SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Vai a leilão nesta sexta-feira (3) à tarde, na B3, o túnel Santos-Guarujá, obra tocada pelos governos Lula (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos).

A concessão para operação do túnel terá duração de 30 anos.

A empresa vencedora deverá ainda apresentar projetos de mitigação e compensação ambiental. A previsão é que a obra tenha início no ano que vem e fique pronta em 2028.

Segundo a gestão Tarcísio, o túnel será o primeiro do tipo no Brasil, com 1,5 km de extensão, com três faixas por sentido, faixa exclusiva para o VLT, e galeria para pedestres e ciclistas.

O investimento previsto no contrato é de R$ 6,8 bilhões por uma concessão por 30 anos. Trata-se de uma PPP (parceria público-privada) patrocinada. O valor da tarifa está determinada em R$ 6,15 para carros, R$ 3,07 para motos e R$ 18,35 para ônibus e caminhões.

A maior parte dos recursos (R$ 5,14 bilhões) será dividida entre governo federal, por meio da APS, e o de São Paulo. O restante (R$ 1,66 bilhão) virá da iniciativa privada.

A concessionária ficará com o valor do pedágio e com as contraprestações públicas anuais pagas pelos governos federal e estadual. Vencerá o leilão quem propuser o menor valor desses pagamentos, previstos para ficarem entre R$ 430 milhões e R$ 550 milhões. Este valor será pago pelo Governo de São Paulo.

Apresentaram propostas para o leilão apenas duas empresas: a espanhola Acciona e a portuguesa Mota-Engil.

TÚNEL SANTOS-GUARUJÁ, UMA IDEIA DE CERCA DE CEM ANOS

Hoje as duas cidades do litoral paulista são conectadas por terra, em um caminho que leva 43 quilômetros e pode durar cerca de uma hora, ou por balsas, cuja travessia leva 18 minutos, sem contar o tempo de fila.

As balsas competem no canal com os gigantescos navios cargueiros que entram e saem do Porto de Santos, o maior da América Latina em movimentação de contêineres. Quando o túnel ficar pronto, a travessia deve ser feita em dois a três minutos, e o canal ficará mais livre para a movimentação dos navios cargueiros.

O projeto para o túnel rejeitou a opção de cavar o subsolo devido a instabilidades geológicas da região, segundo o governo de São Paulo, e uma ponte foi descartada devido à altura dos navios cargueiros que por ali passam e à Base Aérea de Santos, que fica nas proximidades.

A via terá 1,5 quilômetro, dos quais 870 metros serão de túnel submerso. O túnel será construído em seis partes de concreto, em um canteiro de obras próximo. Depois de as partes ficarem prontas, o canteiro de obras é inundado e os segmentos, que boiam por estarem temporariamente vedados, são rebocados até o canal. É então bombeada água para piscinas provisórias dentro dos segmentos, para que eles afundem até encontrarem o leito, já preparado para recebê-los.

O túnel tem custo estimado de R$ 5,78 bilhões, dos quais R$ 4,96 bilhões serão custeados meio a meio entre governo federal e governo estadual —será o maior projeto do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). As obras devem começar em 2026, e a previsão é de durarem três anos.

O consórcio vencedor construirá o túnel e irá operá-lo por 30 anos —em troca, cobrará pedágio dos veículos e caminhões que por ali transitarem e receberá uma contraprestação anual do governo. Vencerá o leilão o consórcio que oferecer o maior desconto na contraprestação do poder público.

Segundo engenheiros da APS, o projeto não está fechado porque a empresa que vencer a concorrência para realizar a obra terá liberdade para propuser modificações que tornem o processo mais eficiente, rápido e de menor custo. Mas qualquer alteração terá de ser analisada e validada pela Autoridade Portuária e por técnicos do governo estadual.

Na visão de pessoas ouvidas pela reportagem, a maior margem para mudanças está nas vias de acesso ao túnel, tanto em Santos quanto em Vicente de Carvalho, distrito no Guarujá. É também a questão mais polêmica do projeto por causa de desapropriações propostas a moradores do bairro do Macuco.

Para a APS, não há como modificar a essência do projeto, os 870 metros de percurso a 21 metros abaixo do nível do mar. Isso poderia acontecer apenas em pontos específicos que podem melhorar a tecnologia empregada.

Um dos primeiros passos da obra será fazer a dragagem do trecho do canal onde estará o túnel para chegar à profundidade proposta no edital.

Os modelos de pré-moldados serão construídos em um dique seco a ser montado no Guarujá. Quando estiverem prontos, eles receberão balões para que, quando o dique se encher de água, a estrutura flutue. Servirá para testá-la e prepará-la para levar ao canal.

Assim que isso acontecer e e eles forem colocados no local exato, a estrutura será puxada por embarcações para a posição exata no canal. Os balões serão esvaziados de maneira lenta, e as vedações, retiradas para que os módulos se encham de água e comecem a descer, aos poucos. Também pode ser usado o auxílio de cabos de aço.

Essa parte é vista pelos técnicos como algo que pode ser modificado porque o vencedor da licitação pode propor formas mais convenientes de realizar a tarefa.

Quando as peças estiverem no fundo do canal, serão unidas, formando o túnel, que ainda será batizado.

“Existem vários túneis como esse no mundo, mas nenhum no Brasil. Será o primeiro. Mas depois desse túnel, outros serão construídos com essa mesma tecnologia”, afirma Áureo Figueiredo, engenheiro também especialista em porto e diretor da Faculdade de Engenharia da Unisanta (Universidade Santa Cecília), em Santos.

“Abrir túneis é uma técnica dominada. O que essa tem de diferente é que será preparada no leito marinho. Os elementos serão construídos fora, em um estaleiro, e rebocados até o local. Vai exigir muito controle de topografia porque serão imersos, serão tiradas as vedações, vão se encher de água e descer”, completa.

TÚNEL FEHMARNBELT SERÁ O MAIOR DO TIPO DO MUNDO

Uma das inspirações para o túnel entre Santos e Guarujá, o túnel entre a Alemanha e a Dinamarca já está em construção e é hoje o maior canteiro de obras da Europa.

Em junho de 2024, o rei da Dinamarca, Frederik 10, inaugurou o primeiro elemento de concreto que comporá o túnel. No total, serão 89 elementos, cada um de 42 metros de largura por 270 metros de comprimento e pesando cerca de 70 mil toneladas.

Juntos, eles formarão os 18 quilômetros de túnel que conectará a cidade dinamarquesa de Rødby à vila alemã de Puttgarden, que fica na ilha de Fehmarn. O túnel terá duas pistas para carros e caminhões em cada direção e duas linhas ferroviárias. Quando ficar pronto, a ligação direta entre Hamburgo e Copenhagen terá 330 quilômetros.

A obra faz parte de uma iniciativa mais ampla da União Europeia para construir uma conexão mais rápida por trem entre o norte e o sul do continente e desincentivar o uso de aviões, que emitem muitos gases do efeito estufa. Outra grande obra que integra essa iniciativa é o túnel de base do Brennero, que corta os Alpes entre a Áustria e a Itália e terá 55 quilômetros —será o segundo maior túnel ferroviário do mundo.

O custo estimado do túnel Fehmarnbelt e suas conexões é de cerca de 7,4 bilhões de euros (R$ 48 bilhões). O túnel imerso custará 6,6 bilhões de euros (R$ 43 bilhões) e é financiado integralmente pela Dinamarca. A Alemanha investirá cerca de 800 milhões de euros para conectá-lo à rede alemã de rodovias e ferrovias.

A obra deve ficar pronta em 2029, e o pedágio por veículo de passeio deve custar cerca de 70 euros (R$ 453). Será o maior túnel de uso ferroviário e rodoviário do mundo, e o maior túnel imerso do mundo.