RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – A seleção brasileira volta ao Maracanã nesta quinta-feira (4). Mas um efeito colateral da briga no jogo anterior, entre Brasil e Argentina, é o processo que três torcedores argentinos movem contra a CBF e o governo do Rio.
O pedido de compensação financeira por causa das agressões gerou até um jogo de empurra entre a entidade e o Estado, segundo as peças da ação a qual a reportagem teve acesso.
Diego Cataldi, Ezequiel Martínez e Javier Pernisco estiveram entre os feridos pela PM no setor Sul das arquibancadas do Maracanã. Vale lembrar que não houve separação entre torcedores brasileiros e argentinos naquela partida.
Apresentando laudos médicos e imagens resultantes das pancadas que levaram, cobram indenização por danos morais de pelo menos R$ 45 mil (30 salários mínimos).
O QUE OS ARGENTINOS RECLAMAM
Os três torcedores são amigos e vieram ao Rio para aquele jogo em 2023, que terminou com a vitória argentina por 1 a 0, mas muitas cicatrizes e escoriações.
As advogadas dos argentinos são as brasileiras Laura Miranda e Maria Cristina Aiub. Elas alegaram na petição inicial que eles “foram surpreendidos com arremesso de objetos e cadeiras em suas direções”.
Os argentinos argumentam que a polícia apareceu de forma “extremamente agressiva” e deu vários golpes nos torcedores argentinos, que alegam não estarem revidando qualquer agressão inicial.
Resultado? Ezequiel Martínez teve o braço quebrado. Foi retirado pela PM e saiu de ambulância para o hospital.
Diego Cataldi teve várias marcas pelo rosto e outras partes do corpo.
Javier, por sua vez, aparece em uma foto sendo atingido por policiais enquanto estava caído de costas sobre os assentos do estádio. As advogadas mencionaram que eles estava “rendido e sem possibilidade de praticar autodefesa”. Saiu com várias manchas roxas nas costas.
QUAL A POSIÇÃO DO ESTADO
A Procuradoria Geral do Estado se manifestou no processo e disse que o governo não pode ser condenado. E aí vem o jogo de empurra.
Por que? “O responsável pela segurança do torcedor em evento esportivo é da organização esportiva responsável pelo evento e seus dirigentes”, disse um trecho da posição do órgão, jogando a responsabilidade para a CBF e até para a Fifa.
O governo do Rio apontou que houve venda de ingressos de forma mista (para argentinos e brasileiros), “desconsiderando, por completo, o histórico de intensa rivalidade entre tais torcedores, episódios reiterados e recorrentes de violência entre as referidas torcidas”.
A Procuradoria do Estado ainda diz que a CBF agiu de forma “irresponsável e imprudente”. Na mesma peça, ainda disse que as promotoras do evento agiram com “incompetência”.
Para a Procuradoria do Estado, o envolvimento do governo se deu de forma “meramente acessória e de apoio”, com o efetivo para fins de “preservação da ordem pública, cabendo-lhe apenas mitigar, na medida do possível, as consequências previsíveis desse bisonho erro de planejamento”.
Tecnicamente, o governo ainda diz que os argentinos não registraram boletim de ocorrência no estádio para provar que sofreram agressões. A defesa, no entanto, juntou fotos e vídeos.
A REAÇÃO DA CBF
A CBF, então, passou mais a se defender do que o Estado disse no processo do que necessariamente tentar derrubar a versão dos argentinos sobre o ataque da polícia.
Como ponto de partida, a CBF alega que todos os fatos narrados pelos argentinos foram causados pela Polícia Militar.
A entidade argumentou que a legislação não obriga separação de torcedores visitantes e mandantes, apontando que a Copa América, por exemplo, teve torcida mista.
A CBF ainda pontuou que representantes da PM participaram da reunião na Ferj que aprovou o plano de ação e de segurança para o jogo.
Mais de 800 policiais militares estiveram em ação na partida, além de 801 seguranças privados.
A CBF bate na tecla que toda documentação apresentada pelo Estado aponta para a ausência de responsabilidade da entidade pelo episódio.
A CBF usa uma das imagens levadas ao processo pelas advogadas dos argentinos para apontar que a atuação da PM “foi muito além dos parâmetros da razoabilidade e da proporcionalidade”.
“Em nenhum cenário a CBF pode ser responsabilizada pela atuação abusiva e desproporcional da Polícia Militar”, disseram os advogados em uma das petições.
A CBF ainda defendeu que os agentes de segurança privada não tiveram envolvidos em atos de violência.
E AGORA?
As advogadas dos argentinos pegam elementos dos dois lados acusados para reforçar a necessidade de indenização no caso. Agora, os Hermanos aguardam uma resposta da Justiça do Rio.