SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Neste sábado (6), o tarifaço dos EUA sobre o Brasil completa um mês em vigor. Falamos sobre os primeiros impactos percebidos nas exportações.
Também aqui: a ressaca da negativa do Banco Central para o negócio entre Master e BRB, Raízen desiste do sonho de ser mãe (do Oxxo) e outros destaques do mercado nesta sexta-feira (5).
**UM MÊS DE TARIFAÇO**
Neste sábado, dia 6 de setembro, a sobretaxa de 50% estabelecida pelo governo de Donald Trump sobre as exportações do Brasil para os EUA completa um mês em vigor. Os primeiros resultados da briga comercial e política aparecem.
REFRESCANDO A MEMÓRIA
Quase todos os produtos brasileiros estão sujeitos a uma taxa alfandegária de 50% na exportação para os Estados Unidos, um dos principais parceiros comerciais do país.
Há uma lista de aproximadamente 700 itens isentos da tarifa. Ela inclui peças de aviação, alimentos e veículos.
Produtos relevantes para as exportações brasileiras como o café e a carne não tiveram isenção.
OS RESULTADOS
As exportações brasileiras para os EUA caíram 18,5% em agosto, na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Comércio, Indústria e Serviços).
Mesmo assim, houve alta de 3,9% das exportações totais do Brasil no mês passado.
O QUE SAIU DE CENA
Em termos de volume de exportação para o território americano na comparação ano a ano, as maiores perdas foram:
– Minério de ferro, com queda de 100% (ou seja, o país não exportou o produto para os EUA);
– Aeronaves e partes, com recuo de 84,9%;
– Açúcares e melaço, 88,4%;
– Produtos semiacabados de ferro e aço, 24,4%;
– Óleos combustíveis de petróleo, 37%.
O QUE ENTROU
Por outro lado, o Brasil conseguiu expandir o comércio com outros países, o que pode ajudar a suprir um pouco da ausência da demanda americana.
– As vendas externas para a China aumentaram 31% em relação a agosto de 2024;
– Para o México, 43,82%;
– Para a Argentina, 40,37%.
Há nuances. Os recuos atingiram tanto produtos taxados quanto isentos. No caso dos isentos, o Mdic avalia que houve antecipação de embarques em julho, o que reduziu o volume exportado em agosto.
**CARTÃO RECUSADO. E AGORA?**
Você leu nesta quinta-feira aqui que o Banco Central rejeitou a compra do Banco Master pelo BRB (Banco de Brasília). No dia após o conhecimento da decisão, o mercado financeiro reagiu ao “não”.
Relembre: o BRB anunciou a compra de uma fatia de 58% do Master em março deste ano. A partir de então, uma série de imbróglios envolvendo o banco comandado por Daniel Vorcaro veio à tona.
A emissão de CDBs com rendimentos excessivamente altos, lastreados pela garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) e a posse de vários ativos de maior risco e baixa liquidez evidenciaram a fragilidade da estrutura bancária do Master.
Parte dos ativos do banco foi apelidada de bad bank (banco ruim), enquanto os investimentos mais triviais e estruturados são chamados de good bank (banco bom).
Depois disso, o BRB reduziu a primeira proposta pela metade, passando a negociar a compra de apenas um terço dos ativos da outra instituição em uma tentativa de se livrar desses ativos ruins citados.
As confusões culminaram em mudanças no FGC e na rejeição da operação entre os bancos pelo BC.
Caso o resumo não tenha sido suficiente para refrescar sua memória, clique aqui e encontre um relato mais extenso sobre o caso.
EM ORDEM CRONOLÓGICA OU ALFABÉTICA?
É o que o BC poderia ter perguntado quando questionado sobre os motivos para rejeitar a compra pelo BRB.
O risco de sucessão teria sido o principal, segundo fontes a par da decisão. Ele consiste no perigo do futuro responsável pelo negócio, no caso o banco do Distrito Federal, ter que assumir todas ou grande parte das operações não conhecidas do Master.
Esses compromissos podem custar muito dinheiro para o estatal, que não teria patrimônio suficiente para fazer frente ao risco.
FGC NA RETA
As atenções do setor bancário se voltaram para o Fundo Garantidor de Crédito após a negativa da autarquia. Sem um comprador, o Master pode não conseguir honrar o pagamento dos CDBs que emitiu e há risco de que o calote consuma cerca de 40% do fundo.
A maioria do financiamento do banco de Vorcaro vem de CDBs: eles correspondem a 62% dos depósitos na instituição.
Sim, mas apesar do rombo no FGC no caso de calote ou falência do Master, especialistas não veem o fim da instituição como um risco sistêmico para o setor bancário.
E AGORA?
Estamos longe de um desfecho. O BRB ainda analisa a decisão do BC e pensa nos próximos passos.
Agora é entender a viabilidade do negócio para fatiar os ativos e vendê-los ou se a liquidação é a melhor saída”, diz Rafael Schiozer, professor de Finanças da FGV-SP.
**¡HASTA LÁ VISTA, RAÍZEN!**
Caro leitor, você deve se lembrar de que falamos sobre mudanças na companhia na edição desta quinta-feira da newsletter.
Na quinta-feira, a empresa anunciou mais um passo da reestruturação, a qual pretende diminuir seu endividamento que hoje chega a R$ 49,2 bilhões.
A Raízen encerrou a joint venture que mantinha desde 2019 com o grupo mexicano Femsa para gerenciar os mercados Oxxo no Brasil.
Joint venture é uma junção de duas empresas para um fim específico.
POR QUÊ?
Para simplificar as atividades que a companhia exerce. A Raízen é uma joint venture entre a britânica Shell e a brasileira Cosan para a produção de etanol de segunda geração e outros biocombustíveis.
Só por essa descrição já se percebe que a operação de lojinhas de conveniência não está dentro do escopo de uma companhia de combustíveis sustentáveis, certo?
O primeiro passo para o cumprimento de uma das promessas da Raízen para os acionistas em nome de melhorar o balanço operacional era se livrar do Oxxo. O movimento anunciado ontem, portanto, era esperado pelo mercado.
A análise de investidores é de que a dissolução do negócio com a Femsa demonstra compromisso da companhia com a meta as ações dela terminaram o dia em alta de 1,57% na bolsa brasileira.
Sim, mas a joint venture não sairá totalmente do varejo. Pelo acordo entre as duas partes, a Raízen receberá 1.256 lojas de conveniência Shell Select e Shell Café.
A mexicana fica com o controle total dos 611 mercados Oxxo no Brasil e o centro de distribuição em Cajamar, além de dívidas e do caixa que estava disponível para a empreitada conjunta.
A justificativa da empresa para manter a operação das lojas nos postos de gasolina é que ela está focada na oferta integrada Shell.
E o Oxxo? Acabou? Até o momento, parece que não. A companhia estrangeira disse, em comunicado separado, que a estrutura no Brasil é uma de suas prioridades estratégicas.
**PARA OUVIR**
Hard Fork
Podcast do jornal The New York Times. Episódios semanais.
É difícil acompanhar tudo o que acontece no mercado da tecnologia. Essa missão se complica cada vez mais, à medida que o universo das big techs se entranha na política global.
O podcast propõe discussões sobre as empresas, figurões e inovações do setor. O episódio da última semana, por exemplo, versa sobre o novo acordo entre o governo americano e a Intel (sobre o qual você já leu nesta newsletter) e a atuação da família Trump em negócios da tecnologia.
A ideia é olhar para o futuro da tecnologia que já está entre nóse entender o que ele pode mudar no nosso cotidiano.
Os episódios estão disponíveis em serviços de streaming, como Spotify, Deezer, Apple Podcasts e no aplicativo do jornal The New York Times.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
Desconfiados. A maioria dos brasileiros diz confiar na inteligência artificial, mas o índice encolheu nos últimos cinco anos, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva em parceria com a QuestionPro.
Adeus a Giorgio Armani. Entenda como o mercado da moda pode mudar sem um de seus nomes mais importantes na difusão.
Genérico? Ainda não. A Justiça do DF atendeu o pedido da Novo Nordisk e ampliou a validade da patente da liraglutida, princípio de canetas como Victoza e Saxenda, usadas para diabetes e emagrecimento.
O susto passou? A União Europeia reconheceu o Brasil como um país livre da gripe aviária, o que pode facilitar a retomada do comércio de carne de frango com alguns países do bloco.
O que rolou? Investidores foram pegos de surpresa quando um dos maiores fundos de pensão da Europa, o PFZW, retirou quase R$ 90 bilhões da BlackRock e mudou sua estratégia.