SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Para Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, curador geral da 36ª Bienal de São Paulo, a exposição que abre neste sábado na capital paulista é uma forma de fazer frente à violência e às crises sociais que se alastram pelo mundo.

“No período de construção desta bienal, observamos a aceleração do processo de desumanização, com as dificuldades que as pessoas estão passando em lugares como a Faixa de Gaza e Mariupol”, diz Ndikung, que liderou a equipe curatorial formada por Alya Sebti, Anna Roberta Goetz, Thiago de Paula Souza e Keyna Eleison.

“É nesse contexto marcado por tragédias, com precariedade econômica e social, que criamos esta Bienal”, afirmou ele nesta quinta, durante entrevista coletiva.

Intitulada “Nem Todo Viandante Anda Estradas – Da Humanidade como Prática”, a mostra pretende imaginar novas formas de humanidade, pautadas no encontro e no diálogo entre diferentes grupos sociais e culturais.

Para isso, a equipe curatorial pensou a mostra como um livro, dividido em seis capítulos. Cada um deles conta uma história diferente por meio das obras.

O primeiro capítulo, por exemplo, fala sobre a terra e a potência natural que sustenta a vida. Por isso, nessa seção, há o predomínio de trabalhos que usam terra, raízes e pedras como matéria-prima.

Os outros cinco capítulos abordam temas como resistência à violência, fluxos migratórios, práticas naturais de cura, a inevitabilidade da transformação e a importância política da beleza.

Ao todo, 125 artistas apresentam trabalhos. Desse total, 28% são africanos, 25% são sul-americanos e 16% são asiáticos, grupo que está empatado com os europeus em termos de representação.

A prevalência de artistas de países emergentes dialoga com um movimento mais amplo. Nos últimos anos, museus, galerias e exposições ao redor do mundo têm feito esforços em direção ao aumento da diversidade racial, sexual e geográfica. Foi o que aconteceu, por exemplo, na edição de 2023 da Bienal, quando o evento foi composto, majoritariamente, por artistas não brancos.

Uma novidade é que a mostra terá quatro semanas a mais de duração. Ela começa neste sábado e termina no dia 11 de janeiro de 2026. Dessa forma, a organização espera atrair um número maior de pessoas, já que a mostra estará em cartaz durante as férias escolares.

“Expor crianças e adolescentes à arte permite a elas novas maneiras de enxergar o mundo”, disse Andrea Pinheiro, presidente da Fundação Bienal de São Paulo.

Pinheiro afirmou ainda que a exposição começou a ganhar forma há cerca de dois anos, quando ela criou um comitê para selecionar uma proposta curatorial que refletisse os desafios contemporâneos.

“O resultado disso foi a escolha de Bonaventure. Esse projeto, tanto por sua força quanto por sua poética, mobiliza assuntos de extrema importância que enfrentamos nas atuais crises globais. Ele reafirma a Bienal como espaço de reflexão em torno das questões urgentes do nosso tempo.”

Um desses assuntos urgentes é a crise climática e a natureza, temas que estão presentes nas obras, mas também na arquitetura da mostra. Assinado por Gisele de Paula e Tiago Guimarães, o espaço expositivo traz cortinas que levam a sinuosidade dos cursos d’água ao pavilhão desenhado por Oscar Niemeyer no parque Ibirapuera, onde a exposição acontece.

Além do pavilhão, a Bienal terá trabalhos também na Casa do Povo, na região central de São Paulo. “A gente convidou essa instituição para operar e desenvolver um programa de performance e reimaginar o teatro”, disse Anna Roberta Goetz, cocuradora da mostra.

“Esse programa mergulha na ideia do teatro e na energia subversiva do cabaré”, diz ela, acrescentando que as atividades na Casa do Povo começarão com uma performance do coreógrafo Marcelo Evelin.

Também integrante da equipe curatorial, Keyna Eleison afirmou durante a coletiva que esta bienal nasceu a partir do diálogo com múltiplos agentes.

“Antes de a exposição tomar forma, foi preciso ativar a escuta. Essa edição nasce do desejo de ouvir o que pulsa para além dos muros das instituições e dos formatos já conhecidos. Foi assim que fizemos juntos o “Invocações”, diz ela, em referência à série de encontros artísticos que antecedeu a Bienal em lugares como Tóquio, Guadalupe, Marrakech e Zanzibar.

“‘Invocações’ não são eventos isolados, mas parte fundamental da tessitura da bienal. Elas conjugam a humanidade em múltiplos tempos e em múltiplas línguas. Não ilustram o conceito curatorial da exposição, e sim ajudam a construi-lo.”

36ª BIENAL DE SÃO PAULO

– Quando De 06/09 a 11/01. Terça, quarta, quinta, sexta e domingo, das 10h às 18h; sábado das 10h às 19h.

– Onde Fundação Bienal – av. Pedro Álvares Cabral, s.n. Parque Ibirapuera, Portão 3, São Paulo

– Preço Grátis.

– Classificação Livre.