SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta sexta-feira (5) que quaisquer tropas ocidentais em solo da Ucrânia serão consideradas um “alvo legítimo” para suas forças.
“Se alguns soldados aparecerem lá, especialmente agora, durante operações militares, nós vamos partir do fato de que eles serão alvos legítimos para destruição”, afirmou o presidente em Vladivostok, no Extremo Oriente russo, onde participou de um fórum econômico após visitar a China.
Sua fala reitera uma posição conhecida do Kremlin, mas o momento é diverso: na véspera, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse que 26 países aliados a Kiev estão dispostos a participar de alguma forma de uma força de paz para garantir aos ucranianos proteção contra novas invasões em caso de um cessar-fogo.
Para Moscou, isso não funciona, dado que o ataque ao vizinho em 2022 foi calcado, entre outros motivos, na premissa de evitar o ingresso da Ucrânia na Otan, a aliança militar ocidental que vem se expandindo a leste desde o fim da Guerra Fria.
“Se chegarmos a decisões que levem à paz de longo termo, então eu simplesmente não vejo nenhum motivo para a presença deles [ocidentais] no território da Ucrânia, ponto”, disse o russo.
Ele também voltou a dizer que pode se encontrar para discutir o fim da guerra com o rival Volodimir Zelenski, mas só se a reunião ocorrer em Moscou. O presidente ucraniano diz que isso é inaceitável, e propõe um território neutro.
O chanceler ucraniano, Andrii Sibiha, postou em suas redes que Putin “continua a enganar todo mundo fazendo propostas que são reconhecidamente inaceitáveis” para o lado ucraniano.
“Estamos preparando uma força em terra, ar e mar que, simplesmente trabalhando conforme o planejado, pressionará a Rússia a interromper a guerra”, afirmou Zelenski, exagerando um pouco no otimismo.
Falta uma peça fundamental ao arranjo, que é Donald Trump. O presidente americano deu impulso diplomático para tentar uma trégua ao reunir-se com Putin no Alasca e com Zelenski, ladeado por seis líderes europeus, três dias depois, na Casa Branca.
Isso foi em meados de agosto. Desde então, Trump se diz “decepcionado” com Putin e critica países que compram petróleo russo, como a Índia sobre a qual impôs sobretaxas de importação por esse motivo, mas na prática apenas reitera que “em uma semana, ou duas” irá saber a disposição russa.
Já se passaram três semanas da cúpula em Anchorage e nada. Relatos na mídia americana sugerem que o presidente pode se desengajar totalmente do conflito, deixando o problema para a Europa, e talvez nem aplicar punições secundárias a quem faz comércio com a Rússia como o Brasil, que compra do país de Putin 60% do diesel que consome.
Por outro lado, a rede NBC afirmou que o americano considera assumir o monitoramento de uma área tampão na linha de frente entre os rivais pelo ar, o que poderia ser uma medida intermediária, sem presença de forças ou mesmo aviões aparelhos de sensoriamento podem operar de fronteiras próximas, como na Polônia.
Macron não detalhou o que seriam as contribuições à força de paz que discutiu em Paris com líderes europeus na quinta (4).
De seu lado, Putin passou a semana em uma viagem que lhe lustrou a imagem de um líder menos isolado do que o Ocidente gostaria, sendo o principal convidado do espetáculo de força da parada militar liderada por Xi Jinping pelos 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial.
Nesta sexta, o porta-voz do russo, Dmitri Peskov, afirmou que apesar dos vaivéns devido ao conflito na Ucrânia, o Kremlin acredita que uma nova reunião entre Trump e Putin poderá ocorrer “muito em breve”.
Em solo, a violência segue com troca de ataques aéreos. A Rússia também anunciou ter conquistado mais uma cidade no leste ucraniano, mantendo o avanço dos últimos meses na região.