia. “Não tem nada de mágico ou automático. Os milagres acontecem pela fé e pela oração de quem pede”, afirma. “A relíquia pode ajudar a fé, mas não produz nada per si só, não é uma aspirina. É um convite para acreditar e rezar mais.”