SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em queda nesta sexta-feira (5), acompanhando o recuo da divisa na comparação com outras moedas no exterior.

Os investidores aguardam a divulgação do relatório de emprego dos Estados Unidos, que pode consolidar as apostas no corte de juros pelo Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) na reunião marcada entre 16 e 17 de setembro.

Às 9h13, a moeda norte-americana caía 0,38%, cotada a R$ 5,4262. Na quinta (4), ela fechou em queda de 0,12%, cotada a R$ 5,446, enquanto a Bolsa registrou alta de 0,80%, a 140.993 pontos, com as ações de bancos brasileiros impulsionando a recuperação do índice.

A desvalorização da moeda foi na contramão do exterior. O índice DXY, que compara a força do dólar com outras seis divisas do mundo, subiu 0,12%, a 98,28 pontos, ao longo do dia.

O pregão foi marcado pela divulgação de dados econômicos dos EUA que mostraram um mercado de trabalho mais fraco do que o projetado —o que reforçou as apostas de cortes de juros pelo Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos).

Dados divulgados na quinta mostraram que a criação de vagas de trabalho no setor privado dos Estados Unidos ficou abaixo do esperado em agosto.

Foram abertos 54 mil postos de trabalho no setor no mês passado, ante 106 mil em julho, mostrou o Relatório Nacional de Emprego da ADP. Economistas consultados pela Reuters previam abertura de 65 mil empregos.

Além disso, segundo o Departamento do Trabalho dos EUA, novos pedidos de auxílio-desemprego aumentaram 8.000, mais do que o esperado, na última semana, totalizando 237 mil.

Economistas consultados pela Reuters previam 230 mil pedidos de auxílio desemprego na semana encerrada em 30 de agosto.

Para Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, os dados reforçaram um desempenho mais fraco do mercado de trabalho americano

“A ideia realmente é que o mercado de trabalho dos EUA está desacelerando, pouco a pouco. Isso ajuda a consolidar as apostas por um corte de juros pelo Federal Reserve na decisão de setembro”, afirma.

Segundo Rodrigo Moliterno, head de renda varável da Veedha Investimentos, por outro lado, o mercado ainda permanece atento a divulgação de novos dados econômicos dos EUA.

O payroll de agosto, relatório que mede a criação de vagas e a taxa de desemprego e que é utilizado pelo Fed em sua política monetária, será divulgado nesta sexta (5).

No mês passado, o chair do Fed, Jerome Powell, sinalizou um possível corte na taxa de juros na reunião do banco central dos EUA em 16 e 17 de setembro, mas evitou se comprometer.

Analistas também monitoraram as incertezas da política comercial de Trump e a ofensiva do republicano ao Fed.

Na última sexta-feira (29), um tribunal dos Estados Unidos decidiu que as tarifas recíprocas de Trump são ilegais. O tribunal também determinou que as tarifas podem permanecer em vigor até 14 de outubro para permitir recursos à Suprema Corte americana.

Trump, na noite da última terça, cobrou uma decisão rápida da Suprema Corte sobre as tarifas. “É uma decisão muito importante e, francamente, se eles tomarem a decisão errada, será uma devastação para o nosso país”, afirmou.

Enquanto isso, o presidente americano mantém sua pressão a autonomia do Fed, em busca de um maior controle sobre o banco central.

Trump anunciou a demissão da diretora do Fed Lisa Cook na última semana. Após dizer que o republicano não tinha autoridade para demiti-la, a diretora entrou com uma ação judicial contra Trump.

Acredita-se que a ação judicial movida por Cook seja o primeiro passo de uma longa batalha que deve ser resolvida pela Suprema Corte americana.

No cenário doméstico, as atenções estão voltadas para os desdobramentos da decisão do BC (Banco Central) de rejeitar a compra do Banco Master pelo BRB.

De acordo com pessoas a par da decisão do BC ouvidas pela Folha, o risco de sucessão foi uma das razões para a negativa.

Esse risco acontece porque o futuro responsável pelo negócio, no caso o BRB, teria que assumir todas ou grande parte das operações não conhecidas do Master.

As ações do Banco de Brasília chegaram a desabar mais de 14% ao longo do pregão desta quinta.

As tensões comerciais entre Brasil e EUA também continuam no radar do mercado interno. De acordo com Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Comércio, Indústria e Serviços), as exportações brasileiras para os Estados Unidos caíram 18,5% em agosto na comparação com mesmo período do ano passado em meio ao tarifaço.

Além disso, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que começou nesta semana, promete acirrar a relação conturbada entre os países.

Quando Trump anunciou a tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros em julho, ele vinculou a decisão, entre outros pontos, a uma suposta “caça às bruxas” que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) seria vítima.

A primeira semana do julgamento do ex-presidente foi marcada pela leitura do relatório do caso, pela acusação da PGR (Procuradoria Geral da República) e pela defesa dos reús. A sessão será retomada na próxima terça (9) com os votos dos ministros do STF.

Ministros do STF dizem esperar uma escalada de ataques de Donald Trump contra eles por causa do julgamento.

Paralelamente, líderes do centrão e da oposição pressionam por um pacote de anistia que beneficie o ex-presidente. O movimento é liderado pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, (Republicanos), que desembarcou nesta semana em Brasília para atuar na linha de frente da articulação.

Na noite desta terça, Alcolumbre afirmou rejeitar uma anistia ampla e disse que vai apresentar e discutir um projeto de lei alternativo.

De acordo com líderes do centrão, contudo, há cerca de 300 votos na Câmara em prol de uma anistia ampla, que evite a prisão de Bolsonaro. O número já supera os 257 necessários para aprovar a urgência do projetos.