PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil do Rio Grande do Sul investiga um caso de supostos maus-tratos e eutanásias indevidas de cães pela Secretaria de Bem-Estar Animal de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre.

Nesta quinta-feira (4), foram cumpridos mandados de busca e apreensão na secretaria, na casa da ex-titular da pasta Paula Lopes e em outros quatro endereços. Na sede da secretaria, agentes encontraram 14 animais mortos, congelados em um freezer.

Segundo a polícia, a investigação teve início após denúncias sobre o aumento do número de eutanásias entre janeiro e agosto deste ano, período em que Paula esteve à frente da pasta: foram cerca de 240 sacrifícios em oito meses.

Pelas redes sociais, a ex-secretária disse que está tranquila e atribuiu a situação a motivos políticos. “O meu objetivo vai ser sempre ajudar os animais, só que isso incomoda quem usa essa pauta, quem usa essa causa”, disse.

Em vídeo, ela fala que enfrenta denúncias desde as primeiras semanas que esteve à frente do cargo. “As pessoas que perdem algo não querem perder e começam a fazer denúncias infundadas”, disse. “Aceitei o desafio em janeiro esse ano e desde lá virou esse caos.”

Paula é investigada pelos possíveis crimes de estelionato e maus-tratos a animais. Também foram alvos da operação o companheiro dela e uma veterinária que autorizava as eutanásias.

De acordo com a delegada Luciane Bertoletti, responsável pelo caso, o número de animais eutanasiados por semana variava entre 15 e 30.

A investigação começou em março, após o recebimento de denúncias de pessoas ligadas à secretaria e de moradores da comunidade que levavam seus animais para tratamento. Tempo depois, uma ONG de cuidado com animais também procurou a polícia para registrar nova denúncia sobre as ações.

Segundo Luciane, a investigação apontou que, no período que Paula esteve à frente da pasta, “havia uma eutanásia em massa de bichos, sem qualquer tipo de justificativa”.

O motivo, diz a delegada, seria reduzir os custos da secretaria. “Bichos que passam por tratamento custam muito mais para o município do que a própria eutanásia. A eutanásia é bem mais fácil e mais econômica.”

De março até agora, a polícia colheu depoimentos de pessoas relacionadas às denúncias, incluindo a ex-secretária.

A polícia também apura um possível desvio de doações via Pix para uma suposta campanha de resgate de animais feita pelo Instituto Paula Lopes, ONG liderada pela ex-secretária. O instituto tem mais de 360 mil seguidores no Instagram.

Durante os mandados de busca e apreensão, foram recolhidos documentos, o celular de Paula e uma quantia de R$ 76 mil em espécie encontrada na casa da ex-secretária.

A delegada disse que outras suspeitas surgiram acompanhando as atividades de Paula nas redes sociais como protetora de animais.

“Começamos a perceber uma prática reiterada de recolher bichos de rua, bichos sempre muito doentes, bichos que causam comoção, com tumor, com uma fratura exposta. Mas esses bichos, pelo que nós acompanhamos, nunca apareciam tratados ou saudáveis”, disse Luciane.

Paula Lopes assumiu o cargo em janeiro após a posse do prefeito Airton Souza (PL). Em comunicado, a Prefeitura de Canoas disse que recebeu com indignação as denúncias e vai colaborar com as investigações, além de abrir um expediente interno para apurar os fatos.

“A administração municipal sempre se comprometeu a tratar o cuidado com os animais como prioridade”, diz a nota.