SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ruas e terrenos que integram projeto de lei que desincorpora ao menos 13 vias do poder público em São Paulo já não são usufruídas pela população. Com poucos imóveis e sem movimento, uma delas nem sequer aparece em um serviço de mapas e navegação online, pois está há anos obstruída por duas empresas na Vila Leopoldina, na zona oeste da capital.

Esse é o caso da rua Olga Lopes de Mendonça, que oficialmente é uma via municipal. Na prática, uma de suas entradas foi fechada com um muro branco que separa o estacionamento da Cobasi Villa-Lobos, a primeira loja da rede de pet shops, inaugurada em 1992, da clínica Sainte Marie, que está desativada. O outro acesso virou espaço de carga e descarga para a loja de produtos para animais.

Em nota, a Cobasi afirma que a rua é utilizada exclusivamente para operações de carga e descarga de mercadorias, prática comum no varejo. A rede diz ainda que os caminhões permanecem no local apenas durante o procedimento de abastecimento, sem causar obstrução ao tráfego ou uso irregular da via.

No entanto, a empresa já recebeu uma notificação da Subprefeitura da Lapa por utilização de espaço público sem autorização. Sobre isso, a rede, que ressaltou ser locatária do imóvel da loja na Vila Leopoldina, declarou que prestará todos os esclarecimentos aos órgãos competentes. A Folha de S.Paulo tentou contato com a clínica Sainte Marie, mas não teve retorno.

Com o projeto de lei aprovado na última quarta-feira (3) pela Câmara Municipal, espaços como a rua Olga Lopes de Mendonça passam para a iniciativa privada. A cerca de 10 km dali, nos Jardins, a travessa Engenheiro Antônio de Souza Barros Júnior liga a alameda Lorena a uma vila residencial que já não existe mais.

Ela foi demolida e dará lugar a um empreendimento imobiliário. Na entrada da alameda há dois restaurantes permanentemente fechados, um de cada lado da via. A dona de uma banca localizada na esquina diz se lembrar de quando eles abriram e também quando fecharam, após cerca de seis meses. “Vivemos tempos difíceis”, diz Florislene Souza.

Segundo ela, as casas da vila residencial também tinham se transformado em restaurantes. No fim de semana a travessa lotava, o que refletia no movimento da banca também. Agora, a expectativa dela é que o novo empreendimento também traga mais pessoas para o comércio.

Perto dali, um terreno baldio de 140 m² também foi destinado à iniciativa privada. Ele fica entre a avenida Presidente Juscelino Kubitschek e a rua Leopoldo Couto Magalhães Jr, entre uma loja de fast food e uma agência bancária. Na frente, fica o famoso “prédio da baleia”, no Itaim Bibi, na zona oeste da capital.

Na rua Aurora Dias, na Vila Olímpia, a situação é parecida. Ali a via é sem saída e, no passado, era acessada por meio de um portão. Maria José Alves Medeiros trabalha como segurança na empresa que fica ao lado do trecho e que já está ali há dez anos.

A remoção do portão trouxe alguns problemas para ela, pois os trabalhadores do prédio comercial do outro lado da Aurora Dias passaram a estacionar automóveis no local. “Era tanto carro aqui, lotava”, relata. Com isso, os caminhões da empresa onde trabalha não conseguiam sair do estacionamento cujo acesso fica no fim da via.

A solução foi redobrar a atenção aos carros e motos que chegam e improvisar um cordão para demarcar locais onde os veículos podem parar sem prejudicar ninguém. Houve situações em que precisou acionar a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) para notificar os proprietários dos veículos, mas com a rua cedida à iniciativa privada isso não será mais possível.

O texto aprovado pelos vereadores segue para sanção do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Ele foi aprovado em primeira votação no fim de junho e é de autoria do próprio Executivo.

Além do projeto de lei, há mais uma negociação de venda de via pública para a iniciativa privada na cidade. Trata-se de um trecho da alameda das Artes, no Itaim Bibi, acesso de cerca de 100 metros que liga a avenida Juscelino Juscelino Kubitschek à rua Fernandes de Abreu, e margeia o “prédio da baleia”.

A gestão confirmou a negociação avaliada em R$ 6 milhões e afirmou que “a decisão final dependerá de uma rigorosa verificação do interesse público”.

Há previsão de que os recursos arrecadados nessas transações sejam destinados ao Fundo de Habitação de Interesse Social para a construção de unidades habitacionais para a população de baixa renda.