SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar ronda a estabilidade nesta quinta-feira (4) com os investidores repercutindo dados econômicos dos EUA que mostram um mercado de trabalho mais fraco do que o projetado —o que reforça as apostas de cortes de juros pelo Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos).

Às 10h30, a moeda norte-americana descia 0,02%, cotada a R$ 5,452. No mesmo horário, a Bolsa subia 0,29%, a 140.280 pontos, recuperando as perdas da véspera.

Dados divulgados nesta quinta mostram que a criação de vagas de trabalho no setor privado dos Estados Unidos ficou abaixo do esperado em agosto.

Foram abertos 54 mil postos de trabalho no setor no mês passado, ante 106 mil em julho, mostrou o Relatório Nacional de Emprego da ADP.

Economistas consultados pela Reuters previam abertura de 65 mil empregos.

Além disso, segundo o Departamento do Trabalho dos EUA, novos pedidos de auxílio-desemprego aumentaram 8.000, mais do que o esperado, na última semana, totalizando 237 mil.

Economistas consultados pela Reuters previam 230 mil pedidos de auxílio desemprego na semana encerrada em 30 de agosto.

Para Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, os dados reforçam um desempenho mais fraco do mercado de trabalho americano

“A ideia realmente é que o mercado de trabalho americano está desacelerando, pouco a pouco. Isso ajuda a consolidar as apostas por um corte de juros pelo Federal Reserve, na decisão de setembro”, afirma.

Segundo Rodrigo Moliterno, head de renda varável da Veedha Investimentos, por outro lado, o mercado ainda permanece atento a divulgação de novos dados econômicos dos EUA.

O payroll de agosto, relatório que mede a criação de vagas e a taxa de desemprego e que é utilizado pelo Fed em sua política monetária, será divulgado nesta sexta (5).

No mês passado, o chair do Fed, Jerome Powell, sinalizou um possível corte na taxa de juros na reunião do banco central dos EUA em 16 e 17 de setembro, reconhecendo os riscos ao mercado de trabalho, mas defendendo o cuidado também com a inflação.

Analistas também monitoraram as incertezas da política comercial de Trump e a ofensiva do republicano ao Fed.

Na última sexta-feira (29), um tribunal dos Estados Unidos decidiu que as tarifas recíprocas de Trump são ilegais. O tribunal também determinou que as tarifas podem permanecer em vigor até 14 de outubro para permitir recursos à Suprema Corte americana.

Trump, na noite da última terça, cobrou uma decisão rápida sobre as tarifas da Suprema Corte. “É uma decisão muito importante e, francamente, se eles tomarem a decisão errada, será uma devastação para o nosso país”, afirmou.

Enquanto isso, o presidente americano mantém sua pressão a autonomia do Federal Reserve, em busca de um maior controle sobre o banco central.

Trump anunciou a demissão da diretora do Fed Lisa Cook na última semana. Após dizer que o republicano não tinha autoridade para demiti-la, a diretora entrou com uma ação judicial contra Trump.

Quase 600 economistas assinaram uma carta aberta em defesa de Cook nesta terça, afirmando que a remoção de membros do conselho do Fed exige critérios rigorosos.

Acredita-se que a ação judicial movida por Cook seja o primeiro passo de uma longa batalha que deve ser resolvida pela Suprema Corte americana.

No cenário doméstico, as tensões comerciais entre Brasil e EUA continuam no radar. Quando Trump anunciou a tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros em julho, ele vinculou a decisão, entre outros pontos, a uma suposta “caça às bruxas” que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) seria vítima.

A primeira semana do julgamento do ex-presidente foi marcada pela leitura do relatório do caso, pela acusação da PGR (Procuradoria Geral da República) e pela defesa dos reús.

A sessão será retomada na próxima terça (9) com os votos dos ministros do STF.

Ministros do STF dizem esperar uma escalada de ataques de Donald Trump contra eles por causa do julgamento. Vistos de sete magistrados para os EUA já foram suspensos.

Bancos brasileiros receberam na terça (2) uma carta do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos com questionamentos sobre a aplicação da Lei Magnitsky sobre o ministro Alexandre de Moraes.

As instituições notificadas, segundo pessoas a par do tema, foram: Itaú Unibanco, Santander, Bradesco, Banco do Brasil e BTG Pactual.

“O receio é de que uma eventual condenação sirva de justificativa para novas retaliações de Trump contra o Brasil, incluindo possíveis sanções adicionais ao Banco do Brasil e restrições comerciais, em meio ao já vigente tarifaço de 50%”, disse João Duarte, especialista em câmbio da One Investimentos.

Na quarta-feira (3), a divisa fechou em queda de 0,39%, cotada a R$ 5,453, com os investidores atentos ao segundo dia de julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo envolvimento na trama golpista e a dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos.

Assim como na véspera, o desempenho do dólar acompanhou o exterior. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda norte-americana frente as mais importantes divisas do mundo, retraiu 0,22%, a 98.176 nesta quarta.

A Bolsa caiu 0,33%, a 139.863 pontos, reforçando o câmbio. A baixa foi impulsionada pela queda de 1,06% das ações ordinárias da Petrobras, após notícia de que a Opep considera aumentar produção de petróleo.

A queda, entretanto, foi rebatida pela valorização dos papéis da Cosan e Raízen, que subiram até 8% no fim do pregão.