SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Três anjinhos de madeira se apoiam sobre a moldura de um espelho ornamentado. Mas nenhum objeto é o que parece ser em “Invocação do Mal”. Por trás da inocência daquela peça de antiquário, da boneca Annabelle ou do palhacinho de uma caixa de música, forças malignas se escondem.
No quarto e último filme da saga dos investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren, que chega aos cinemas nesta semana, o espelho é a porta de entrada não apenas para os espíritos que assombram a família coadjuvante da vez, mas para os próprios demônios internos do casal protagonista.
“Invocação do Mal 4: O Último Ritual” é o capítulo mais pessoal de toda a franquia, se é que se pode definir desta forma uma coleção de histórias baseadas em acontecimentos reais, mas que demandam uma dose grande de crença no divino e no sobrenatural por parte do espectador.
Adequado para um roteiro que pretende, mais do que oferecer um terror de casa mal-assombrada, amarrar pontas soltas que ficaram desde que a família Warren foi apresentada aos cinemas, há 12 anos. Neste quarto filme, seus dramas pessoais incluem a saúde debilitada de Ed, o casamento de sua filha e o desgaste de seu ofício num mundo menos espiritualizado.
Sobra até para o cinema, visto naqueles anos 1980, quando “O Último Ritual” se passa, como um dos responsáveis por deixar as pessoas mais céticas e menos impressionáveis. Numa palestra de Ed e Lorraine, as luzes da sala de aula se acendem para revelar meia dúzia de universitários desinteressados, até que um cantarola a música-tema de “Os Caça-Fantasmas”, em tom zombeteiro.
“Quando eu vendi minha ideia para o estúdio lá atrás, eu disse que queria fazer um filme de drama que, por acaso, estivesse rodeado de elementos do horror”, diz James Wan, produtor, diretor e roteirista que concebeu a franquia superpopular da Warner Bros. “A dinâmica familiar, as relações, o amor entre os personagens sempre foram muito importantes, e acho que isso foi um acerto.”
De lá para cá, foram nove filmes, incluindo aqueles das sagas “Annabelle” e “A Freira”, acumulando cerca de US$ 2,2 bilhões, ou R$ 12 bilhões, em bilheteria. Patrick Wilson e Vera Farmiga, como Ed e Lorraine Warren, alcançaram novos níveis de popularidade e a boneca Annabelle se tornou um símbolo do terror em Hollywood.
“Precisávamos dar uma conclusão grande e emocionante para os Warren, ao mesmo tempo em que tínhamos essa história baseada no caso da família Smurl, que é muito conhecido. Equilibrar as duas coisas foi o grande desafio”, diz Michael Chaves, que assumiu a direção dos filmes da saga a partir de “Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio”, de quatro anos atrás.
“O Último Ritual” acompanha um dos casos derradeiros de Ed e Lorraine. Já aposentado, o casal passa a ser perseguido por um demônio que enfrentaram, sem derrotar, ainda no começo da carreira. A entidade manda recados aos demonologistas por meio de sua filha, que herdou a sensibilidade para o sobrenatural da mãe, apesar de já ter encontrado uma outra família para assustar.
Não demora até os Warren decidirem pegar novamente a Bíblia para ajudar os Smurl, depois que seu caso se torna hipermidiático e gera curiosidade em todos os Estados Unidos. Sua casa, dividida pelos pais, os avós, as filhas e um cãozinho, é palco de fenômenos como cacos de vidro que aparecem em pratos de comida, camas que tremem e aparições violentas, que põem os anos de experiência do casal em xeque.
O filme retoma o elemento de casa mal-assombrada que marcou o primeiro e o segundo capítulos de “Invocação do Mal”, mas que havia sido parcialmente abandonado no terceiro. Vultos e barulhos se alternam pelos cômodos habitados pelos Smurl, gerando um pavor que depende mais do clima de tensão e mistério do que de sustos em si.
Para Chaves, dirigir esse tipo de cena é como fazer truques de mágica ou criar um jogo que sugere e engana o espectador, repetidamente. Mas o objetivo do diretor, além de apavorar o público, era ainda ser respeitoso com as filhas da família Smurl, com quem conversou durante o processo de pesquisa para “O Último Ritual” e para as quais aqueles espíritos e demônios foram muito reais.
Incerteza sempre foi um elemento fundamental da franquia “Invocação do Mal”. Seus filmes, repletos de simbolismo religioso e de penduricalhos que remetem aos diários deixados por Ed e Lorraine, mortos em 2006 e 2019, respectivamente, provocam o espectador e testam sua crença no divino e no sobrenatural. Aqueles acontecimentos foram mesmo reais?, indaga cada um dos quatro filmes.
Para Wan, porém, a franquia não faz nada além de atualizar elementos canônicos do terror, explorados pelo cinema há décadas. O legado que “Invocação do Mal” deixa, para o produtor, é um de respeito ao passado, em oposição a um momento em que mensagens mais cabeçudas tomam o gênero.
“Essa abordagem pós-moderna para o terror é interessante, porque mostra que o gênero pode explorar diferentes temas. Mas a razão para Invocação do Mal ainda funcionar tão bem é o fato de lidar com emoções humanas muito clássicas independentemente de contextos econômicos ou políticos, o que todos queremos é proteger aqueles que amamos.”
INVOCAÇÃO DO MAL 4: O ÚLTIMO RITUAL
– Quando Estreia nesta quinta (4), nos cinemas
– Classificação 16 anos
– Elenco Vera Farmiga, Patrick Wilson e Mia Tomlinson
– Produção Reino Unido, EUA, 2025
– Direção Michael Chaves